AGENDA CULTURAL

13.3.11

Em busca de um chavão: recordar é viver


Capela São Benedito - bairro Santana - Araçatuba-SP

Hélio Consolaro*

A escritora e jornalista Célia Villela escreveu uma de suas crônicas sobre sua viagem ao Líbano na Folha da Região de 8 de março de 2010 com o título “Encontro com minhas raízes”, em que relata suas emoções ao deparar com a pequena cidade de Rachaya El Wadi, onde nasceram seus pais, e com sentimentos mais fortes quando viu a então casa de sua mãe.

Lógico que Europa não tem a ideologia desenvolvimentista das Américas, por isso é mais preservacionista em termos de história. Por aqui, as construções que não atendem ao design da modernidade são chamadas logo de moquiço.

Aproveito as emoções da cronista Célia Villela para discutir a questão da preservação de nossa memória. Um dos elementos desse cultivo memorial são as construções, com presença física ostensiva.

A casa, aquela configuração material estabeleceu com a Celinha uma entropia. Se a construção não estivesse ainda de pé, com certeza, a ligação forte não teria ocorrido.

Os prédios no decorrer dos anos são demolidos, construindo-se sob a égide da nova arquitetura ou se renovando apenas internamente. Deve-se evitar a devastação histórica, de prédios significativos à população da cidade.  
Não estou aqui defendendo que as cidades não podem se modernizar, o embalsamento das cidades, que nada pode ser mudado, que todas elas se transformem numa Ouro Preto-MG.

Exemplo: passo sempre na esquina das ruas Luiz de Almeida e Paes Leme, no bairro Santana, em Araçatuba.  Busco as raízes, mas me frustro porque a Capela São Benedito foi demolida, porque nela tive as aulas de catecismo, fiz a Primeira Comunhão e vivi as traquinagens de minha pré-adolescência.

Assim ocorre também com o templo “Igreja Matriz”, na praça Rui Barbosa, outro prédio furiosamente demolido. Quantas pessoas deixam de se encontrar com a cidade porque os lugares mais significativos de sua existência foram demolidos. Assim ocorreu com a antiga sede da Associação Comercial, com o prédio da Escola de Comércio D. Pedro II, etc.  

Isso é saudosismo? Sim. E cultivar o passado, sem morbidez, é uma terapia, é buscar a vida, explicar o presente, faz parte de nossa vida interior. E quando a lembrança é materializada, o diálogo entre presente e futuro é bem maior. O minuto anterior já foi ontem, recordar é buscar a própria identidade. Recordar é viver.

Outro dia, quando estava nos bailes carnavalescos do Esporte Coríntians, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura, comentava com um amigo que antigamente aquele salão era uma monstruosidade para os meus olhos. Hoje, ele é tão pequeno...

Se você, caro leitor, tem um prédio antigo, procure utilizá-lo comercial ou residencialmente, alugá-lo. Incrementar nele todas as modernidades, mas manter a sua aparência antiga, sem deformá-lo. O prédio continua do dono, nem precisa interferência do poder público, apenas se pede que     
suas características externas sejam mantidas. Já estamos com anteprojeto de lei pronto, elaborado pelo Conselho Municipal de Políticas Culturais, para que haja desoneração fiscal em prédios cujas características antigas estejam preservadas. Caso queira informações mais detalhadas, procure-nos na Secretaria Municipal de Cultura.

A Celinha encontrou intacta no Líbano a casa onde nasceu sua mãe, mas muitos araçatubenses em diáspora, quando revisitam Araçatuba, nada encontram que lembre sua passagem por aqui. 

Um comentário:

junior Ferrary disse...

Não podemos nos esquecer da capela de Santo Onofre que só não foi demolida devido a luta de muitas pessoas ,em especial minha mãe Ivana da Cunha Ferrai que lutou e luta muito pela memória dessa capela ,que inclusive é mantida limpa e de pé graças as colaborações de muitos fiéis que a visitam quase diarimente ,porque se não ja estava no chão faz muito tempo principalamente por varios vizinhos e administraçoes municipais passadas ..