AGENDA CULTURAL

10.2.11

Minha cidade é excelente

Hélio Consolaro*

Nossa cidade foi construída por  antepassados e chegou ao que é  hoje. A nova geração  vai assumi-la e herdar problemas. Assim ocorreu noutros  tempos e acontece em todas as  cidades, em todos  os países, para ser mais micro, em nossas famílias. É  a corrida  do  bastão.

Minha família devia  ser assim, assado. Não, a sua  família é assim,  assuma  a realidade primeiro para depois  querer  fazer  alguma coisa. Tente melhorá-la. E melhorar não é jogar pedras e nem boquejar, é fazer a sua parte. Na hora oportuna,  aponte  erros, mas com moderação.

Quem está dizendo isso é um sujeito que na juventude tinha raiva de sua cidade, encontramos muita gente hoje  com a mesma postura. Às vezes, somos incompetentes, temos  raiva de nós  mesmos  e para nos aliviar, arrumamos um culpado, no caso, a cidade.

Nossa  civilização  judaico-cristã trabalha com  a  dicotomia ideal-real, porque fomos  contaminados pelo filósofo Platão. “Ideal” é um modelo que temos na cabeça. E queremos  que o “real” se encaixe nele. Como a realidade  tem uma dinâmica própria,  não se submete nunca, ficamos frustrados.

O romântico é um sujeito frustrado por natureza. Quer um príncipe encantado como companheiro ou a cinderela como esposa. E o príncipe encantado e a cinderela não existem. Às vezes, idealiza-se o outro,  espera do parceiro  ou da parceira virtudes  que  ele ou ela não tiveram. Então, caro leitor,  levante as  mãos para o  céu e agradeça o feioso ou a feiosa  que está ao seu lado, suportortando-o diutiurnamente.

Esse jogo  de real-ideal pode ser  transportado para a cidadania. Cidadania não é exigir a construção de uma cidade ideal, por isso acha sempre que a oposição será a  construtora deste modelo. E quando se está fora do governo é fácil cair nessa armadilha.

Cidadania não é apenas exigir bom comportamento das autoridades é também ter bom comportamento como um cidadão anônimo. Às vezes, a dengue não acaba e as enchentes são mais  frequentes porque  as pessoas não exercem a cidadania  construtiva:  jogam lixo  em  qualquer lugar,  faz dos córregos  depósito de  descarte doméstico e saem aos  berros, malcriadas, apontando o outro como culpado.    

Administre sua vida a partir do  que ela é hoje, não fique esperando milagres, como  ganhar na loteria, quando eu me aposentar. Uma casa não nasce pronta, cada tijolo, cada telha, tudo é  posto um  a  um.

Vou repetir uma história contada por Roberto Shinyashiki no seu livro “Carícias Essenciais”. Numa mercearia, chegou um cliente recém-mudado para  aquela cidade. Comprou o seu leite, o seu pão e perguntou:

- Como é  esta cidade?

O merceeiro devolveu-lhe a pergunta:
- Como era a cidade onde morava?

O cliente respondeu-lhe:

- Uma porcaria de cidade.

O merceeiro acrescentou:

-  Esta cidade é igualzinha àquela de onde veio.

Nisso  entrou outro cliente recém-mudado. E fez a mesma  pergunta.

- Como é  esta  cidade?

O marceeiro  quis saber  como era  a cidade de onde  veio.
A  resposta foi positiva:

- Uma cidade excelente. Me mudei pra cá  por que fui transferido pelo banco.

O  merceeiro repetiu a  resposta:

-  Esta cidade é igualzinha àquela de onde veio.       

Pense nisso, caro leitor. Quem faz o lugar é o morador dele. Maus sentimentos não constroem nada positivo. A nossa cidade é o nosso lugar. Critique as autoridades com moderação,  principalmente  se já a tenha governado, mas não fale mal do lugar onde mora, não cuspa no prato onde  ainda está  comendo.  

*Hélio Consolaro é  professor, jornalista, escritor. Membro da Academia Araçatubense de Letras e da UBE. Atualmente é secretário da Cultura de Araçatuba-SP. 

4 comentários:

jhamiltonbrito.blogspot.com disse...

" O romântico é um sujeito frustrado por natureza"

" Ser romântico , acima de tudo, é ter gratidão.É sonhar com dias melhores. É lutar para que eles aconteçam"

"...buscam uma maravilhosa leveza, mesmo tendo consciência dos seus sofrimentos..."

Qual a razão do seu conceito sobre os românticos?
Onde foi que a roda "pegou"?

Anônimo disse...

Que juizo o Sr. Consolaro faria do mesmo texto se fosse publicado em períodos de outras administrações.
Não as defendo, penso que todas cometeram erros gravíssimos,as novas administrações tem por obrigação corrigir os erros dos prefeitos anteriores e não comete-los novamente pois o tempo serve para que se tire boas lições.
É obrigação das cidades e seus moradores melhorar sempre!

Hélio Consolaro disse...

O jhmiltonbrito é um menino, ainda não se conhece, por isso não entende os outros, acha que todo mundo deve ser romântico. Daqui a pouca vai querer romantismo entre os animais.

ROMANTISMO é cultural, aprendemos. O homossexualismo também. Mas há quem diga que ambos fazem parte da química do corpo. São posições diferentes. Ainda bem que na democracia existe a pluralidade.

A ciência, que tanto jhmiltonbrito defende, tem explicação melhor.

Já perdi muito tempo. O Fricote não merece tanto. kkkkkkkkkk

Hélio Consolaro disse...

Ao anônimo
Este texto não foi feito pensando em Araçatuba, aliás, a cidade não é citada, pois escrevo semanalmente em jornais de outras cidades.

Por outro lado, não sou escravo da coerência. Sou uma metamorfose ambulante. Mudo muito. Para pior e para melhor, e gosto disso.

Sem deboche, mas há certos momentos em que o palavrão sintetiza melhor as coisas: "estou cagando e andando para a coerência". Não cobro isso também dos outros.