AGENDA CULTURAL

1.5.21

Trabalho e tortura


Hélio Consolaro*

Comemora-se o Dia do Trabalho ou do Trabalhador, conforme a matiz ideológica de quem pronuncia a data. Para a classe trabalhadora militante, Dia do Trabalhador; para o patronato, Dia do Trabalho.

Cada palavra tem a sua carga ideológica. “Operário” é uma palavra antiga,  parece coisa de comunista; trabalhador, de petista; empregado, como em “os meus empregados”, linguagem de patrão. E há patrões que suavizam a relação capital e trabalho chamando seus operários de colaboradores.

Quando os sindicatos eram mais fortes e o marxismo estava mais em moda, no 1.º de Maio eram feitas grandes manifestações operárias, as lutas da classe trabalhadora eram mais expostas. Atualmente, se fazem grandes shows e sorteios.

A palavra “trabalho” vem do latim, de “tripalium”, que significa instrumento de tortura. A origem dela revela como era visto o trabalho em épocas passadas. Existe até a história que a partir do pecado, Adão e Eva passaram a trabalhar para sobreviverem, viveram com o suor do rosto. Trabalho era visto como castigo.

No feudalismo (monarquia), o trabalho era ocupação de escravos, prisioneiros de guerra. Os nobres curtiam o ócio ou se ocupavam com as guerras, para ter mais escravos. Agir com as mãos era indigno, sujar a roupa com o trabalho era coisa da ralé. Até a incipiente medicina sofria com isso, pois o cirurgião era desvalorizado porque a exercia por meio das mãos.

Ainda há um resquício entre nós dessa visão: a valorização do doutor, do engravatado. O mecânico ganha mais que o professor, mas suja a roupa com seu trabalho. O magistério não é prestigiado economicamente, mas é mais destacado na sociedade do que o mecânico por ser um trabalho limpo.  

Com o advento do capitalismo, sob a visão do protestantismo, mudou-se o enfoque do trabalho. A grande frase surgiu: “O trabalho dignifica o homem”. Assim, até o patrão trabalha, administrando sua empresa, sua fábrica. É uma função diferenciada, mas tem um papel em seu empreendimento. A pessoa trabalhadora passou a ser valorizada, nem tanto, mas já não era uma escrava.

Há entre nós o uso do adjetivo “trabalhadeira”, de uso mais popular, que seria o feminino do adjetivo “trabalhador”: homem trabalhador / mulher trabalhadeira.
Substantivos: trabalhador / trabalhadora.

Verificar a origem de cada palavra se chama etimologia, é descobrir um pouco de nossa história. Analisar o contexto significativo da palavra é semântica, conhecê-la evita constrangimentos.  


Um comentário:

Edson disse...

Muito bom professor