AGENDA CULTURAL

28.8.11

Muitos querem a cabeça do Lula, mas quem a pegou foi o Catatau

Catatau (José Luís) teve a cabeça de Lula na bandeja
Catatau é ambientalista da Secretaria  Municipal  de Meio
Ambiente e Sustentabilidade da Prefeitura de Araçatuba

Osni Branco - escultor da cabeça -
ao visitar Araçatuba-  sua  cidade  natal

QUEM É OSNI BRANCO - VEJA AQUI
Em 1990, a colunista social Odette Costa Bodstein, já falecida, escreveu um longo texto sobre Osni Branco. Leia:

OSNI BRANCO

 Os jornais trouxeram na semana passada referências a Osni Branco, depois de uma entrevista coletiva, à qual não pude comparecer. Paguei a dívida, visitando-o depois, para um bate-papo maior e mais descontraído, pois sempre temos muitas coisas para falar e lembrar.
As pessoas que nos lêem há mais tempo, sabem que nosso relacionamento remonta à sua meninice, que acompanhei de perto, quando ele morava, aos dez anos, na esquina da Praça Joaquim Dibo, perto do clube. Mais que isso, nessa idade e um pouquinho mais, ele foi meu aluno, no 4º ano primário, no Colégio Salesiano e por isso mesmo é que se tornou inesquecível para mim e para outros que com ele estudavam. Miúdo, muito loiro, olhos enormes e azuis, cabeça por vezes raspada, que ele mesmo começava raspar na classe com uma gilete, foi o tipo do “moleque” que acaba com a vocação de qualquer professora. E daí se eu fosse contar de suas artes e de sua desatenção nas aulas e o quanto perturbava, isto aqui daria um anedotário.
Nossa separação e reencontro depois de vinte e um anos se deram em 79, quando uma raquete de pingue-pongue nos separou e nos uniu. É uma história cheia de lances emotivos, que ligou duas épocas e que Hélio Negri contou certa vez com muita habilidade.
Mas foi exatamente nesses vinte e um anos que ele cresceu, se fez homem, viajou, aprendeu, tornou-se um “gentleman”, como se num milagre ele explodisse e pusesse para fora toda a criatividade, toda Arte e toda energia que existia latente, naquela cabeça grande de menino, que já não cabia nos ditames de uma carteira (que ele cortava rabiscava), de um caderno cuja letra eu não entendia. Como sempre digo, ele estava “em outra”.  E quando voltou, para fazer aqui uma exposição com quadros seus, dentro de uma versatilidade incrível, já trazia a bagagem de um artista reconhecido internacionalmente.
Fizemos então uma exposição sua, no Araçatuba Clube, com grande afluência e até com muito bom resultado.
Aí depois de ter vivido muito tempo no Japão, onde se casou; depois de ter passado por vários países da Europa e pelos E. Unidos, colhendo informes e se aperfeiçoando, radicou-se em São Paulo, de onde vez por outra, apareceu por aqui, especialmente com trabalhos seus em Escultura, especialmente no bronze, que é a sua especialidade.
Ora é um jornal da Capital, ora é a TV, o certo é que seu trabalho vem crescendo e ainda há pouco vi uma excelente referência sobre uma escultura de um cedro de Libando que ele fez em São Paulo, parece-me em ponto central da cidade. Falei com ele sobre isso, inclusive porque no bronze, a árvore está coberta de neve e apenas com os diferentes tratamentos que ele deu não gravei bem o local. Foi um torvelinho de assuntos.

EM ITAPECERICA DA SERRA

            Para conseguir o espaço que desejava e o ambiente de tranqüilidade para suas inspirações, instalou-se em Itapecerica, hoje menos tranqüila já, porque tem sido um local procurado pelas pessoas que querem construir fora das turbulências de São Paulo, num ponto considerado nobre atualmente.
            Em vasta área instalou seu atelier, seu forno de fundição, sua residência, coisas do seu lazer, num conglomerado que envolve toda sua vida, seu trabalho e sua vivência com Lydia e seus filhos Maya, Cristiano e Yasmin.
            O Cris, segundo ele, também tem dado muito trabalho na escola, mas é tremendamente criativo, ágil nas mãos e deve andar desenvolvendo uma enorme capacidade para Engenharia Mecânica, pelas coisas que monta desmonta.  A filha, já mocinha, ganhou recentemente num concurso uma viagem ao Japão, inteiramente financiada por empresa daquele país e brilhou. A pequenina tem apenas dois anos e meio.

TÉCNICAS AVANÇADAS

            O que sempre o distinguiu como artista foi a sua necessidade de não parar, de evoluir e fazer coisas novas. Poderia ter parado apenas na pintura ou mesmo na escultura convencional. Acontece que a gente tem impressão que seu cérebro fervilha.
            E então ele descobre novos materiais, como aconteceu nos seus quadros, em que a técnica variava dos pincéis na tela, à montagem com tecido, ouro, folhas laminadas até a casca do ovo. Daí lhe veio o renome.
            Mas no campo da Escultura, por exemplo, ele nunca se satisfaz em apenas moldar suas peças. Ele mesmo faz a fundição, descobre novos caminhos e chega lá. Daí ter fornos para isso, dentro da melhor tecnologia, sendo hoje membro da Internacional Sculpture Center, de Washington, que envolve escultores do mundo inteiro. Faz parte também da American Foundry Center, também entidade do maior relevo, no seu campo.
            E não pára também de estudar e pesquisar. Agora sua atenção está voltada para a Cerâmica Avançada, na qual ele tem desenvolvido um trabalho, depois de longo estudo na Universidade de são Carlos e no CTA de São José dos Campos, trabalho, aliás, mostrado no Fantástico. É a aplicação de uma cerâmica especial que se usa na ponta das ogivas dos mísseis e que na fabricação de lâmpadas se usa para se fazer os tubos das mesmas (em vez dos filamentos convencionais), na iluminação a vapor do sódio, que são muitíssimo mais baratas economizando energia também.
            O negócio é tão eminentemente técnico que não caberia num social.
            Entendi que Le quer passar para a arte o que tem sido material armamentista, ele quer que seja passado para o uso civil. Mas como diz ele “que não seja para morte e sim para a vida”. E já conseguiu o máximo que se pode dentro dessa cerâmica que pode deixar passar a luz, porque não é opaca e sim translúcida, propriedade antes somente atribuída ao vidro.
            Atualmente está terminando seu laboratório de Cerâmica Avançada Translúcida, o que é um passo inédito em arte.

SEU DESEJO (OU MÁGOA)

            É que convidado sempre para fazer medalhas, taças, troféus, esculturas de grande porte para eventos daqui e do exterior, na sua cidade natal, não há nada de seu, nada que tenha marcado seu nome. Em São Paulo, em Campinas, em tantas cidades há peças suas imorredouras e aqui não. Ele é apegado a Araçatuba. Quando a saudade baixa, ele vem, sozinho para lembrar as raízes. Nem que seja pra ver as marcas que sua espingardinha de chumbo deixou nos vitrais do Colégio das Irmãs, quando ele tentava matar as pombas lá do alto.
            Mas é um araçatubense inveterado que gostaria tanto de deixar algo mais para nós. Mesmo porque terminada essa parte em cerâmica, quer se dedicar mais à gravação em metal, Pintura e Escultura fundida. Seu atelier, fornos e fundição doariam para um museu. Porque seu sonho mesmo é uma chácara pequenina, com água passando por ela, com muito verde, uns pincéis e muito sonho e lembranças. Se possível, à beira do Baguaçu.

Jornal a Comarca – 14/03/90

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