Hélio
Consolaro*
O
núcleo regional da União Brasileira dos Escritores – UBE – Araçatuba-SP - discutiu
por duas reuniões o livro “A garota rockstar”, de Jordemo Zaneli Júnior-Buritama-SP,
um de seus membros. Infelizmente, não pude estar presente em nenhuma delas,
portanto, aquilo que escreverei pode ter sido abordado nas duas oportunidades,
coincidindo pontos de vista.
O
livro tem uma apresentação gráfica impecável, digna de um best-seller, divisão
precisa em capítulos: 100 mais epílogo, em 300 páginas, com preço acessível: R$
30,00. Encontrei nela três erros de digitação, quase imperceptíveis, cujo
percentual é baixíssimo em se tratando de livro publicado no interior, pela Editora
Somos.
Não
sei por qual motivo, os discursos indiretos livres e os pensamentos dos
personagens foram escritos em itálico no livro, menosprezando a inteligência dos
leitores, querendo entregar tudo mastigado, inclusive com notas explicativas, como
se o livro fosse didático ou uma monografia.
O
autor viajou pelo mundo, pois as fotos de outros países são do arquivo do
autor, isso lhe permitiu fazer uma narrativa cujo cenário é o mundo.
Certamente, a escritura do livro exigiu pesquisas complementares e árduas.
Conheço
Jordemo desde a sua juventude, quando na luta por eleições diretas para
presidente da República, em 1984. Ele era militante do PCdoB e estudante da
Faculdade de Direito da antiga Instituição Toledo de Ensino de Araçatuba. Essa
militância marxista justifica de certa forma a intenção de ele desejar transformar
a obra de arte num instrumento de catequese, como fez José de Anchieta ao escrever
seus versos na areia e Jorge Amado em todos os seus livros anteriores a “Gabriela,
Cravo e Canela”.
“A
garota rockstar” é uma campanha contra as drogas e defende o engajamento político
dos jovens, reproduzindo até os estatutos da União Nacional dos Estudantes.
Enfim, o personagem Paul toma posse como membro do parlamento, eleito pelo povo
porque se tornou conhecido por sua própria história, e o livro transcreve o
discurso na íntegra, como mais um político que quer mudar o mundo. Com isso,
pode-se dizer que é um romance de tese, como propunha os escritores do século
19, realistas e naturalistas.
Não
estou dizendo que o livro é mal-escrito, tento colocá-lo no contexto da história
ocidental da literatura. A narrativa é muito emocionante para terminar tão
pobre, num discurso de posse de deputado. A estética de hoje deixa a obra falar
por si mesma para cumprir sua tarefa de “obra aberta” como ensinou Umberto Eco
ou para que ela exerça sua polifonia.
Os
livros da série “Harry Potter” vendem tanto porque têm apenas a intenção de
entreter o leitor. A sua função principal não é passar lição de moral como costumam
fazer livros da literatura infanto-juvenil.
Li
apressadamente o livro “A garota rockstar” quando Jordemo Zaneli Júnior me
pediu uma nota para a capa, li-o novamente, com mais vagar, agora, depois de
editado e impresso. As duas leituras foram válidas, não perdi tempo com elas.
Recomendo o livro para que ele seja lido por adultos e adolescentes, adotados
por professores no ensino fundamental II e médio. Pode ser usado na campanha
contra as drogas. As alfinetadas acima são manifestações de um professor de
Português, ranzinza, que gosta de ruminar o livro após a sua leitura, buscando
interpretações para o que foi lido.
Se
Paulo Coelho pode, por que o Jordemo não!
*Hélio
Consolaro é professor, jornalista e escritor. Atualmente é secretário municipal
de Cultura de Araçatuba-SP
2 comentários:
Quando eu escrever o meu livro nao quero que nenhum professor de português o leia...o racinha pra por " oio grande" em tudo.
Obrigado Hélio por recomendar meu livro. Quando o escrevi, entendia que precisávamos rever alguns conceitos e orientações visando combater graves ameaças à criação dos nossos filhos. Fiz de maneira sutil, com direito aos leitores de desfrutarem de uma emocionante aventura pelo mundo, grande abraço.
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