AGENDA CULTURAL

12.8.11

João do Rio, pai da crônica moderna

No segundo encontro Quarta às Quatro, promovido pela Fundação Biblioteca Nacional, o pesquisador e jornalista João Carlos Rodrigues mostrou os diversos motivos que levaram João do Rio a ser considerado um dos principais cronista brasileiro, influenciando de maneira determinante os destinos do gênero literário e da imprensa nacional. “O João do Rio inovou mostrando o Rio de Janeiro que ninguém via. Ele foi o primeiro a falar das partes pobres da cidade no jornal e também foi pioneiro em fazer reportagens, com entrevistas, na imprensa brasileira”, afirmou Rodrigues, autor do livro João do Rio – Vida, Paixão e Obra, a principal biografia do cronista.

Figura excêntrica, João do Rio contou a Belle Époque do Rio de Janeiro – no começo do século XX –, apresentando todos os aspectos da cidade que as classes altas e a imprensa esqueciam-se. De acordo com João Carlos Rodrigues, o cronista obteve sucesso nesse objetivo. “Seu livro As religiões do Rio, polêmico pelo capítulo sobre candomblé, teve uma tiragem de 10 mil exemplares. Hoje, as editoras grandes produzem, em média, 2 mil exemplares de novas obras”, exemplifica.

Na palestra, João Carlos Rodrigues explicou que João do Rio tinha um estilo irônico de escrever e contava com um “olhar no social”. “Ele foi pioneiro em escrever as más condições sanitárias, de moradia, de trabalho da cidade, e tantos outros problemas da cidade. Tudo está ali nos seus contos. Por isso, a escrita de João do Rio parece que foi feita ontem”, explica.

Alvo de preconceitos, João do Rio passou a ser ferozmente perseguido pelo resto da imprensa. Entretanto, segundo João Carlos Rodrigues, isso não pesou para o público. “O carioca não dispensou ele. Para se ter uma noção, metade da população do Rio de Janeiro esteve no enterro dele, em 1921. Foram 200 mil pessoas, de todas as classes sociais. Foi o maior enterro de uma pessoa pública até 1954, quando foram realizados os enterros de Getúlio Vargas e Carmem Miranda”, afirma.

Para o biógrafo de João do Rio, a crônica está trocando de plataforma: os blogs na internet são o novo espaço desse gênero literário. “Daqui a 50 anos talvez tenha alguém aqui na BN falando sobre esse cronista do blog”, prevê.

Com o tema De João do Rio a Drummond: crônicas da cidade, o Quarta às Quatro, entre 3 de agosto e 7 de dezembro, traz um escritor, cronista, pesquisador ou crítico literário para apresentar, semanalmente, uma crônica falada da cidade ou um grande cronista brasileiro. Auditório Machado de Assis, da Biblioteca Nacional (Rua México s/nº, Centro, Rio de Janeiro). Com curadoria de Vitor Iório, o programa tem parceria com a Secretaria Estadual de Educação que, nessa semana, levou o Colégio Estadual Oséas Gomes Laranjeiras, do bairro Santa Cruz, Zona Oeste do Rio de Janeiro. No próximo programa (17/08) o escritor e ex-presidente da Fundação Biblioteca Nacional Affonso Romano de Santa’anna falará sobre o cronista Rubem Braga. 

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