Roberta Campassi e Ricardo Costa - PublishNews - 16/12/2011
Tom Turvey, diretor de parcerias estratégicas da Google |
Há oito dias, alguns dos principais executivos do Google
responsáveis pelas parcerias da unidade de livros da empresa – que inclui o
Google Books e o Google eBooks – apresentaram seus serviços oficialmente às
editoras e livreiros brasileiros, durante um evento em São Paulo.
A companhia americana pretende lançar sua loja de e-books no
Brasil em 2012 – já foram abertas lojas nos Estados Unidos, Austrália, Canadá e
Reino Unido e outras na Europa devem ser inauguradas em breve – e busca
parceiros locais, tanto editoras que fornecerão os produtos, quanto varejistas
que tenham interesse em usar a plataforma do Google para vender livros
digitais.
Tom Turvey, diretor de parcerias estratégicas da companhia,
que esteve no Brasil na semana passada, deu uma entrevista por telefone ao
PublishNews da sede do Google, na Califórnia. Ele explicou um pouco sobre como
a empresa pretende trabalhar com parceiros locais, suas vantagens competitivas
e a integração entre Google Books e eBooks. Também comentou sua percepção sobre
o mercado editorial brasileiro. “Toda a indústria parece estar pensando nas
coisas certas e se preparando para a inevitabilidade do livro digital. Isso é
parecido com o que aconteceu nos Estados Unidos há alguns anos”, disse o
executivo.
Também não faltaram comparações veladas com a Amazon, no que
diz respeito ao fato de que a varejista americana, que atualmente domina o
mercado de livros digitais no mundo, vem criando operações próprias em vários
países e concorrendo diretamente com as livrarias locais, além de vender
e-books num sistema “fechado”. Só quem tem o seu dispositivo Kindle pode
comprar os produtos da Amazon – e só dela.
Turvey também afirmou, sem entrar em detalhes, que a
estratégia de venda de livros que será implantada no sistema operacional
Android, nos próximos anos, “vai beneficiar os editores de uma maneira que eles
nunca viram”. Leia os principais trechos da entrevista.
Google e editoras
“O Google vai vender os e-books de cada editora em condições
aceitáveis para as duas partes. Vamos assegurar que esses e-books estejam
disponíveis para o mercado local, na maior quantidade de formatos possível.
Temos uma plataforma aberta e isso é importante para que os consumidores possam
comprar e ler e-books em quaisquer dispositivos, de um jeito que é muito
parecido com a forma de comprar livros físicos hoje. Quando você compra um
livro impresso da Saraiva ou da Cultura, você não é obrigado a comprar o
próximo livro só da Saraiva ou só da Cultura. Você pode comprar de qualquer
lugar que você queira.”
O serviço de digitalização do Google
“Os editores que digitalizam seus próprios livros obviamente
são livres para fornecer para qualquer canal de vendas. No caso dos livros que
o Google digitaliza de graça, nós mantemos esse arquivo conosco, para vender
pelo próprio Google ou pelo site de nossos parceiros.
O que aconteceu com algumas de nossas editoras parceiras foi
que elas investiram primeiro na digitalização dos seus best-sellers, e
permitiram que nós digitalizássemos, de graça, a parte do catálogo que elas
tinham dúvidas se venderia bem ou não. Ou seja, elas não precisaram digitalizar
tudo de uma vez e puderam ver o que estava vendendo, para então investir
recursos próprios na criação dos e-books. Normalmente, depois que elas fazem
isso, distribuem os livros para todos os varejistas.”
Google e varejistas
“Diferente de outras empresas, queremos ter parcerias locais
com fornecedores locais de livros. Não queremos entrar num mercado e forçar os
consumidores a comprar do Google. Queremos assegurar que quem já está no
mercado possa ganhar com a transição do impresso para o digital. Por isso
incluímos os varejistas que querem vender e-books, mas não têm uma plataforma
para fazer isso.
Como qualquer empresa, queremos fechar parcerias com as
grandes varejistas. Nos Estados Unidos, Canadá e Reino Unido, pudemos fechar
negócios com as livrarias independentes. Em ambos os casos, queremos ter
certeza de que o esforço vai recompensar os dois lados (varejistas e Google).
No Brasil, já há muitos anos temos uma parceria com a Livraria Cultura, que usa
o Google Preview em seu site. Podemos estender essa relação para a venda de
e-books – não estou afirmando que vamos fazer, mas apenas citando um exemplo do
nosso interesse por parceiros locais.”
Google Books e Google eBooks
“O Google Books é o maior catálogo de livros do mundo. Nele,
há mais de 20 milhões de obras, entre as que digitalizamos em bibliotecas, as
que recebemos das editoras, por meio do Preview etc. Desses 20 milhões, entre
dois milhões e três milhões são os livros que recebemos sob autorização das
editoras por meio do Google Preview. Já fechamos acordos individuais com 40 mil
editoras e estamos começando a vender os livros delas nos mercados em que já
lançamos nossa loja de e-books (a Google eBooks): Estados Unidos, Reino Unido,
Canadá e Austrália. Vamos vender esses livros diretamente e também por meio das
parcerias com varejistas que querem vendê-los em seus próprios sites.”
O mercado brasileiro de e-books
“Mesmo que os e-books ainda representem menos de 1% do
mercado no Brasil, parece que todos estão pensando seriamente na transição do
impresso para o digital. As editoras, pelo menos as maiores, estão ativamente
garantindo os direitos de publicação digital para suas obras. Os varejistas
também parecem estar fazendo os investimentos certos em seus sites, e
interessados em oferece algum aparelho de leitura.
Toda a indústria está pensando nas coisas certas e se
preparando para a inevitabilidade do livro digital. Isso é parecido com o que
aconteceu nos Estados Unidos. Há cinco anos, o mercado de livros digitais
respondia por menos de 5% das receitas da indústria americana, e agora
representa mais de 20% - é um intervalo de tempo relativamente curto. Aqueles
que fizeram os investimentos certos e pensaram em como as coisas poderiam
mudar, estão indo muito bem por aqui. Vejo evidências desse mesmo tipo de
pensamento no Brasil, e saí daí muito encorajado.”
O diferencial competitivo do Google
“O que o Google está trazendo para esse mercado? Bem, há um
par de vantagens que o Google usa para ajudar os editores a vender seus livros.
Uma delas é a liderança e a popularidade da nossa ferramenta de busca. No caso
do Google Books, por meio da nossa ferramenta de busca, as palavras buscadas
podem ser encontradas em qualquer página de qualquer livro. Estamos permitindo
que esses livros sejam encontrados de alguma forma, o que é realmente único. Os
editores também estão vendo o tráfego aumentar na visualização de livros – e,
consequentemente, estão vendo as vendas crescerem.
A outra vantagem é termos o Android, que nos próximos dois
anos vai colocar em prática estratégias de varejo muito focadas e vai
beneficiar os editores de uma maneira que eles nunca viram. Na medida em que os
dispositivos equipados com o sistema operacional Android decolarem –
smartphones, tablets – e que as pessoas começarem a comprar mais livros por
meio de nosso aplicativo, haverá grandes mudanças.”
E-readers
“Embora no momento
não descartemos nenhuma possibilidade, neste momento não estamos trabalhando
para fabricar nenhum e-reader.”
Perguntado se o Google busca parceiros para desenvolver
esses aparelhos no Brasil, a resposta foi que a empresa não comenta
especulações. No dia 8, o Google mencionou o iRiver, e-reader que, nos EUA, já
vem com uma plataforma do Google eBooks.
Um comentário:
Muito interessante...gostei.
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