AGENDA CULTURAL

12.4.12

Existe, sim, amor pela cidade

Criador de murais com cenas históricas e temáticas ambientais. Eduardo Kobra faz sua maior pintura numa área de 2 mil metros quadrados
Com 35 anos de idade e 25 de profissão, Eduardo Kobra começou pichando muros em sua escola, passou depois pelo grafite e é apontado hoje como um dos maiores nomes da arte urbana. Autodidata, formou o Studio Kobra e já criou mais de mil obras espalhadas por São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Paris, Londres, Atenas e Miami. Emendando um trabalho ao outro, o muralista e artista plástico termina neste mês sua maior obra: a pintura de uma cena histórica em uma caixa d’água com 2 mil m². Nesta entrevista, ele fala justamente sobre esse ambicioso projeto, sua carreira e os planos para o futuro.

Você está trabalhando em sua maior obra, com cerca de 2 mil m². O que podemos esperar desse novo mural? Estou fazendo essa pintura em uma imensa caixa d’água no bairro de Santo Amaro. O mural tem como base uma imagem de São Paulo na década de 1950. De todas as pesquisas iconográficas que já fiz, essa imagem é a mais bela, porque mostra toda a plenitude da cidade antiga, com seus bondes, prédios e pessoas elegantemente vestidas. Existe uma mensagem oculta, que é justamente o meu amor incondicional por São Paulo, onde nasci e vivo há 35 anos, e que é a base de tudo o que faço artisticamente.

E como surgiu o interesse por retratar cenas históricas? Apareceu por acaso. Eu estava em um shopping visitando uma exposição de fotos antigas que mostravam a Avenida Paulista da década de 1920 com todos aqueles casarões. 

 
Foi então que percebi que derrubaram essas construções, deixaram apenas umas duas ou três. Na hora, aquilo me chamou a atenção para a falta de preservação do patrimônio histórico. Surgiu daí a ideia. Tinha um muro na Paulista que eu ia pintar e acabei pensando em retratar um contraste, para mostrar como a avenida era antes dessa transformação. Esse foi o primeiro trabalho que pintei dentro do projeto Muro das memórias.

Seus projetos são bem diferentes uns dos outros. Como os define? Durante anos, pintei tudo o que me pediram. Tinha os meus grafites na rua ligados à cultura hip-hop e também os trabalhos encomendados. No início, eram apenas essas duas coisas, mas ainda não possuía uma personalidade dentro dessa história. Esses dois primeiros momentos foram ultrapassados pelos trabalhos que faço agora. No projeto Muro das memórias, realizo um resgate das cenas históricas. Como sou muito ligado à natureza, ao meio ambiente e às questões ecológicas, criei o Greenpincel, no qual temos diversos murais espalhados pelo mundo. Minhas pinturas tridimensionais são pioneiras no Brasil, além das obras que faço para galerias de arte. Hoje defino meu trabalho por meio dessas vertentes.

E o que você tem vontade de pintar que ainda não foi realizado? Tem um painel no Rio de Janeiro que estou há anos querendo pintar. Ele faz parte da Faculdade de Música da UFRJ, fica na Lapa e tem cerca de 3 mil m². Estamos batalhando por esse espaço, mas está bem difícil de conseguir. Também tenho uma viagem da minha cabeça que é colorir os pilares vermelhos do MASP. Não que eu não goste do vermelho, mas acho que poderia modificar um pouquinho, levar a minha arte para aquelas colunas. 

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