AGENDA CULTURAL

12.4.12

Ser ator


Hélio Consolaro*



O ator Thiago Klimeck se enforcou acidentalmente durante a encenação da peça teatral Paixão de Cristo, em Itararé. Certamente, a companhia não tinha Cipa -Comissão Interna de Prevenção de Acidentes.

Parece que Thiago Klimeck não era um profissional, pois encarnou tanto o papel que quis imitar o representado Judas Iscariote, acabou se enforcando. Não soube manter a distância necessária. Ou foi ironia do destino? Quem quererá fazer o papel do traidor na Semana Santa em 2013 na cidade de Itararé?

Não será este croniqueiro a julgar (ou imaginar) o comportamento de um ator, mas o fato nos deixa intrigado, porque a tragicidade representativa se transformou numa tragédia real. Não sou especialista no assunto, mas deve ter havido outros casos semelhantes em que o ator ou atriz se transformou em cavalo do personagem.

Não tenho o gabarito para entrar em assunto tão polêmico, que faz parte do escaninho da alma humana, mas posso falar da profissão de ator. Atores sãos pessoas privilegiadas, pois podem ser quem eles quiserem na peça teatral, no filme ou na novela. Subentende-se que entendem o outro mais facilmente.

Hoje a profissão é muito prestigiada, cheia de plumas e paetês, mas na sociedade norte-americana, da prestigiosa Hollywood, houve época em que os atores não podiam ser enterrados em cemitérios públicos de tão marginalizados que foram em vida. Eram totalmente execrados.

Apenas sei, como secretário de Cultura de meu município, que os artistas no geral possuem ego do tamanho de um elefante. Como cronista, um pretenso escritor, não fujo à regra. Adoram rasgar seda quando se reúnem. E os atores praticam a bajulação com mestria. Exemplo: “Melinsky, eu queria lhe agradecer por prestigiar tão bem nossa cidade com sua profissão. Não só Araçatuba, mas o mundo”. “Caramba, você está muito bem.” “Você está ótimo.”  É só assistir a uma entrega do prêmio Oscar pela televisão. Talvez esse costume fora herdado de seus antepassados, porque se eles não se elogiassem, ninguém mais o faria.

O marketing pessoal não é exclusividade dos artistas, embora neles seja mais acentuado, porque já disseram que todo mundo é um outdoor ambulante de si mesmo para ganhar a admiração de todos. Afinal, todos queremos ser amados.

Atores e políticos têm o comportamento parecido. Os primeiros dizem que o público daquela cidade é o melhor mundo, e político que xinga o eleitorado porque não foi eleito tem carreira curta. Às vezes, um político habilidoso encontra um sujeito que não gosta, ele logo diz: “Eu preciso falar com você, passe lá no meu gabinete pra gente tomar um cafezinho”.  

Então, caro leitor, está embasbacado com os truques desse pessoal. Então. Há pessoas que vivem trabalhando como a formiga, outros são cigarras, ganham a vida no terreno abstrato das relações humanas. Sabe dissimular, elogiar, incluir e não ser preconceituoso. Tais pessoas entenderam que a vida é um palco e nele somos todos atores.

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP             

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