AGENDA CULTURAL

18.12.11

Tudo bem mastigado


Hélio Consolaro*

O núcleo regional da União Brasileira dos Escritores – UBE – Araçatuba-SP - discutiu por duas reuniões o livro “A garota rockstar”, de Jordemo Zaneli Júnior-Buritama-SP, um de seus membros. Infelizmente, não pude estar presente em nenhuma delas, portanto, aquilo que escreverei pode ter sido abordado nas duas oportunidades, coincidindo pontos de vista.

O livro tem uma apresentação gráfica impecável, digna de um best-seller, divisão precisa em capítulos: 100 mais epílogo, em 300 páginas, com preço acessível: R$ 30,00. Encontrei nela três erros de digitação, quase imperceptíveis, cujo percentual é baixíssimo em se tratando de livro publicado no interior, pela Editora Somos.

Não sei por qual motivo, os discursos indiretos livres e os pensamentos dos personagens foram escritos em itálico no livro, menosprezando a inteligência dos leitores, querendo entregar tudo mastigado, inclusive com notas explicativas, como se o livro fosse didático ou uma monografia.       

O autor viajou pelo mundo, pois as fotos de outros países são do arquivo do autor, isso lhe permitiu fazer uma narrativa cujo cenário é o mundo. Certamente, a escritura do livro exigiu pesquisas complementares e árduas.

Conheço Jordemo desde a sua juventude, quando na luta por eleições diretas para presidente da República, em 1984. Ele era militante do PCdoB e estudante da Faculdade de Direito da antiga Instituição Toledo de Ensino de Araçatuba. Essa militância marxista justifica de certa forma a intenção de ele desejar transformar a obra de arte num instrumento de catequese, como fez José de Anchieta ao escrever seus versos na areia e Jorge Amado em todos os seus livros anteriores a “Gabriela, Cravo e Canela”.

“A garota rockstar” é uma campanha contra as drogas e defende o engajamento político dos jovens, reproduzindo até os estatutos da União Nacional dos Estudantes. Enfim, o personagem Paul toma posse como membro do parlamento, eleito pelo povo porque se tornou conhecido por sua própria história, e o livro transcreve o discurso na íntegra, como mais um político que quer mudar o mundo. Com isso, pode-se dizer que é um romance de tese, como propunha os escritores do século 19, realistas e naturalistas.    

Não estou dizendo que o livro é mal-escrito, tento colocá-lo no contexto da história ocidental da literatura. A narrativa é muito emocionante para terminar tão pobre, num discurso de posse de deputado. A estética de hoje deixa a obra falar por si mesma para cumprir sua tarefa de “obra aberta” como ensinou Umberto Eco ou para que ela exerça sua polifonia.

Os livros da série “Harry Potter” vendem tanto porque têm apenas a intenção de entreter o leitor. A sua função principal não é passar lição de moral como costumam fazer livros da literatura infanto-juvenil.

Li apressadamente o livro “A garota rockstar” quando Jordemo Zaneli Júnior me pediu uma nota para a capa, li-o novamente, com mais vagar, agora, depois de editado e impresso. As duas leituras foram válidas, não perdi tempo com elas. Recomendo o livro para que ele seja lido por adultos e adolescentes, adotados por professores no ensino fundamental II e médio. Pode ser usado na campanha contra as drogas. As alfinetadas acima são manifestações de um professor de Português, ranzinza, que gosta de ruminar o livro após a sua leitura, buscando interpretações para o que foi lido.

Se Paulo Coelho pode, por que o Jordemo não!

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP

2 comentários:

HAMILTON BRITO... disse...

Quando eu escrever o meu livro nao quero que nenhum professor de português o leia...o racinha pra por " oio grande" em tudo.

Jordemo disse...

Obrigado Hélio por recomendar meu livro. Quando o escrevi, entendia que precisávamos rever alguns conceitos e orientações visando combater graves ameaças à criação dos nossos filhos. Fiz de maneira sutil, com direito aos leitores de desfrutarem de uma emocionante aventura pelo mundo, grande abraço.