AGENDA CULTURAL

8.6.11

“Não serei simonalizado”, diz Lobão


Em carta publicada com exclusividade no site da CULT, cantor diz que se tornou vítima tanto da direita quanto da esquerda
Publicado em 02 de junho de 2011 - Site da revista CULT
“É lamentável perceber que continuam insistindo em tentar fazer de mim uma caricatura.
Lamentável e inócuo, pois a caricatura não cabe no figurino.
Estou cansado de ser tratado como um moleque, um roqueiro maconheiro, um mal social, doidão, polêmico, por gente que não tem a menor capacidade de ententer o que faço, o que falo, quem sou e qual é meu verdadeiro tamanho. Problema todo de vocês.
Esquecem que eu tenho muita gente que me conhece e que gosta de mim, que está tão indignada quanto eu nessa patuscada ridícula e descabida que estão armando.
Esse papo canalha não cola, pois a minha história me respalda.
Aqueles que estão usando de precipitação e covardia para tentar arranhar meu nome fiquem sabendo que os vilões da história são vocês. Mas não sou vossa vítima, não, pois vocês não têm capacidade nem potência, nem tamanho para me vitimar em nada. Vocês são uns vilõezinhos de meia tigela.
É o que digo: a direita e a esquerda se merecem, pois são retrógradas, nacionalistas, ressentidas, vingativas e adoram uma tiraniazinha.
Vocês são o passado, o obsoleto, o pretérito mais que imperfeito da maneira viciada invejosa e impotente de pensar o Brasil.
Vocês pegaram o bonde errado da história e têm que viver com esse erro.
Enquanto estou num momento muito feliz da minha vida, minha autobiografia está na lista dos mais vendidos desde janeiro, vai virar filme, sou um jovem escritor de 53 anos e tenho uma carreira musical de mais de 35 anos absolutamente solidificada. Portanto, acostumem-se, pois eu não serei simonalizado por vossas estultices repletas de rancor, impotência e covardia.
Aprendam depressa a me respeitar para não caírem no ridículo popular, no descrédito e no oblívio. Falei?
É isso aí.”
Lobão
Declaração ocorreu em festival literário
O cantor Lobão está no centro de uma polêmica envolvendo o jornal Folha de S.Paulo devido a uma palestra que deu no Festival da Mantiqueira, em São Francisco Xavier (SP), em 29 de maio passado. Suas declarações foram reproduzidas pelo veículo no último dia 31, mas o músico alegou que elas haviam sido descontextualizadas. Ao final da matéria “Lobão critica João Gilberto e Chico Buarque em palestra”, a reportagem diz: “O cantor reclamou que há um ‘excesso de vitimização na cultura brasileira’. ‘Essa tendência esquerdista vem da época da ditadura. Hoje, dão indenização para quem sequestrou embaixadores e crucificam os torturadores que arrancaram umas unhazinhas’, completou.”
Em sua edição de hoje, o jornal publicou outra matéria sobre o assunto (“Após falar sobre ditadura, Lobão critica reportagem da Folha”), em que afirma que Lobão de fato não usou a palavra “indenização” em sua palestra no Festival da Mantiqueira.
Na mesma matéria, Lobão afirma: “O que eu quis dizer (…) é que a direita torturadora e a esquerda vítima eram iguais porque eram retrógadas e nacionalistas. Eram pessoas que gostavam de tirania (…). Ninguém ali estava lutando por uma democracia. A gente estava com Che Guevara, uma ditadura do proletariado.”
No texto que a CULT publica agora com exclusividade, Lobão diz recusar ser “simonalizado”, em referência ao cantor frequentemente ser associado ao regime militar.

    Um comentário:

    Cecilia Ferreira disse...

    Não duvido que tenha havido reação. É preciso muito cacife pra brigar com peixe grande.
    Mas Simonal jamais fez, ou quis isso. A coisa com Simonal foi: queimá-lo porque ele simplesmente não tomava partido. Nem bolcheviques, nem Mencheviques, nem nazismo, nem facismo, nada, ninguém... Portanto foi queimado sem ter quem o defendesse. E Simonal tinha uma presença extraordinária, além do talento. Por isso os sem talento aproveitaram-se de sua personalidade apolítica fabricando fatos inverídicos, e contando falsas histórias sobre um sujeito de fato puro (até onde podemos ser puros, nós os meros mortais). Já a parte imortal do Simonal, essa fica a despeito das mazelas humanas.
    Do Lobão? Mesmo metendo os pés no lugar das mãos, o tempo dirá.
    Da vaidade desmedida otempo já diz.
    Abraço Hélio! Sempre nos informando! Grata