Os esforços para impedir que as ações ligadas às artes sejam subordinadas a interesses de reprodução do capital
POR DENNIS DE OLIVEIRA - Revista da Cultura - Livraria Cultura
Nos
últimos anos, o debate sobre o direito e a proteção à diversidade
cultural tem crescido de forma significativa. Contraditoriamente, há
uma nítida monopolização mundial da indústria da cultura. A emergência
da visibilidade da diversidade cultural aponta desafios importantes
para as políticas culturais e também para a gestão, como são apontados a
seguir:
1º
- A indústria da cultura se transformou em uma das mais recentes
fronteiras de expansão do capital. Motivo: a mudança dos paradigmas de
produção e consumo. Estes se deslocaram de uma perspectiva de produção
em larga escala e consumo de massa para a produção em pequena escala,
diversificada e consumo de nichos de mercado. Em vez da massificação, a
distinção, a tribalização. Com isto, emerge a construção de
identidades grupais que são formadas a partir de proposição de
comportamentos e estilos de vida. Os bens culturais aparecem, assim,
como constituintes de territórios de identificações de estilos de vida.
2º
- A expansão do capital para as fronteiras da cultura traz lógicas
organizativas e produtivas para o seio de uma área que tende a ter
aversão às racionalidades burocráticas da produção capitalista. A
monopolização global da indústria cultural levaria, assim, a uma
padronização mundial de gostos. O poder de tais monopólios efetivamente
tiraria qualquer possibilidade de construção do novo.
Na obra Artes sob pressão,
Joost Smiers aponta como tais monopólios, articulados com um circuito
de produção de celebridades midiáticas que cumprem um papel fundamental
na propaganda de bens de consumo globais, subordinam as ações
culturais a interesses de reprodução do capital.
Por
esta razão, a garantia do direito humano à cultura depende
fundamentalmente de políticas públicas. A Unesco, com seus documentos
mais recentes, em especial o Relatório de 2009 (Investindo no diálogo intercultural) aponta uma perspectiva importante em termos de pensar a cultura desta forma.
Gilberto
Gil, ex-ministro da Cultura, enxerga a cultura em três dimensões:
dimensão simbólica ou antropológica (é inerente aos seres humanos a
capacidade de simbolizar, que se expressa por diferentes práticas
culturais); dimensão cidadã (os direitos culturais são parte integrante
dos direitos humanos e devem ser plataforma de sustentação das políticas culturais) e a dimensão econômica (a cultura vem se transformando, progressivamente, num dos segmentos mais dinâmicos da economia).
dos direitos humanos e devem ser plataforma de sustentação das políticas culturais) e a dimensão econômica (a cultura vem se transformando, progressivamente, num dos segmentos mais dinâmicos da economia).
A
percepção de que ação cultural deve ter raiz democrática – não só em
termos de acesso a bens culturais, mas também na produção e construção
de novos protagonismos, possibilita a dinamização de uma economia da
cultura inclusiva e cidadã. Esta visão complexa da cultura,
principalmente da sua circulação, coloca para o gestor de projetos deste
âmbito a necessidade de enxergar a sua atividade para além do mercado.
Efetivamente,
a consolidação do projeto cultural na ótica do financiador e/ou do
patrocinador se dá na dimensão do mercado (os sujeitos fruidores do
objeto cultural como público consumidor). Porém, a dinâmica da cultura
faz com que o “consumo” de bens culturais tangenciem também diálogos
interculturais à medida que sentidos são ressignificados, novas ideias
são provocadas e gestadas e, portanto, demandas são construídas.
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