Hélio Consolaro*
Passeio pelo rio Preguiças |
Sempre sonhei em visitar a cidade de São Luís do Maranhão, terra de bons escritores e cantores brasileiros: Gonçalves Dias, Aluísio Azevedo, Ferreira Gulllar, João do Valle, Zeca Baleiro, Alcione.
Sonho realizado, estou nela. A Japa fez poupança durante 2011 com sua aposentadoria, juntamos um dinheirinho e viemos conhecer mais um pedaço do Brasil. Sem agência de viagem, tudo combinado e adquirido pela internet, bem antecipado para sair mais barato.
Ao escrever esta crônica (quinta-feira, 8/12), conhecia pouco da cidade com mais de um milhão de habitantes, apenas as redondezas. Estou no Litorânea Praia Hotel, praia do Calhau. Atravessando a avenida, o mar. Amanhã, visitaremos a parte histórica da cidade. Disse o taxista que nos trouxe do aeroporto: há muitas ruínas. Falta uma política conservacionista decente.
Sábado e domingo, visitaremos Barreirinhas, onde há os Lençóis Maranhenses. Vir ao Maranhão e não conhecer esse lugar seria ir a Roma e não conhecer o papa.
Eu que sou um fissurado pelo trabalho (workaholic), ficar uma semana a passeio é uma doença, mas no domingo navegarei pelo rio Preguiças, só me faltava morrer afogado nele.
Seria mesmo uma ironia, pois nunca cocei o saco. Aí está uma coceira que não tive tempo de sentir. Trabalho tanto que nem me lembro de tê-la. Não sei se “coçar o saco” é uma questão de asseio ou de aproveitar a vida. Às vezes, não sei definir se estou trabalhando ou me divertindo.
Amigos me recomendaram ao sair de viagem: desligue celular, não ligue a internet. Estou aqui em São Luís escrevendo crônica, atendendo telefone, vendo e-mails, despachando. E lógico, aproveitando, porque um secretário de Cultura precisa conhecer tais lugares. Desde criança trabalho, brinquei pouco, foi o aleijão que herdei ao trabalhar precocemente. Não virei bandido, vim ao mundo a trabalho para a felicidade do sistema.
E há, ainda, gente que defende o trabalho de crianças pobres como forma de tirá-las das ruas, como se não houvesse outras alternativas. Essas pessoas tratam o domingo como inútil (os outros são úteis porque se trabalha e se ganha dinheiro), só enxergam a dimensão econômica da vida.
“Tempo é dinheiro”, diz o sistema, por isso se faz serão até às 20 horas. Professor trabalha até às 23 horas (e o aluno estuda). Executivos lancham no trabalho, funcionários mais humildes comem uma tranqueira na esquina. Já nem almoçamos em casa. O sistema ordena:
- Mais competitividade!
E nós marchamos! Não há nenhum sargento gritando, mas o mercado nos controla, é o grande ditador.
A luz elétrica é a grande culpada. Imagino como era a vida sem ela, meio pobre e sem graça. A lâmpada mudou o ritmo da vida das pessoas... A noite, que era para dormir, contar causo, fazer roda na frente da casa, virou período de trabalho, de estudo ou de nos deixar hipnotizar pela tevê.
Imagino como o poeta Tomás Antônio Gonzaga escreveu a primeira parte de “Marília de Dirceu”, fazendo planos para viver com sua pastora. Seria à noite, à luz de vela, de lamparina ou de outro instrumento?
Macunaíma, herói brasileiro, dizia sempre: “Ai que preguiça”. Aí está uma frase que tenho vontade de pronunciar. Levantar-me e não ter o que fazer. Será que chegarei a este dia? Nem no rio Preguiças... Porei fogo naquela lerdeza.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
São Luís, capital brasileira da cultura
São Luís, capital do Maranhão, foi eleita a “Capital Brasileira da Cultura” em 2009. O título, iniciado na Europa em 1985 por ideia da ex-ministra da cultura da Grécia, Melina Mercouri, visando valorizar o patrimônio artístico e cultural das cidades de diversos países do mundo promovendo as cidades eleitas, dando suporte na realização de eventos e divulgando suas riquezas para todo o mundo.
O patrimônio e a herança cultural que levou São Luís a conquistar o título de Capital Brasileira da Cultura em 2009, com relevante aspecto abordado, foi o “Ano da França no Brasil”, única capital brasileira fundada por franceses, que guarda heranças na culinária, nos nomes de ruas e monumentos.
O Bumba-meu-boi, festa mais popular do estado, e outras festas movimentam a cidade e lota hotéis em junho. São Luís ganhou um espaço próprio no Centro Internacional de Documentação de Capitais Culturais em Atenas, na Grécia. A boa nova significa que toda a documentação que a cidade produziu como a Capital Brasileira da Cultura em 2009, fica disponível e preservada para as futuras gerações nessa cidade tão emblemática para a cultura. Ou seja, é a história da “Atenas Brasileira”, como ficou conhecida São Luís no século passado, encontrando-se com a Atenas do mundo.
O Título não pertence a nenhum ente oficial, não é de nenhum órgão em si, mas de todos os filhos e filhas dessa Ilha.
5 comentários:
boa tarde...com apenas um dia...e a cronica publicada...já surgiu com estilo diferente...esse troço deve ser bom mesmo. Ótimas férias...
Que Deus te ajude professor e nao me desampare....boa viagem
ai! Helio Aproveite a folga e curta, esqueça um pouco o trabalho, pois ele a gente não leva quando passar desta para outra dimensão. Curte curte e curta voce e a Helena, aproveite a vida com alegria, Voces merecem de coração
da marianice
È isso ai consa , ja dizia um filosofo que adotou araçatua , "nada paga o sossego do ser humano..." , aproveita , toma subzero, como camarão , toma banho de cachoeira , lava a alma , afinal estes raros momentos da vida em compania de quen sempre guenta a gemto de bom ou mau umor... isso não tem preço pras outras coisa a gente usa o velho devo não nego pago quando puser (se puder kkkkk)
Abraços
magrão
Grande Hélio!
Altruísta.
Ele vai, mas acha um jeito de levar os amigos.
Ele informa.
Por essas e outras... ele merece aproveitar esse passeio.
E viva o Barac! E viva a Mi.Grande Helena.
Beijo da Wanilda.
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