Hélio
Consolaro*
Esta obra é feita com tinta acrílica importada, e o suporte da tela é um painel e sua madeira tratada. Possui texturas que integram com o desenho do casal. Trabalho exclusivo feito por Simone Amaral. http://governadorvaladares.olx.com.br/caricias-i-iid-4638794
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Uma amiga
on-line me pediu parabéns para o seu aniversário. Ela mora distante, de vez em
quando tece comentários nas matérias de
meu blog. Ela não tem acanhamento de ser uma mendiga de carícias.
Veja o primeiro
parágrafo de seu texto:
“Meus
amigos queridos: hoje faço 58 anos. Sinto-me muito bem, saudável, cheia de
sonhos (até porque não sonho grande demais!). Por
incrível que pareça, estou sozinha. Minha filha está trabalhando normal neste
feriado (das 10 às 22h - hoje até 20h); a outra está na casa do namorado; meu
filho está com o pai. E desde domingo estou sozinha. Sozinha? Estou comigo, com Deus e os espíritos
que têm paciência comigo.”
COMENTÁRIOS
DO CONSA: às vezes, também tenho esse sentimento de que sou a pior das
criaturas, de ninguém ter paciência
comigo. Na velhice, todas as nossas idiossincrasias vêm à tona, por isso
nos tornamos chatos. Quase sempre, somos chatos mesmo. Ficamos muito carente e
nem aquela que nos acompanha desde mocinho não nos entende, o relacionamento desgastado, sem ter mais o que conversar.
E ela
continua:
“Hoje
levantei, lavei varanda e as ‘lindezas’ das minhas cadelinhas, curti minhas
plantas, depois fiz um cartaz bem colorido me desejando "Feliz
Aniversário", coloquei um CD de rock dos anos 70/80, dancei um
tanto e depois fui pintar. De tão feliz, vim pedir boas festas de ano
novo aos amigos, traduzindo: vim pedir carinho pelo aniversário. À noite, filhas,
filho, namorados das filhas virão pra cá. Vou fazer um macarrão com molho
branco, frango e legumes. Alguém vai
trazer torta de frutas pra colocar todas as velinhas. Vai ser um fogaréu. Estou
em paz, equilibrada e é esse bem estar que desejo aos meus amigos que receberam
essa mensagem.”
COMENTÁRIO
DO CONSA: estar equilibrado e em paz. Quem não
passou por turbulências interiores não sabe a dimensão
dessa frase. A procura da paz e do equilíbrio se transforma em ansiedade
. Às vezes, ouve-se o testemunho de uma pessoa, declarando que encontrou Jesus
e está bem. Alguém pode rir dela, uma pieguice religiosa. Pode até ser um
sentimento passageiro, uma ponte, mas
essa coisa de rir espontaneamente de tudo é uma riqueza.
Outro
dia, uma amiga me procurou, me disseram que ela ria muito, parecia viver entre
os anjos. A notícia que me chegou era
que a fulana surtou, chegou a ser internada. Fiquei a me perguntar: será que
não era excesso de felicidade, de ter tido um momento de lucidez e viu o mundo
com os olhos de Deus?
Assim
minha amiga internauta, que me mandou e-mail pedindo parabéns para o seu
aniversário, é uma mendiga de carícias. Aos poucos vou descobrindo que eu
preciso vestir meus andrajos emocionais, catar aquilo que me sobrou em minha
alma, pôr tudo numa sacola reciclável, sair pela rua gritando: uma carícia pelo
amor de Deus!
*Hélio
Consolaro é professor, jornaslista e escritor. Atualmente é secretário
municipal de Cultura
ESTA MÚSICA É MELHOR QUE A CRÔNICA
Trecho de concurso de jovens cantoras com a participação de
Charles Aznavour. Tradução e legendas: Sérgio Pereira - slagp@uol.com.br
COLABORAÇÃO (MÚSICA): JOSÉ HAMILTON COSTA BRITO
4 comentários:
Emocionada........meu Deus...não quero chegar aos 58 assim, sonhando pouco. Será que isso seria possível ou tem mesmo que ser assim, solidão?
Quanto à costumeira chatice das pessoas de mais idade, posso imaginar, pois vi meus pais ficando chatos, eu sou uma chata e amo um chato, daqueles de dar nó em goteira. Mas afirmo sem medo de errar: o Amor resiste, quando é teimoso e verdadeiro. Não tenho vergonha de mendigar carinho e essa mulher tem o meu respeito, pela coragem de pedir. Secretário, um abraço para o senhor.
Emocionada........meu Deus...não quero chegar aos 58 assim, sonhando pouco. Será que isso seria possível ou tem mesmo que ser assim, solidão?
Quanto à costumeira chatice das pessoas de mais idade, posso imaginar, pois vi meus pais ficando chatos, eu sou uma chata e amo um chato, daqueles de dar nó em goteira. Mas afirmo sem medo de errar: o Amor resiste, quando é teimoso e verdadeiro. Não tenho vergonha de mendigar carinho e essa mulher tem o meu respeito, pela coragem de pedir. Secretário, um abraço para o senhor.
Nossa Hélio!
Como fiquei emocionado com a sua crônica e com a canção de Charles Aznavour... Conhecia a música, porém desconhecia a tradução.
Emanou sensibilidade de sua alma, professor, quando afaga com sua real experiência e requintadas palavras a sua leal leitora.
Nem tenho tantos anos vividos, mas tenho experienciado a vida em sua amplitude, às vezes rememoro meus vinte e poucos anos e me sinto exulcerado por coisas que fiz, no entanto, por outras tenho orgulho.
A vida é assim, devemos compor os dias, sem desmerecer o passado e sem desperdiçar o porvir.
Se não tivéssemos vivido "Ainda Ontem" os nossos vinte anos, agindo com tanto ímpeto e audácia, não teríamos compreendido a vida, nem mesmo o sentido de viver.
É tão bom perceber que somos efêmeros e o que de fato ficará marcado serão as palavras ditas, benditas e outrora malditas... Enfim, nossas obras...
Aproveito para felicitar a personagem de sua crônica e sugiro mais uma canção para repercutir sobre nossa passagem pela juventude e, consequentemente, pela vida.
http://www.youtube.com/watch?v=2qqN4cEpPCw
Hélio, sei que a burocracia nos escraviza artisticamente, mas percebo que sua essência não foi corrompida pelas mazelas que a política impõe!
Te desejo muita serenidade e sanidade no decorrer desse final de jornada professor!
Com Admiração,
Prof. Alexandre Sônego de Carvalho
Caro Hélio!
A música é muito linda e emociona, mas sua crônica, muito mais!
Não sei se há problema, de sua parte, na minha identificação como personagem de sua crônica. Pra mim não há problema nenhum, assim como não senti nenhum constrangimento em pedir carinho (pedi aos amigos que fazem diferença na minha vida!), afinal eu adoro aniversariar! Neste dia eu me sinto muito importante. É o "meu" dia! E eu estava em paz, tranquila. Não era uma solidão dolorida, sem remédio. Era uma escolha! (sabe que liguei para meu irmão que é muito lerdo e disse que não queria correr o risco de ficar sem os parabéns dele? rs...).
Hélio, eu não tenho vergonha de expor sentimentos e fiquei muito, muito feliz com sua crônica - mesmo que ela me faça ficar refletindo até o próximo aniversário. Quer carinho maior que esse seu???
Um forte abraço. Muito obrigada!
(percebi que vc é muito querido e admirado! Muito bom! Tb sou sua fã!)
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