AGENDA CULTURAL

23.2.12

Uma carícia, pelo amor de Deus!


Hélio Consolaro*
Esta obra é feita com tinta acrílica importada, e o suporte da tela  é um painel e sua madeira tratada. Possui texturas que integram com o desenho do casal. Trabalho exclusivo feito por Simone Amaral. http://governadorvaladares.olx.com.br/caricias-i-iid-4638794

Uma amiga on-line me pediu parabéns para o seu aniversário. Ela mora distante, de vez em quando  tece comentários nas matérias de meu blog. Ela não tem acanhamento de ser uma mendiga de carícias.

Veja o primeiro parágrafo de seu texto:
“Meus amigos queridos: hoje faço 58 anos. Sinto-me muito bem, saudável, cheia de sonhos (até porque não sonho grande demais!). Por incrível que pareça, estou sozinha. Minha filha está trabalhando normal neste feriado (das 10 às 22h - hoje até 20h); a outra está na casa do namorado; meu filho está  com o pai.  E desde domingo estou sozinha.  Sozinha? Estou comigo, com Deus e os espíritos que têm paciência comigo.”

COMENTÁRIOS DO CONSA: às vezes, também tenho esse sentimento de que sou a pior das criaturas, de ninguém ter paciência  comigo. Na velhice, todas as nossas idiossincrasias vêm à tona, por isso nos tornamos chatos. Quase sempre, somos chatos mesmo. Ficamos muito carente e nem aquela que nos acompanha desde mocinho não nos entende, o  relacionamento  desgastado, sem ter mais o que conversar.

E ela continua:
“Hoje levantei, lavei varanda e as ‘lindezas’ das minhas cadelinhas, curti minhas plantas, depois fiz um cartaz bem colorido me desejando "Feliz Aniversário", coloquei um CD de rock dos anos 70/80, dancei um tanto e depois fui pintar. De tão feliz, vim pedir boas festas de ano novo aos amigos, traduzindo: vim pedir carinho pelo aniversário. À noite, filhas, filho, namorados das filhas virão pra cá. Vou fazer um macarrão com molho branco, frango e legumes. Alguém  vai trazer torta de frutas pra colocar todas as velinhas. Vai ser um fogaréu. Estou em paz, equilibrada e é esse bem estar que desejo aos meus amigos  que receberam  essa mensagem.”

COMENTÁRIO DO CONSA: estar equilibrado e em paz. Quem não  passou por turbulências interiores não sabe  a dimensão  dessa frase. A procura da paz e do equilíbrio se transforma em ansiedade . Às vezes, ouve-se o testemunho de uma pessoa, declarando que encontrou Jesus e está bem. Alguém pode rir dela, uma pieguice religiosa. Pode até ser um sentimento passageiro,  uma ponte, mas essa  coisa de  rir espontaneamente de tudo é uma riqueza.

Outro dia, uma amiga me procurou, me disseram que ela ria muito, parecia viver entre os anjos.  A notícia que me chegou era que a fulana surtou, chegou a ser internada. Fiquei a me perguntar: será que não era excesso de felicidade, de ter tido um momento de lucidez e viu o mundo com os olhos de Deus?    

Assim minha amiga internauta, que me mandou e-mail pedindo parabéns para o seu aniversário, é uma mendiga de carícias. Aos poucos vou descobrindo que eu preciso vestir meus andrajos emocionais, catar aquilo que me sobrou em minha alma, pôr tudo numa sacola reciclável, sair pela rua gritando: uma carícia pelo amor de Deus!

*Hélio Consolaro é professor, jornaslista e escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura

ESTA MÚSICA É MELHOR QUE A CRÔNICA 


Trecho de concurso de jovens cantoras com a participação de Charles Aznavour. Tradução e legendas: Sérgio Pereira - slagp@uol.com.br
COLABORAÇÃO (MÚSICA): JOSÉ HAMILTON COSTA BRITO

4 comentários:

Unknown disse...

Emocionada........meu Deus...não quero chegar aos 58 assim, sonhando pouco. Será que isso seria possível ou tem mesmo que ser assim, solidão?
Quanto à costumeira chatice das pessoas de mais idade, posso imaginar, pois vi meus pais ficando chatos, eu sou uma chata e amo um chato, daqueles de dar nó em goteira. Mas afirmo sem medo de errar: o Amor resiste, quando é teimoso e verdadeiro. Não tenho vergonha de mendigar carinho e essa mulher tem o meu respeito, pela coragem de pedir. Secretário, um abraço para o senhor.

Unknown disse...

Emocionada........meu Deus...não quero chegar aos 58 assim, sonhando pouco. Será que isso seria possível ou tem mesmo que ser assim, solidão?
Quanto à costumeira chatice das pessoas de mais idade, posso imaginar, pois vi meus pais ficando chatos, eu sou uma chata e amo um chato, daqueles de dar nó em goteira. Mas afirmo sem medo de errar: o Amor resiste, quando é teimoso e verdadeiro. Não tenho vergonha de mendigar carinho e essa mulher tem o meu respeito, pela coragem de pedir. Secretário, um abraço para o senhor.

Alexandre Sônego disse...

Nossa Hélio!

Como fiquei emocionado com a sua crônica e com a canção de Charles Aznavour... Conhecia a música, porém desconhecia a tradução.
Emanou sensibilidade de sua alma, professor, quando afaga com sua real experiência e requintadas palavras a sua leal leitora.
Nem tenho tantos anos vividos, mas tenho experienciado a vida em sua amplitude, às vezes rememoro meus vinte e poucos anos e me sinto exulcerado por coisas que fiz, no entanto, por outras tenho orgulho.

A vida é assim, devemos compor os dias, sem desmerecer o passado e sem desperdiçar o porvir.

Se não tivéssemos vivido "Ainda Ontem" os nossos vinte anos, agindo com tanto ímpeto e audácia, não teríamos compreendido a vida, nem mesmo o sentido de viver.

É tão bom perceber que somos efêmeros e o que de fato ficará marcado serão as palavras ditas, benditas e outrora malditas... Enfim, nossas obras...

Aproveito para felicitar a personagem de sua crônica e sugiro mais uma canção para repercutir sobre nossa passagem pela juventude e, consequentemente, pela vida.

http://www.youtube.com/watch?v=2qqN4cEpPCw

Hélio, sei que a burocracia nos escraviza artisticamente, mas percebo que sua essência não foi corrompida pelas mazelas que a política impõe!

Te desejo muita serenidade e sanidade no decorrer desse final de jornada professor!

Com Admiração,

Prof. Alexandre Sônego de Carvalho

Edna Feitosa disse...

Caro Hélio!
A música é muito linda e emociona, mas sua crônica, muito mais!
Não sei se há problema, de sua parte, na minha identificação como personagem de sua crônica. Pra mim não há problema nenhum, assim como não senti nenhum constrangimento em pedir carinho (pedi aos amigos que fazem diferença na minha vida!), afinal eu adoro aniversariar! Neste dia eu me sinto muito importante. É o "meu" dia! E eu estava em paz, tranquila. Não era uma solidão dolorida, sem remédio. Era uma escolha! (sabe que liguei para meu irmão que é muito lerdo e disse que não queria correr o risco de ficar sem os parabéns dele? rs...).
Hélio, eu não tenho vergonha de expor sentimentos e fiquei muito, muito feliz com sua crônica - mesmo que ela me faça ficar refletindo até o próximo aniversário. Quer carinho maior que esse seu???
Um forte abraço. Muito obrigada!
(percebi que vc é muito querido e admirado! Muito bom! Tb sou sua fã!)