AGENDA CULTURAL

20.6.11

Filhos da era digital


Como o uso do computador está transformando a cabeça das crianças – e como protegê-las das ameaças da internet
KÁTIA MELO E LUCIANA VICÁRIA - REVISTA ÉPOCA
CIBERNÉTICAS
Jade Souza (à esq.), de 9 anos, pesquisou sobre reciclagem na internet e aprendeu a separar o lixo. Isabella Marti, de 7, usa o computador desde os 2 anos. As duas representam uma geração que já nasceu conectada
Gustavo Neno Altman é tão fanático por futebol que em seu aparelho dentário há um escudo do Corinthians gravado. Aos 9 anos, joga bola com os amigos, é assinante de um jornal esportivo, freqüenta estádios com o pai e tem um blog sobre futebol na internet. Todos os dias, ele lê os cadernos esportivos e resume em seu blog as notícias que o interessam. “Dá um trabalhão”, diz. “Mas não imagino minha vida sem internet.” Gustavo faz parte de uma geração que nasceu com o computador em casa: os “nativos digitais”. O termo foi cunhado pelo educador americano Marc Prensky, autor do artigo “Digital natives, digital immigrants” (“Nativos digitais, imigrantes digitais”), em que faz uma divisão entre aqueles que vêem o computador como novidade e os que não imaginam a vida antes dele. O artigo, de 2001, é um dos mais citados em publicações da área de educação, de acordo com o Instituto para a Informação Científica dos Estados Unidos.
Antes do artigo de Prensky, não havia um termo que definisse a geração que cresce imersa na tecnologia. Autor do livro Digital Game-Based Learning(Aprendizagem Baseada em Jogos Digitais) e criador de mais de cem games, ele afirma que as ferramentas eletrônicas são como extensões do cérebro dessas crianças. Elas fazem amigos pela rede, conhecem o mundo pelos buscadores, desenvolvem habilidades por meio de videogames, criam páginas pessoais em fotologs, blogs e sites de relacionamento. Além de navegar na internet, são capazes de operar outros aparelhos eletrônicos com muita facilidade, como celulares, iPods, controles remotos de DVD e TV, às vezes vários ao mesmo tempo. “Eles migram de um software para outro, como se trocassem a gangorra pelo balanço”, afirmou Prensky a ÉPOCA. Os “imigrantes”, de acordo com ele, são os que assistiram ao nascimento da internet e se adaptaram a ela. Ainda se lembram das primeiras conexões, quando a linha telefônica costumava cair, e normalmente não confiam na memória do computador a ponto de dispensar o papel. Apesar de acessar a rede com desenvoltura, os imigrantes preferem ler um artigo impresso. “É como mudar de país. As pessoas ficam até íntimas com o novo idioma, mas não perdem o sotaque.”

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