AGENDA CULTURAL

24.4.11

“Uma feira de livros é como um bosque encantado” sustenta Vargas Llosa


por Ariel Palacios - ESTADÃO
23.abril.2011 19:23:18
“Os livros representam a diversidade humana, a condição de que podem participar nela sem discriminação, cortes, sem censura. Os livros de uma Feira do Livro são, em pequeno formato, a Humanidade vivente, com o melhor e o pior que ela possui”, disse Vargas Llosa durante sua conferência na Feira do Livro de Buenos Aires.
“Ler nos faz livres. Mas, claro, é preciso que exista a condição de que possamos escolher os livros que queremos ler”. Estas palavras foram o leitmotiv de “A liberdade e os livros”, a aula magistral que o escritor e prêmio Nobel da Literatura Mario Vargas Llosa proferiu na noite da quinta-feira na Feira do Livro de Buenos Aires. “Os livros despertaram a desconfiança, o receio e o temor dos inimigos da liberdade, daqueles que acreditam que são os donos das verdades absolutas, de todos os dogmáticos e fanáticos que semearam de ódio e violência ziguezagueante no curso da civilização”, disse o Nobel, enquanto o público o aplaudia como se fosse um rock star.



“Sofremos muito por causa das verdades absolutas”, disse o escritor, que recordou que nos tempos da Inquisição “aqueles que emitiam opiniões diferentes eram queimados”, sustentou.
Segundo ele, “os inquisidores do passado foram substituídos na vida moderna por comissários políticos”. Vargas Llosa, que foi censurado pela ditadura militar argentina (1976-83) e é criticado pelo governo do presidente cubano Raúl Castro, afirmou que todos os regimes autoritários são negativos.
“Eu combato todas as ditaduras, sejam as de esquerda do proletariado ou as de direita de Cristo-rei. Todas, definitivamente todas trazem retrocessos a seus povos”, disse o Nobel, cuja conferência foi interrompida diversas vezes por intensos aplausos por parte do público, que também riu com os gracejos irônicos do escritor.
Nas semanas prévias a seu desembarque em Buenos Aires Vargas Llosa tornou-se o foco de polêmica quando um grupo de intelectuais aliados do governo da presidente Cristina Kirchner expressaram repúdio e mobilizaram-se para tentar impedir que Vargas Llosa desse a conferência na Feira do Livro. O grupo, comandado pelo diretor da Biblioteca Nacional, Horácio González, junto com o filósofo José Pablo Feinman, argumentou que Vargas Llosa não deveria falar na Feira realizada na Argentina porque o Nobel realizava frequentes críticas contra o governo Kirchner, além de ser um “defensor do neoliberalismo”. O grupo sugeria que as críticas aos políticos do governo Kirchner implicavam um ataque direto à “cultura” e “sociedade” argentina.
No entanto, perante a forte repercussão internacional, a presidente Cristina tentou moderar seus próprios aliados e expressou que não respaldava o abaixoassinado. Nesta quinta-feira, na conferência, Vargas Llosa agradeceu a intervenção da presidente e disse que esperava que sua postura “contagiasse seus partidários”.
Nas horas prévias à conferência, o autor de “A guerra do fim do mundo” e “Tia Júlia e o escrevinhador” havia disparado uma série de críticas contra os governos populistas da região. “O populismo é uma prática antiga, na qual os políticos procuram o sucesso imediato. O populismo é sacrificar o futuro em nome de um presente que lhes dá popularidade”.
Na quinta-feira à tarde, poucas horas antes da palestra do Nobel, o chefe de gabinete da presidente Cristina, Aníbal Fernández, criticou o escritor por suas opiniões sobre a política argentina: “Vargas Llosa diz idiotices. O que eles tem a ver com o que acontece dentro da Argentina? Este é um país soberano e tem o direito de fazer o que tem vontade”. Na palestra, o Nobel respondeu: “a Humanidade é uma só e é compartilhada. Defendo a liberdade de criticar políticas na Argentina ou qualquer outro país”.



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