AGENDA CULTURAL

23.2.11

ARAÇATUBA – REMINISCÊNCIAS DE UM PASSADO

               Existe uma música , cujo refrão “Recordar é Viver” e é isto que vamos fazer ao desenvolver este texto , que registra um período de muita vibração na vida de Araçatuba e minha também, pois fui crescendo junto com ela e , nas décadas de 1950, 1960 e 1970 era sempre lembrada como a cidade do asfalto, porque se destacava entre as demais nesse sentido
Um trecho da rua Oswaldo Cruz relatada pelo texto
               Vou focalizar a região central da época, Rua Oswaldo Cruz, pois o movimento mais intenso se desenvolvia nessa região, em razão de bares, restaurantes, cinema e, muita coisa mais que alegrava aos que lá se dirigiam principalmente no período noturno.
                Já que falamos do cine Bandeirantes, vale lembrar  que , embora tivessem outros, este era o mais freqüentado pela localizalização. A rede pertencia a Emilio Pedutti e os de Araçatuba eram administrados pelo Sr. Mitidiero que, algumas veze me desafogou na troca de algum cheque para viagem de última hora. Naquele tempo não havia auto-atendimento bancário.  Em cima do cinema localizava a Radio Cultura, única da cidade e pertencia ao sr. Nicola Fares. Seu irmão Farid gerenciava o movimento. Foi lá que tive a oportunidade de presenciar Cascatinha e Inhana, dupla famosa, em carrão bonito da época. Na rádio Cultura, que me lembro atuavam Pedro Artioli e Clovis Correia. Ele tinha deficiência em uma das pernas.  Sua voz era inconfundível e apreciada, À noite ele fazia o programa “Sentimento Gaúcho”
               Em frente ao cinema se localizava o prédio do Sr.Etore Protti e lá reunia sua prole, no alto, apreciando o movimento.   Em baixo, dois salões. Um se localizava o Banco Popular do Brasil e no outro a Casa Canta Galo, que vendia artigos de montaria, fabricação própria da família  Protti. Gerson, Helio e Nego administravam. Pelo lado esquerdo havia a Casa Dois Martelos de C. P. Mello e na seqüência a Farmácia do Foratto.  Na esquina o Foto Ritz, de Tcakiguti Tuioci, cujos cheques que preenchia eram obra de arte, com pena 12.  Dava gosto ver. Mais ao lado o Bar Marajoara de Otavio Montebeles e Irmão, ambos uma simpatia, que se tornava difícil não frequentá-lo. Na sequência vinha o Grande Hotel de João Rocha Filho, sempre com vestimenta impecável, terno e gravata.  Ele e seu irmão Dr Plácido Rocha eram pessoas de grande destaque na cidade e região, porque Dr. Plácido era deputado de grande projeção.  Onde eles chegavam era uma festa..  Na esquina do jardim a Agencia Chevrolet, cujo gerente era o sr. Bertasi.  Tinha uma filha que era uma simpatia e eu muito admirava.  A Sonia Maria. Depois de algum tempo retornaram para São Carlos e nunca mais soube deles.
                 No jardim, frente para a Oswaldo Cruz, havia alto-falantes da radio cultura que transmitia noticias importantes e o destaque era a Ave Maria, feita pelo Monsenhor Vitor Ribeiro Mazzei, às seis horas da tarde. Muito apreciada por todos. Paravam para ouvi-lo.
                 Pelo lado direito da Casa Canta Galo havia o bar do Quirino Duarte, local indispensável para um café, um lanche, etc. principalmente na saída do cinema, ultima sessão, 11 horas.  A primeira começava as 7,00 horas.
                 Depois do Quirino vinha o salão do compadre, João Bertani, que chamava a todos por compadre. Este era o seu bordão.  A barbearia estava sempre lotada.  Naquele tempo os homens tinham o habito de cortar barba em salão, pois não havia os aparelhos modernos e práticos de hoje.
                Vinha a seguir a Casa Marques, gêneros alimentícios de toda espécie, etc. Depois vinha a Livraria Xavier do Sr. Jorge.  Era um ponto de cultura, com jornais, livros variados, etc. Ele tinha acima de uma porta interna um grande quadro do Presidente Getulio Vargas, pois ele fazia parte do Comitê e, quando o Getulio faleceu a 24.08.1954, fizeram uma câmara ardente com velas à rua Bandeirantes, antes da linha férrea, onde se reuniram todos os getulistas da época, que não eram poucos.
                  Vinha depois a sorveteria Roter.  Era ponto social. Suas filhas simpáticas e bonitas atendiam a todos com muita lhaneza.
                   Vinha a Ótica e Relojoaria Storti de Pedro e Jair Storti, sempre atenciosos com todos. Fiz lá alguns óculos para mim.
                    Pelo lado direito do cinema havia uma charutaria e depois o restaurante e bar Delicia, ponto chique, de Jose Filadelfo Machado Filho. Ponto de encontro social.  Estive lá algumas vezes em comemoração.,. Do lado do Delicia havia a camisaria do João, com quem eu tinha amizade e lá comprei camisas, Era boa gente e confiável.
                     Vinha a seguir o Café do Centro, quase frente ao jardim, outro ambiente noturno de muita freqüência.  Certa ocasião, ao fim da sessão das 11 no cinema, passando por lá, ouvi a voz de um tenor extraordinário. Parei para ouvi-lo na musica italiana e fiquei sabendo que se tratava de um cantor da orquestra do Pedrinho de Guararapes.  Seu nome Francisco Amicci, que o conheci depois que passei a morar em Guararapes.  Vinha a Joalheria Rubi e depois o Bazar Saito, na esquina da Joaquim Nabuco.
                      Essa viagem pelo tempo, traz para mim boas recordações de um período de grande progresso para Araçatuba.  A população da época girava em torno de setenta mil habitantes.   Agora tudo mudou.  A rua Oswaldo Cruz não tem aquele “glamour” do passado. Tive oportunidade de ver aquela rua num sábado à noite e não há diferença com as demais.  Aquela iluminação intensa deixou de existir.  Os tempos mudaram e as pessoas também. Dispersaram e cada um na sua, mas aquela rua com movimento ou sem mora em meu coração e esta difícil esquecer tanto brilho, alegria, mocidade, garotas, festas e carnavais que rolaram naquela época.

                   JOAO PINELLI
                   BAURU-JANEIRO DE 2011

3 comentários:

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

Naquele tempo, fim da sessão das onze....será?
Mas eu vivi a Araçatuba descrita.Ele só nao citou a mania de tomar Antártica ,do casco verde, no Delícia.

Unknown disse...

Boa tarde! Alguém por acaso teria uma foto do bar Marajoara? Ele era do meu avô "Pepino Bichilia" por volta de 1944 e em 1946 foi do meu tio Henrique Espósito. Muitos dos meus parentes, tios e primos foram criados em Araçatuba "família Espósito", alguns ainda moram. Grata, abraço, Laura - meu email: laura.bechilia@terra.com.br

BiriguiAlterego disse...

Dr. Atrasildo chegou, doutor com todo mérito, pois, cursei a Faculdade de Ciências Ocultas e Letras Apagadas. Indo ao comentário propriamente: googlava à procura de algo a respeito de Pedro Artioli, que foi meu colega e grande amigo dos tempos de Faculdade de Direita. Dei de cara com essa postagem no blog do Consolaro, apenas essa referência, além de uma também sucinta de Jorge Napoleão Xavier - Napo, na Folha da Região. Pena, sei que Pedro Artioli merecia ter sido lembrado denominando uma rua de Araçatuba, cidade que ele tantou amou. Levem este comentário à conta de um desabafo de alguém que já passou dos trinta, só quarenta e oito a mais, é verdade. Pessoas assim se tornam saudosistas com a maior facilidade, ora vejam!

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