AGENDA CULTURAL

8.12.11

Ai que preguiça!


Hélio Consolaro*

Passeio pelo  rio Preguiças

Sempre sonhei em visitar a cidade de São Luís  do Maranhão, terra de bons escritores e cantores brasileiros: Gonçalves Dias, Aluísio Azevedo, Ferreira  Gulllar, João  do Valle, Zeca Baleiro, Alcione.

Sonho realizado, estou nela. A Japa fez poupança durante 2011 com sua aposentadoria, juntamos um dinheirinho e viemos conhecer mais um pedaço do Brasil. Sem agência de viagem, tudo combinado e adquirido pela internet, bem antecipado para sair mais barato.

Ao escrever esta crônica (quinta-feira, 8/12), conhecia pouco da cidade com mais de um milhão  de habitantes, apenas as redondezas. Estou no Litorânea Praia Hotel, praia do Calhau. Atravessando a avenida, o mar. Amanhã, visitaremos a parte histórica da cidade. Disse o taxista que nos trouxe do aeroporto: há muitas ruínas. Falta uma política conservacionista  decente.

Sábado e domingo, visitaremos Barreirinhas, onde há os Lençóis Maranhenses. Vir ao Maranhão e não conhecer esse lugar seria ir a Roma e não conhecer o papa.

Eu que sou um fissurado pelo trabalho (workaholic), ficar uma semana a passeio é uma doença, mas no domingo navegarei pelo rio  Preguiças,  só  me  faltava morrer afogado nele.   

Seria mesmo uma ironia, pois nunca cocei o saco. Aí está uma coceira que não tive tempo de sentir. Trabalho tanto que nem me lembro de tê-la. Não sei se “coçar o saco” é uma questão de asseio ou de aproveitar a vida. Às vezes, não sei definir se estou trabalhando ou me divertindo.

Amigos me recomendaram ao sair de viagem:  desligue celular, não ligue a internet. Estou aqui em São Luís escrevendo crônica, atendendo telefone, vendo e-mails, despachando. E lógico, aproveitando, porque um secretário de  Cultura  precisa conhecer tais lugares. Desde criança trabalho, brinquei pouco, foi o aleijão que herdei ao trabalhar precocemente. Não virei bandido, vim ao mundo a trabalho para a felicidade do sistema.

E há, ainda, gente que defende o trabalho de crianças pobres como forma de tirá-las das ruas, como se não houvesse outras alternativas. Essas pessoas tratam o domingo como inútil (os outros são úteis porque se trabalha e se ganha dinheiro), só enxergam a dimensão econômica da vida.

“Tempo é dinheiro”, diz o sistema, por isso se faz serão até às 20 horas. Professor trabalha até às 23 horas (e o aluno estuda). Executivos lancham no trabalho, funcionários mais humildes comem uma tranqueira na esquina. Já nem almoçamos em casa. O sistema ordena:

- Mais competitividade!           

E nós marchamos! Não há nenhum sargento gritando, mas o mercado nos controla, é o grande ditador.

A luz elétrica é a grande culpada. Imagino como era a vida sem ela, meio pobre e sem graça. A lâmpada mudou o ritmo da vida das pessoas... A noite, que era para dormir, contar causo, fazer roda na frente da casa, virou período de trabalho, de estudo ou de nos deixar hipnotizar pela tevê.

Imagino como o poeta Tomás Antônio Gonzaga escreveu a primeira parte de “Marília de Dirceu”, fazendo planos para viver com sua pastora. Seria à noite, à luz de vela, de lamparina ou de outro instrumento?

Macunaíma, herói brasileiro, dizia sempre: “Ai que preguiça”. Aí  está uma frase que tenho vontade de pronunciar. Levantar-me e não ter o que fazer. Será que  chegarei a este  dia?  Nem no rio Preguiças... Porei fogo  naquela  lerdeza.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Atualmente  é secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP

São Luís, capital brasileira da cultura 

São Luís, capital do Maranhão, foi eleita a “Capital Brasileira da Cultura” em 2009. O título, iniciado na Europa em 1985 por ideia da ex-ministra da cultura da Grécia, Melina Mercouri, visando valorizar o patrimônio artístico e cultural das cidades de diversos países do mundo promovendo as cidades eleitas, dando suporte na realização de eventos e divulgando suas riquezas para todo o mundo.
O patrimônio e a herança cultural que levou São Luís a conquistar o título de Capital Brasileira da Cultura em 2009, com relevante aspecto abordado, foi o “Ano da França no Brasil”, única capital brasileira fundada por franceses, que guarda heranças na culinária, nos nomes de ruas e monumentos.
O Bumba-meu-boi, festa mais popular do estado, e outras festas movimentam a cidade e lota hotéis em junho. São Luís ganhou um espaço próprio no Centro Internacional de Documentação de Capitais Culturais em Atenas, na Grécia. A boa nova significa que toda a documentação que a cidade produziu como a Capital Brasileira da Cultura em 2009, fica disponível e preservada para as futuras gerações nessa cidade tão emblemática para a cultura. Ou seja, é a história da “Atenas Brasileira”, como  ficou conhecida  São Luís no século passado, encontrando-se com a Atenas do mundo.
O Título não pertence a nenhum ente oficial, não é de nenhum órgão em si, mas de todos os filhos e filhas dessa Ilha.

  

5 comentários:

Rosvel de Menezes disse...

boa tarde...com apenas um dia...e a cronica publicada...já surgiu com estilo diferente...esse troço deve ser bom mesmo. Ótimas férias...

HAMILTON BRITO... disse...

Que Deus te ajude professor e nao me desampare....boa viagem

Anônimo disse...

ai! Helio Aproveite a folga e curta, esqueça um pouco o trabalho, pois ele a gente não leva quando passar desta para outra dimensão. Curte curte e curta voce e a Helena, aproveite a vida com alegria, Voces merecem de coração
da marianice

magrão disse...

È isso ai consa , ja dizia um filosofo que adotou araçatua , "nada paga o sossego do ser humano..." , aproveita , toma subzero, como camarão , toma banho de cachoeira , lava a alma , afinal estes raros momentos da vida em compania de quen sempre guenta a gemto de bom ou mau umor... isso não tem preço pras outras coisa a gente usa o velho devo não nego pago quando puser (se puder kkkkk)

Abraços


magrão

Anônimo disse...

Grande Hélio!
Altruísta.
Ele vai, mas acha um jeito de levar os amigos.
Ele informa.
Por essas e outras... ele merece aproveitar esse passeio.
E viva o Barac! E viva a Mi.Grande Helena.
Beijo da Wanilda.