Músicos de todo o mundo aproveitam alta demanda do mercado e se dedicam a compor trilhas exclusivas para jogos
Por Bruno Damasceno - ilustração de Maurício Planel
Quem gosta de games e, mais especificamente, do simulador de futebol Fifa,
da empresa norte-americana Electronic Arts (EA), sabe o quanto esse
jogo popularizou e continua a popularizar uma infinidade de músicas e
artistas de todo o mundo. E, se até 2002 apenas as bandas britânicas
emprestavam suas canções ao game,
desde então, tudo mudou, muito devido ao trabalho da brasileira
Raphaella Lima como produtora de trilhas sonoras da empresa.
“No ano seguinte [2003], incluí bandas do mundo inteiro. Sendo o futebol o esporte mais popular do mundo, o Fifa não seria completo se sua trilha não fosse globalizada. Fãs vibraram com a batida do Marcelo D2 e o swing
da Ivete Sangalo. E artistas como Cansei de Ser Sexy mostraram que a
música brasileira vai muito além da bossa nova e do samba”, garante
ela, que ainda trouxe em outras edições Gabriel O Pensador, Céu, Bonde
do Rolê e Zeca Pagodinho, entre outros.
Mas o cenário atual, amparado pela força bilionária dos games,
abre espaço cada vez mais para outra vertente: grupos ou cantores que
não apenas cedem canções para os jogos como compõem ou adaptam
exclusivamente para eles. Bons exemplos são as pop Lily Allen e Katy Perry, que adaptaram músicas para o “simlish”, nome do idioma artificial desenvolvido para o game The Sims, da empresa norte-americana Maxis.
“Mesmo na era em que o som se limitava a ‘blips’ e ‘blops’, o rock já fazia parte dos games. Rock & Roll Racing,
um jogo de corrida da era 16 bits, de 1993, se tornou famoso por
trazer em sua trilha versões digitalizadas de clássicos como Highway Star, Paranoid e Born to be Wild.
Toda essa evolução ocorreu em menos de 20 anos, obviamente ligada à
evolução da tecnologia”, opina Pablo Miyazawa, especialista em videogames e editor-chefe da revista Rolling Stone.
Entre
outros compositores que vêm se dedicando a esse mercado, podem ser
destacados os japoneses Koji Kondo, responsável pela trilha do jogo Super Mario Bros, e Nobuo Uematsu, criador da trilha da série Final Fantasy.
Na EA, um dos responsáveis por ficar de olho em tudo o que surge na
cena musical é Steve Schnur. “Não podemos esperar que a canção chegue
até nós. Temos que sair e encontrar música nova e grande e então
acreditar que milhões de jogadores sentirão o mesmo que nós. Por isso,
mantemos olhos e ouvidos em todos os selos e nas cenas independentes ao
redor do mundo”, conta.
Schnur destaca ainda que já encomendou partituras originais para famosos compositores de trilhas de cinema, como Hans Zimmer (Batman - O cavaleiro das trevas), Giacchino Mike (Star Trek e Up – Altas aventuras), Paul Oakenfold (A identidade Bourne), Bill Conti (Rocky) e Steve Jablonsky (Transformers) para games como Need for Speed, Medal of Honor, The Sims, The Godfather (esgotado), James Bond e Command & Conquer.
“Artistas
querem a sua música em nossos jogos pela razão mais importante de
todas: ter uma exposição global massiva e instantânea. Estar associado a
um jogo top também ajuda na imagem
deles. Se você é um artista e quer saber quem é seu público, o que ele
faz ou está ouvindo, pode apostar sua carreira que ele está jogando videogame agora”, assegura Schnur.
Porém,
Miyazawa é mais realista: “A importância já foi maior. Hoje, acho que
não faz tanta diferença assim, mesmo porque a internet quebra qualquer
barreira de distância”. ©
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