Nova publicação dedicada à arte de amar os livros recorda o passado e discute o futuro desse objeto de desejo e perdição |
Bosi, em sua leitura em voz calma, recordava o sentido da palavra livraria. Até o século XVIII (talvez, mesmo, até meados do XIX), o termo remetia à ideia debiblioteca.
Enquanto o ouvia, pensava que esta segunda palavra, por seu turno, nos conduzia ao pseudo Apolodoro, autor de uma Biblioteca, cujo significado não era o de um lugar físico de livros, mas de uma obra erudita sobre os mitos e histórias gregos. Phocius foi o primeiro a atribuir a Biblioteca a Apolodoro, o que mais tarde foi questionado. Uma primeira edição impressa da obra foi feita em Roma (1550), por Aegius Spoletinus, com tradução latina e notas; a segunda saiu em Heidelberg (1599). Isto, de acordo com Chaudon (Dictionnaire Universel, Historique, Critique et Bibliographique, ou Histoire Abrégée et Impartiale des Hommes de Toutes les Nationsetc., Paris, De L´Imprimerie de Maue Frères, 1810), consultado em uma Biblioteca, a da Faculdade de Direito de São Paulo.
Quando Bosi pensou em livraria, ele nos conduziu em suas lembranças à Biblioteca Mario de Andrade, em São Paulo, locus de suas frequências primaveris. A mim, a palavra livraria sempre conduz a outras duas: alfarrábio e (mais brasileira) sebo. Mas, agora, aprendi em artigo de Cláudio Giordano nesta revista Livro, que existe também a expressão Livraria de Antigos, uma alusão à expressão espanhola libreria de viejos...
Essa revista Livro, todavia, não tem somente o dom de suscitar em seu leitor o gosto pelas velhas recordações, traz, também, o prazer do incerto amanhã. Os seus artigos discutem o futuro do suporte em papel, os caminhos do mercado editorial, o livro a serviço da história e tantas outras coisas que só aos amantes do impresso toca conhecer...
É de se notar também a sua natureza. A revista seria improvável no formato digital. O leitor que a preferisse assim perderia a experiência de um papel pólen envolto por uma capa em cotelê. Certamente, lhe sobraria o impacto visual da capa de Hélio Cabral e os impulsos intelectuais dos artigos de Walnice Nogueira Galvão e Jean-Yves Mollier e das memórias de J. Guinsburg e de Ruy Coelho, entre outros. Mas a arte de amar os livros pede mais, sempre mais, porque o livro é o mais exigente dos amantes.
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