AGENDA CULTURAL

4.12.11

Inimigos da HP é cultura?


Hélio Consolaro*
Inimigos da HP em Araçatuba, 1.º/12/2011

Apenas descobrimos que nossos amigos pensam diferente quando surge um conflito. Com a contratação da banda Inimigos da HP, Zé Renato Gimenes, emérito músico de Araçatuba, manifestou sua opinião por escrito na Folha da Região, dizendo que a Secretaria Municipal de Cultura não contrata artistas locais.

Engraçado! Tenho sido tachado de bairrista pelos artistas de fora, porque só dou espaço para os artistas de Araçatuba. Por causa disso, me chamam de secretário de uma cultura provinciana. Essa questão local/global merece um artigo especial.

A visão de política cultural do plano de governo do prefeito Cido Sério (PT) não é promover apenas eventos, precisamos formar público, fomentar a cultura local. Assim também entendeu o Conselho Municipal de Políticas Culturais, por isso foi aprovado o Fundo Municipal de Apoio à Cultura e a Lei de incentivo fiscal.

Nesta linha, toda vez que o Zé Renato me traz algum projeto de oficina com mestres da música, tenho lhe dado apoio. Dessa forma também, temos o Balé Municipal; apoiamos o Projeto Guri com toda nossa força, abraçamos as ações da Oficina Cultural Sílvio Russo. Promovemos oficinas de teatro durante o ano, etc. 

Pela primeira vez, a Secretaria Municipal de Cultura, nesta gestão, promove um grande evento, massivo, trazendo um grupo de fama nacional: Inimigos da HP, pagode; porque grande faixa da população só tem esse tipo de show na Expô, pagando para entrar. Então, resolvemos promover o show no aniversário da cidade a pedido do senhor prefeito, sem cobrança de ingresso.

Na av. dos Araçás, 1.º/12/2011, havia 10 mil pessoas assistindo aos Inimigos da HP. No dia 2 de dezembro, feriado, no teatro Paulo Alcides, o Sesc apresentou uma belíssima peça de teatro sobre a vida de Lamartine Babo, emocionante, que em São Paulo está há dois meses com ingressos esgotados. Esperando um grande público,  o Sesc promoveu duas sessões, às 19h e às 21h. As duas só tiveram 100 pessoas cada. Metade da casa estava vazia em ambas. Cadê o nosso público da cultura erudita? Essa é uma discussão que precisa ser aprofundada.

Se formos dividir os gastos com contratação do grupo Inimigos da HP pelo número de espectadores na av. dos Araçás, podemos descobrir que a peça teatral no Paulo Alcides Jorge, contratada pelo Sesc, ficou muito mais cara por espectador. As aparências enganam. 

Quando Zé Renato diz que o evento dos Inimigos da HP não devia ser promovido pela Secretaria Municipal de Cultura, era papel da Secretaria de Turismo, fazendo “um turismo de mau gosto”, revelou a sua visão preconceituosa e excludente de cultura. Não importa se é uma secretaria ou outra, só existe um cofre: o da Prefeitura. A Cultura tem mais estrutura e prática na montagem de eventos.

Inimigos da HP em Araçatuba, 1.º/12/2011

Pagode é cultura, música sertaneja também. Tais estilos podem não ser os do secretário de Cultura Hélio Consolaro, mas eu não tenho o direito de impor o meu gosto para toda a população, eu preciso ser republicano ao tratar toda a sociedade.  A monarquia ficou lá atrás e o Marquês de Pombal também.

Se nossa sociedade é estratificada socialmente, também temos de respeitar a diversidade cultural. Ninguém tem o direito de rebaixar um segmento social porque possui uma cultura diferente.  Todos os segmentos culturais precisam ser beneficiados, inclusos pelo poder público.         

Assim, amigo Zé Renato, sei que escreveu a cartinha num momento de impetuosidade. Nem fiquei melindrado com ela, apenas quis aproveitar o momento para discutir o conceito de cultura entre nós. Existe sim a cultura acadêmica, apresentada nos templos da erudição, e ela precisa ser valorizada, mas não podemos desprezar a cultura de outros segmentos, chamando-a de “mau gosto”.

 Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP     

6 comentários:

ZRG Sons e Vínculos disse...

Caro Hélio.
A minha crítica não vai por cultura erudita ou popular. O pessoal da Seresta que sempre está realizando eventos gratuitos para a população recebeu uma verbinha, que nem cabe aqui dizer de quanto, para realizar a Seresta de Natal. Quando os músicos de Araçatuba topam ir na Expo, vão por uma cachê simbólico. A minha crítica não é também para o grupo inimigos da HP, que eu nem conheço o trabalho, por não fazer parte do meu gosto. Apesar que acho que mídia de mercado musical e cultura tem diferença sim. Fico feliz que tenha ido muita gente, ficaria mais feliz ainda se estas pessoas pudessem contar com sequências de eventos vários e as outras 170.000 de Araçatuba também pudessem compartilhar da festa, mesmo que em grupos de 100 ouvintes. Em Birigui, a Orquestra de Câmara da Alemanha esgotou seus ingressos. A questão é que este show foi um oportunismo e isso ficou claro para todos. Como para tudo há uma desculpa e uma outra maneira de ver, me achei no direito de criticar a iniciativa de fazer tal evento, com tal custo. Isso eu achei de mau gosto. Pode ter certeza de que se 10.000 aplaudiram, um número muito maior ficou com muita raiva desse populismo travestido de cultura.
Por favor, pare de pensar que os eruditos são um grupelho de gente cheia de panca. Não é nada disso. O refinamento de certas obras culturais passa por um grupo de competências que só a convivência com elas é que formará um público apreciador crítico e ativamente participante. Formar esse público, é oferecer a qualidade em forma de arte com respeito a todos os cidadãos. Araçatuba sente falta, na área da música, de um trabalho contínuo de desenvolvimento cultural nesse nível.
Mas no fundo serviu de lição para nossos artistas locais repensar valores de cachê, pois o dinheiro quando há interesse, ele existe.
Sua gestão frente a Cultura tem sido honesta e eu o respeito nesse sentido. Uma pena este fato, justo no aniversário de Araçatuba. Por mais argumentos que o poder público possa ter, ainda acho que não foi a melhor maneira de empregar tamanha verba.Por isso o classifiquei de um retrocesso.
Abs.
José Renato Gimenes das Neves

Maria Regina Duarte disse...

Caro Helio Consolaro,
Voce diz que a folha pega muito no seu pé e do Prefeito Cido Serio. Mas quando vc escrevia na folha da regiao, você Nao fazia outra coisa a não ser meter a boca nos politicos de araçatuba. Ora sr. Consolaro... Será que os políticos viraram todos santos??? Antes o sr ficava de olho bem aberto em todas as falcatruas praticadas na prefeitura pra botar a boca no trombone. O que foi que mudou agora? Virou de time?

ESTACÃO BRASIL (UP GRADE) disse...

Amigo Hélio

Bem sabes o quanto eu abomino pessoalmente o tipo de música representado pelo Inimigos da HP, pelos Amigos da EPSON e toda manifestação musical que perverta a boa roda de samba em refrões pobres e dois ou três acordes simplórios...
Todavia, esta é uma questão estritamente pessoal. Assim como em outras formas de ditadura, impor nosso próprio gosto e conceito musical às massas é o reflexo do quanto longe se está da real educação política.
É obvio que a "fábrica de cultura" representada pela grande mídia cria necessidades e gostos gerados pela repetição de modelos que dentro do imaginário popular encontra guarida e aceitação.
Mas a verdade é que não podemos querer que todos tenham o mesmo gosto musical até porque isto tem a ver com os níveis de educação e de formação, que são infinitamente diferentes para cada um de nós..
Colocar 10 mil pessoas para assistir um show praticamente cala por si só qualquer reclamação contrária. Os fatos falam por si. Realmente não me lembro de algum músico local que tenha um feito semelhante.
Agora, que temos que INVESTIR mais seriamente em PROJETOS LOCAIS, isto sim precisa continuar a ser feito em escala cada vez maior.
Quem sabe um dia, os que reclamam tanto (de boca cheia, diga-se de passagem)possam romper com o próprio proselitismo e ter um público até maior que este.
Parabéns pela gestão.

Marco Ianner

Nelson Pedon disse...

Perfeito.

Hélio Consolaro disse...

Maria Regina Duarte, eu era cronista, era um cronista enchendo o saco do prefeito. Agora, é a linha editorial, todo o jornal, que não mede palavras, usando até as chulas em seu editorial. Fui editorialista da Folha por seis anos, nunca me permiti em usar o vocabulário hoje usado em espaço tão nobre.
Como cronista, eu fazia troças, ironias, e se eu estivesse fazendo as minhas crônicas hoje, sem participar do governo, eu estaria fazendo troças e ironias sobre o governo Cido Sério.
E há uma grande diferença: eu não estava correndo atrás de favorecimentos. Houve gente querendo me pagar para atacar esse ou aquele político, mandei o sujeito procurar a mãe dele.
Naquela época critiquei Cido Sério (deputado) por várias vezes. Eu não fazia política partidária em minha coluna.
Assinado: Hélio Consolaro

Hélio Consolaro disse...

Ao Zé Renato

Só quero acrescentar uma informação. Os Amigos da Seresta nunca receberam nada anteriormente, nem tinham som decente para seus shows.
Hoje, o som é locado (exigimos qualidade) e já receberam R$ 7.500,00 por quatro shows. Esse dinheiro é para os músicos que acompanham o grupo. Neste último, só receberam R$ 1.500,00 por uma questão burocrática, para não mudar o tipo de licitação.
Nesta gestão, nem que for uma merreca, o artista recebe algo. Bem diferente de anteriormente.
Em 2012, teremos o Fundo Municipal de Apoio à Cultura, com certeza o Grupo Amigos da Seresta apresentará um projeto para que o Conselho Municipal de Políticas Culturais aprecie.
As coisas estão melhorando. E o prefeito Cido Sério é responsável por essa melhora. Sou apenas seu intrumento na Cultura.
Assinado: Hélio Consolaro