AGENDA CULTURAL

13.6.12

Assessoria santista


Hélio Consolaro*
Flamboyant
Quando o Palmeiras anda mal das pernas, e há muito tempo isso vem acontecendo, nem vejo programa de esportes pela televisão. Desligo e pronto. Não tenho vocação para ser masoquista.

O saudoso Mula, palmeirense fanático, não gostava de assistir a jogos comigo, porque em vez de eu xingar o adversário, eu esbravejava contra o Verdão. Essa diferente atitude manifesta um pouco a minha personalidade de não procurar culpados fora de casa, mas de primeiro fazer uma correção doméstica.    

Lá em casa, meu pai não gostava de futebol. Ele fazia parte daqueles antigos que consideravam o tal esporte como ocupação de vagabundos, desocupados. Enquanto morávamos na zona rural, nem sabia que existia futebol. No grupo escolar, não havia aula de educação física.

Ao nos mudar para a cidade, bairro Santana, por onde conheci Araçatuba, participei de peladas defronte ao Grupo Escolar Francisca de Arruda Fernandes, debaixo de “flamboyants”,  mas se eu e os manos fôssemos pegos correndo atrás de bola, o couro comia.  

Nessa época, Copa do Mundo de 1962, ainda sem televisão, conheci os jogadores brasileiros pelos álbuns de figurinhas. As tais carimbadas eram as mais difíceis. Para cada página cheia, havia prêmios como geladeira, bicicleta, batedeira de bolo, etc. Sonhos de consumo da época.
  
Na cidade, também descobri o pião, o bilboquê e as bolinhas de gude. Colecionar figurinhas e bolinhas era uma de nossas ocupações. Além de trabalhar, porque não havia Estatuto da Criança, Conselho Tutelar. Parecia que criança não era gente, os adultos batiam muito nos pequenos.
Flor de flamboyant
No ginásio, antigo I.E., conheci um professor de Inglês, catarinense, Hermínio Zonta, que depois virou advogado. E ele falava tanto do Palmeiras em sala de aula que me tornei torcedor alviverde. Para o mesmo caminho, como irmão mais velho, levei meus irmãos Beto e Luisinho. Gegê, logo abaixo de mim, se entusiasmou por Pelé e se tornou santista. Era a ditadura do primogênito. Para o desgosto dos filhos, nosso pai, depois de velho, resolveu torcer para o Corinthians.

Antigamente, quando o mundo era menos democrático, ter um filho que torcia para um time que não fosse o do pai, era uma afronta. Era motivo para surras. Ninguém  se atrevia.

Bem diferente de hoje. As reuniões familiares são muito tolerantes, há ex-sogra, enteados, meio irmãos, ex de um lado, ex do outro, muitos avós. Nessa falta de verticalidade, não é possível mais obrigar que o filho ou filha torça para o time do pai. A ferramenta máxima de um pai ausente é fazer chantagem, mas nem isso pega mais.   
Na Prefeitura de Araçatuba, ocorre um fenômeno interessante. O prefeito e o vice são santistas. Essa coincidência já é estranha. E na assessoria, os santistas se multiplicam.

Não sei se os assessores são vira-casacas, querem agradar o chefe. Ou ser santista foi um item importante no momento da escolha. Nepotismo é quando o político nomeia os sobrinhos, os parentes; e quando a escolha é feita pelo time que torce? Que nome recebe?

Num exercício de ambiguidade linguística, o prefeito Cido Sério afirma cheio de si pelos corredores: “Meu time está dando certo!” 

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de Araçatuba.

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