Hélio Consolaro*
Nossa cidade foi construída por antepassados e chegou ao que é hoje. A nova geração vai assumi-la e herdar problemas. Assim ocorreu noutros tempos e acontece em todas as cidades, em todos os países, para ser mais micro, em nossas famílias. É a corrida do bastão.
Minha família devia ser assim, assado. Não, a sua família é assim, assuma a realidade primeiro para depois querer fazer alguma coisa. Tente melhorá-la. E melhorar não é jogar pedras e nem boquejar, é fazer a sua parte. Na hora oportuna, aponte erros, mas com moderação.
Quem está dizendo isso é um sujeito que na juventude tinha raiva de sua cidade, encontramos muita gente hoje com a mesma postura. Às vezes, somos incompetentes, temos raiva de nós mesmos e para nos aliviar, arrumamos um culpado, no caso, a cidade.
Nossa civilização judaico-cristã trabalha com a dicotomia ideal-real, porque fomos contaminados pelo filósofo Platão. “Ideal” é um modelo que temos na cabeça. E queremos que o “real” se encaixe nele. Como a realidade tem uma dinâmica própria, não se submete nunca, ficamos frustrados.
O romântico é um sujeito frustrado por natureza. Quer um príncipe encantado como companheiro ou a cinderela como esposa. E o príncipe encantado e a cinderela não existem. Às vezes, idealiza-se o outro, espera do parceiro ou da parceira virtudes que ele ou ela não tiveram. Então, caro leitor, levante as mãos para o céu e agradeça o feioso ou a feiosa que está ao seu lado, suportortando-o diutiurnamente.
Esse jogo de real-ideal pode ser transportado para a cidadania. Cidadania não é exigir a construção de uma cidade ideal, por isso acha sempre que a oposição será a construtora deste modelo. E quando se está fora do governo é fácil cair nessa armadilha.
Cidadania não é apenas exigir bom comportamento das autoridades é também ter bom comportamento como um cidadão anônimo. Às vezes, a dengue não acaba e as enchentes são mais frequentes porque as pessoas não exercem a cidadania construtiva: jogam lixo em qualquer lugar, faz dos córregos depósito de descarte doméstico e saem aos berros, malcriadas, apontando o outro como culpado.
Administre sua vida a partir do que ela é hoje, não fique esperando milagres, como ganhar na loteria, quando eu me aposentar. Uma casa não nasce pronta, cada tijolo, cada telha, tudo é posto um a um.
Vou repetir uma história contada por Roberto Shinyashiki no seu livro “Carícias Essenciais”. Numa mercearia, chegou um cliente recém-mudado para aquela cidade. Comprou o seu leite, o seu pão e perguntou:
- Como é esta cidade?
O merceeiro devolveu-lhe a pergunta:
- Como era a cidade onde morava?
O cliente respondeu-lhe:
- Uma porcaria de cidade.
O merceeiro acrescentou:
- Esta cidade é igualzinha àquela de onde veio.
Nisso entrou outro cliente recém-mudado. E fez a mesma pergunta.
- Como é esta cidade?
O marceeiro quis saber como era a cidade de onde veio.
A resposta foi positiva:
- Uma cidade excelente. Me mudei pra cá por que fui transferido pelo banco.
O merceeiro repetiu a resposta:
- Esta cidade é igualzinha àquela de onde veio.
Pense nisso, caro leitor. Quem faz o lugar é o morador dele. Maus sentimentos não constroem nada positivo. A nossa cidade é o nosso lugar. Critique as autoridades com moderação, principalmente se já a tenha governado, mas não fale mal do lugar onde mora, não cuspa no prato onde ainda está comendo.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras e da UBE. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba-SP.
4 comentários:
" O romântico é um sujeito frustrado por natureza"
" Ser romântico , acima de tudo, é ter gratidão.É sonhar com dias melhores. É lutar para que eles aconteçam"
"...buscam uma maravilhosa leveza, mesmo tendo consciência dos seus sofrimentos..."
Qual a razão do seu conceito sobre os românticos?
Onde foi que a roda "pegou"?
Que juizo o Sr. Consolaro faria do mesmo texto se fosse publicado em períodos de outras administrações.
Não as defendo, penso que todas cometeram erros gravíssimos,as novas administrações tem por obrigação corrigir os erros dos prefeitos anteriores e não comete-los novamente pois o tempo serve para que se tire boas lições.
É obrigação das cidades e seus moradores melhorar sempre!
O jhmiltonbrito é um menino, ainda não se conhece, por isso não entende os outros, acha que todo mundo deve ser romântico. Daqui a pouca vai querer romantismo entre os animais.
ROMANTISMO é cultural, aprendemos. O homossexualismo também. Mas há quem diga que ambos fazem parte da química do corpo. São posições diferentes. Ainda bem que na democracia existe a pluralidade.
A ciência, que tanto jhmiltonbrito defende, tem explicação melhor.
Já perdi muito tempo. O Fricote não merece tanto. kkkkkkkkkk
Ao anônimo
Este texto não foi feito pensando em Araçatuba, aliás, a cidade não é citada, pois escrevo semanalmente em jornais de outras cidades.
Por outro lado, não sou escravo da coerência. Sou uma metamorfose ambulante. Mudo muito. Para pior e para melhor, e gosto disso.
Sem deboche, mas há certos momentos em que o palavrão sintetiza melhor as coisas: "estou cagando e andando para a coerência". Não cobro isso também dos outros.
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