Casa da Nair Falco, antes e depois./ Fotos da Folha da Região
Carlos Paupitz*
Hélio Consolaro*
O administrador do espólio de Dona Nair Madeu Falco entendeu que tombar seria derrubar. Tombar na linguagem de quem milita na preservação histórica de prédios, peças, objetos e fatos culturais significa colocar bens (móveis e/ou imóveis) sob proteção do poder público, sem que o proprietário perca sua posse e domínio.
Ela não deixou filhos, apenas sobrinhos, e não moram em Araçatuba. Na calada da noite, derrubaram um prédio que foi moradia de Dona Nair Falco por décadas na rua Floriano Peixoto. Ela, que tanto amava Araçatuba, não teria feito tal desfeita com a cidade.
Se a casa fosse tombada, a estrutura física e histórica, “a casca” poderia ter sido conservada e os novos donos desfrutariam do seu interior modernizado de acordo
com suas vontades. Em Ouro Preto, bancos se instalam em prédios antigos, modernizando totalmente o seu interior. Tombar não é desapropriar, apenas receber orientação e incentivo do poder público.
A vereadora Tieza (PSDB) nos procurou, queria levantar o assunto da casa da Dona Nair Falco na Câmara Municipal. Juntamente com o Carlos Paupitz, Diretor de Museu da Secretaria Municipal de Cultura, demovemos a ilustre vereadora de tal pretensão, dizendo que era ela levantar o assunto no Legislativo e a casa cair, que primeiro aprovássemos a nova lei, mais interessante para os proprietários. Assim que a foto da casa ilustrou matéria sobre a nova lei na Folha da Região, o “tombamento” ocorreu na noite de 6/5/2011.
Escrevo esse artigo para nos colocar à disposição de qualquer proprietário de prédios antigos para conversar, como fizemos com o Araçatuba Clube. Reportagem sobre a possibilidade da venda do prédio levantou ameaça aos painéis de Franco da Sermide, construídos na entrada do clube na década de 70. Isso fez com que a transação retraísse, porque na lógica do mercado imobiliário, tombar é tomar. E não é verdade.
A pedido de credores do clube, fomos conversar com o possível comprador, dando-lhe garantias de que não íamos tomar nada de ninguém, nem queríamos impedir a venda do prédio. Os painéis são obras artísticas de propriedades do clube, a nossa luta era apenas para a preservação deles. Tombar é uma parceria entre o poder público e o privado para preservar a história de nosso país, estado e município.
O comprador se comprometeu a preservar os painéis caso entrem no novo projeto arquitetônico ou removê-los, por conta dele, para onde determinássemos. Nesse caso, seria para a sede da av. Baguaçu do próprio Araçatuba Clube. Sem atos inconseqüentes, parece que resolvemos um problema.
Está tramitando na Câmara Municipal de Araçatuba uma nova lei de Patrimônio e Memória, mais moderna, mais eficaz e mais democrática. Inclusive, dando vantagens a proprietários de prédios tombados. Ela foi amplamente discutida pelo Conselho Municipal de Políticas Culturais de Araçatuba.
Em futuro bem próximo, esperamos que vandalismos com a preservação da história de Araçatuba, como o ocorrido, não se repitam.
*Carlos Paupitz é professor de História, diretor de teatro, diretor do Departamento de Preservação do Patrimônio, Cultural e História da SMC de Araçatuba
*Hélio Consolaro é professsor, jornalista e escritor. Secretário Municipal de Cultura de Araçatuba-SP
13 comentários:
Hélio, duas pequenas correções.
1) a nova lei é trata da "Política Pública de Preservação e Tombamento de Bens Culturais Materiais e Imateriais" e não simplesmente de tombamento e memória. É ampla e arrojada.
2) A lei não só foi amplamente discutida no CMPCA, como teve seu texto base pesquisado e montado por mim e aprimorado (com excelência, diga-se de passagem) pelo estudo exaustivo feito pelos conselheiros. Há que se enfatizar isso, por uma questão de justiça. O trabalho dos conselheiros foi magnífico!
Ah! Mais um detalhe, que você omitiu.
Já que só se exige crédito pelos atos e textos, que tal reconhecer que quem primeiro tocou no tema da preservação do painel do Franco da Sermide, na fachada do Araçatuba Clube, foi o artista plástico e presidente do CMPCA Henry Mascarós e que você, na condição de secretário, recusou-se a tomar quaisquer medidas, inclusive judiciais, se necessário fosse?
Sempre é bom registrar todos os lados da verdade...
Tudo é discutido no Conselho Municipal de Políticas Culturais porque este secretário da Cultura assim deseja, pois a minha história na Cultura se construir com luta, com cidadania, enfrentando prefeito autoritário, sem fugir do confronto.
Aliás, se você está no Conselho e o presidiu, foi por indicação minha, porque não gosto de ver ninguém marginalizado.
Trabalhar com um governo democrático, como o do Cido Sério, é bem mais fácil. Você, Salomé, em outros governos, em vez de enfrentar o autoritasmo dos prefeitos, preferiu a renúncia e não o enfrentamento. Aliás, até prestou serviços a eles profissionalmente.
Por seu depoimento no jornal, até parece que foi você quem fez tudo e protocolou o projeto na Câmara Municipal. Para ser protocolado no Legislativo houve vontade política deste secretário e do prefeito Cido Sério. Para ser transparente, devia colocar sua condição de assessora do senhor Dilador Borges (PSDB). Aliás, dizem por aí, que você recebeu orientação para me enfrentar politicamente se quiser ser a Secretária da Cultura numa possível vitória do PSDB em Araçatuba.
Tal fato não é pejorativo, nem a pretensão ilegítima, mas o leitor precisa saber para ter condições de fazer um julgamento correto. Quem pediu ao Conselho que fizesse e discutisse uma lei de Memória e Patrimônio (resumo daquele nome comprido) foi este secretário. Porque o Conselho nem tinha pensado nisso.
Quero um CMPCA bem plural, onde a oposição esteja presente, por isso é que você está lá. Aliás, tenho que agradecer o seu trabalho e o do Conselho. Não é porque vive me atacando que vou tirar seus méritos. Devagar com o andor, tudo isso ocorre porque há um prefeito democrático na Prefeitura. Ele tem nome; CIDO SÉRIO. Em prefeituras do PSDB isso não ocorre. Aliás, cadê a Cidadania Cultural no Governo do Estado?
E que nosso bate-boca não se encerre por aqui, porque tenho anda muita coisa a falar e escrever.
Abraços
Hélio Consolaro
Secretário da Cultura
Claro que a denúncia do Henry Mascarós foi válida. E meu trabalho se deu na esteira do que ele levantou. Não pude citar tudo, porque um artigo não deve ser longo.
Secretário como tal não entra na Justiça.Quem representa o município é o prefeito. E nós somos pelo diálogo. E pelo diálogo salvamos os painéis de Franco da Sermide e não prejudicamos o Araçatuba Clube e seus credores.
Apesar desse bate-boca, de sua visão unilateral do mundo, da sua teoria da conspiração que vive a todo momento, mesmo assim, acho que merece receber o prêmio Odette Costa.
Sou pela paz, pelo amor, pelo reconhecimento. Nada de conspiração, nem vingança.
Abraços
Hélio Consolaro
Durante seis anos consecutivos via da minha janela aquele casarão. Casarão que , como disse Mauro Rico, parecia de Conto de fadas.
Mais pra casa de madrasta do que de Sete anõezinhos simpáticos,ou de três fadinhas efusivas e coloridas.
Mas era histórica e devia ser preservada.
Fosse em alguns outros países teria sido restaurada e daria lucro. Fosse emoutros ainda, ninguém teria sequer notado a destruição. Tomara que isso signifique que estamos ao menos um passo além do obscurantismo e da ignorância cega, que países dominados por gente inculta e despreparada, quer manter.
Hélio,
Se sua história na Cultura se constrói com luta e cidadania, sem fugir do confronto com prefeitos autoritários, estamos empatados – embora sejamos ambos palmeirenses.
Também o fiz com intensidade e sei o preço que paguei, embora trilhando caminhos diferentes do seu.
Você comete um pequeno equívoco, pois estou no Conselho indicada por jornalistas. E se o presidi, foi sim você quem indicou e acredito que tenha me indicado por mérito.
Tampouco me considero marginalizada, seja de que forma for. Posso até sofrer o preconceito (de toda espécie) de alguns poucos, mas marginalizada, jamais! Mas isso é só uma questão de ponto de vista.
Sobre sua observação quanto renúncia x enfrentamento, digo que optar pelo enfrentamento ou não, nada mais é que uma questão tática, estratégica. Você sabe e usa isso muito bem quando lhe é conveniente, o que considero válido e legítimo.
Prestar serviços profissionais a quem quer que seja não é demérito; ao contrário, acredito que seja até mesmo elogioso quando um adversário de idéias requisita seus préstimos profissionais. Entendo haver reconhecimento de competência naquilo que é feito.
Sobre sua afirmação de que “até parece que foi você quem fez tudo e protocolou o projeto na Câmara Municipal”, realmente não fiz tudo, mas fiz muito, participei ativamente de todo o processo. Aliás, trabalhei arduamente na estruturação de todos eles. Desde o anteprojeto da lei que criou o CMPCA até os projetos das leis que compõem o Sistema Municipal de Cultura.
Se os fatos não me desmentem, por que negar a proporção da contribuição de cada um? Isso não me parece muito democrático.
Se houve vontade política em protocolar os projetos, é porque houve anteprojetos para serem protocolados. Não nego sua afirmação na mesma medida que espero que você reconheça a minha.
Mais um equívoco da sua parte, afirmar que sou assessora do Dilador Borges (PSDB).
Se o fosse, não o negaria, pois não teria qualquer razão para isso. Só para sua informação, a assessora dele se chama Kelly Cristina Taiacollo. Quanto a receber orientações de quem quer que seja, penso que você demonstra um grau de ingenuidade que não condiz nem com sua tão cantada experiência política (afinal, foi você quem iniciou o prefeito Aparecido Sério da Silva na vida política, não foi?).
Não faço o enfrentamento que você diz, pois isso seria completamente contraditório, uma vez que eu pessoalmente já defendi sua permanência na Secretaria, inclusive frente a frente com o prefeito, em momento de crise.
Agora, se exigir o máximo de você e de seus pares é considerado enfrentamento, então sim, em alguns momentos (sempre que considerei necessário) nos enfrentamos. Mas sempre por eu acreditar que algo mais poderia ser feito pela Cultura de Araçatuba. Infelizmente, parece que errei em acreditar que algumas pessoas poderiam render mais ou avaliei mal o potencial de cada um. Pelo visto, exigi demais por erro de avaliação. Por isso até peço desculpas.
E sobre querer ser secretária da Cultura, jamais manifestei tal pretensão. Acredito que você sofre por antecipação e isso não é algo saudável.
(continua)
(continuando)
Quanto a ter sido você a pedir que o CMPCA fizesse uma nova lei de “Memória e Patrimônio”, na realidade você comete mais um equívoco.
A idéia de se pensar em uma nova lei do Patrimônio e Preservação (o termo Memória só é utilizado por você) surgiu durante uma conversa pouco antes de uma das inúmeras reuniões do CMPCA, entre Carlos Paupitz, Alexandre Melinsky e eu, pois discutíamos a necessidade de ser elaborado um regimento interno para o Museu Mal. Rondon, assim como para o Teatro Castro Alves. Foi quando nos questionamos sobre a necessidade de atualização da lei do patrimônio, pois nem ao menos sabíamos se ela ainda estava em vigor. Não me furto em dar a eles o devido credito.
Mais uma coisa: quem tem de querer um CMPCA bem plural é o próprio CMPCA, a própria sociedade civil nele representada. Quando um secretário afirma que é ele quem quer isso ou aquilo dentro de um conselho, deixa entrever um autoritarismo que não combina com o discurso adotado logo em seguida.
Também não discuto o governo do Estado, assim como evito discutir o governo federal. Se vamos discutir a Cidadania Cultural no governo do Estado, por que também não discutimos as mudanças que já querem fazer no Plano Nacional de Cultura, sancionado em dezembro último?
Temos assunto de sobra para trocar idéias e propor soluções.
Até aqui, tudo o que critiquei, apontei soluções. Não vejo a contrapartida em igual nível de intensidade e/ou qualidade.
E quanto à continuidade de um debate, não me furto à ela, em momento algum. Discutir melhores rumos para a Cultura da cidade é algo que tenho prazer em fazer, mas sinceramente espero que não tenhamos que “bater-boca”. Prefiro que continuemos uma discussão de alto nível, pois temos maturidade e conteúdo suficiente para isso.
Sobre dar o crédito ao Henry, citar que a denúncia do Henry Mascarós foi válida e que seu trabalho se deu na esteira do ele levantou não acrescentaria mais que uma linha e meia ao seu artigo. Isso o tornaria longo demais?
Espero, de verdade, que vocês, membros do atual governo municipal, sejam pelo diálogo. Mas não pelo diálogo como ele se deu, por exemplo, com a lei do fundo municipal de apoio à cultura. Diálogo, como você bem sabe (na condição de professor de Português) pressupões dois ou mais interlocutores. Ali, houve apenas monólogo...
Ainda insisto que não há a necessidade de bater-boca, quando podemos ter um debate de alto nível, mas é claro que isso dependeria das duas partes. Se for pra bater-boca, você está mesmo no caminho certo.
A visão que tenho do mundo, quais minhas teorias ou qualquer outro aspecto subjetivo não merece discussão aqui, pois, apesar de também não concordar com sua visão de mundo e com suas teorias, não considero que isso seja assunto para esse debate.
E sobre o Troféu Cultural Odette Costa, não pedi a indicação e muito menos pedi que me escolhessem. Se o fizeram, acredito ter algum mérito para tanto. Só agradeço.
Você se diz “pela paz, pelo amor, pelo reconhecimento. Nada de conspiração, nem vingança”. Neste ponto, nós empatamos! Por incrível que pareça, temos algo em comum, além do Palmeiras.
Sal Macedo
Os comentários inseridos neste blof foram mediados por mim. Se eles são pertinentes ao assunto e são feitos com lhaneza, insiro-os, embora possa discordar deles.
Como escreveu Voltaire: "Discordo daquilo que dizes, mas defenderei até à morte o teu direito de o dizeres."
Cada um tem uma história,uma trajetória de vida, e ela tem o poder de denunciar a hipocrisia das palavras.
Gloria in excelsis Deo et pax omnibus bonna voluntatis..amém.
Agnus Dei qui tollis pecata mundi, miserere nobis...amém.
Conheci a Dona Nair Madeu Falco, em Três Lagoas, na vila de casas que ela tinha, conjunto com o edifício José Falco, ambos construídos por sua iniciativa, ela era uma pessoa que sempre pensou na preservação de tudo que a possuía, e que ia de interesse da história local, e do povo, na qual ela estivesse inserida, sempre se preocupou com o crescimento de Três Lagoas, e igualmente com Araçatuba.
Fico triste em saber, e ver, as traças o que foi de uma pessoa tão ilustre como ela, aí dava até mesmo para fazer um museu, de uma pessoa legítima, que sempre se poupou de luxos, em sua vida pegressa e simples, nunca desreipeitou ninguém que a tenha tratado digna, sempre fez para ser lembrada.
Essa mulher de firme pensamento, que representou um pilar da família Falco, que honrou o nome do pai e da mãe, que no minímo tenha uma rua com o nome dela, já que sua residência nem mais existe.
Minha tia Aparecida Conceição Alves, na qual ainda muito jovem,em meados do ano de 1956 foi morar junto com a ilustre Nair Madeu Falco, após ter sido acolhida do Albergue para sua casa. Sempre foi bem tradada pela sra Nair Madeu Falco, eram como se fosse parentes uma cuidando da outra. Moraram juntas há décadas,e mudaram para Três Lagoa,na qual a sra Nair Falco faleceu no ano de 2010 morando em sua fazenda. E minha tia voltou a morar em Araçatuba, vindo a falecer no mês de Janeiro de 2021. Obs: A sra Nair Madeu Falco faleceu no ano de 2010, e no ano de 2011 foi demolido a casa que foi dela na rua Floriano Peixoto.
Concordo com o nome de rua ela sempre foi bem feitora de Araçatuba.
Verdade pura verdade .
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