Num estádio esportivo, as regras sociais são suspensas. Mulheres xingam. Homens choram. Crianças falam palavrão. Nossa enterrada barbárie emerge – como se a multidão nos permitisse ingressar numa realidade paralela – onde ofensas são relativas – e podemos libertar nosso neanderthal esquecido, nossos instintos mais primitivos.
O código do arquibaldo moderno inclui o direito de xingar – e xingar coletivamente. Nem sempre foi assim. Houve um tempo em que o torcedor nos estádios era um fidalgo. Era irônico e doce – elegante até. Contam os antigos que quando o Brasil derrotou a Espanha na semifinal da Copa de 1950, o Maracanã entoou “Touradas de Madri”… Podemos argumentar que a ironia é mais divertida – e que os mais divertidos gritos provocativos recentes (“Pior ataque do mundo”, “ninguém cala esse chororô”) dispensaram o palavrão. Mas… se a final da próxima Copa fosse hoje e contra a Espanha o que ouviríamos no Mário Filho bilionário e repaginado? Ou melhor, o que gritaríamos?
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