Hélio Consolaro*
Flamboyant |
Quando o Palmeiras anda
mal das pernas, e há muito tempo isso vem acontecendo, nem vejo programa de
esportes pela televisão. Desligo e pronto. Não tenho vocação para ser
masoquista.
O saudoso Mula,
palmeirense fanático, não gostava de assistir a jogos comigo, porque em vez de
eu xingar o adversário, eu esbravejava contra o Verdão. Essa diferente atitude
manifesta um pouco a minha personalidade de não procurar culpados fora de casa,
mas de primeiro fazer uma correção doméstica.
Lá em casa, meu pai não
gostava de futebol. Ele fazia parte daqueles antigos que consideravam o tal
esporte como ocupação de vagabundos, desocupados. Enquanto morávamos na zona
rural, nem sabia que existia futebol. No grupo escolar, não havia aula de educação
física.
Ao nos mudar para a
cidade, bairro Santana, por onde conheci Araçatuba, participei de peladas
defronte ao Grupo Escolar Francisca de Arruda Fernandes, debaixo de “flamboyants”,
mas se eu e os manos fôssemos pegos
correndo atrás de bola, o couro comia.
Nessa época, Copa do Mundo
de 1962, ainda sem televisão, conheci os jogadores brasileiros pelos álbuns de
figurinhas. As tais carimbadas eram as mais difíceis. Para cada página cheia,
havia prêmios como geladeira, bicicleta, batedeira de bolo, etc. Sonhos de
consumo da época.
Na cidade, também descobri
o pião, o bilboquê e as bolinhas de gude. Colecionar figurinhas e bolinhas era
uma de nossas ocupações. Além de trabalhar, porque não havia Estatuto da
Criança, Conselho Tutelar. Parecia que criança não era gente, os adultos batiam
muito nos pequenos.
Flor de flamboyant |
No ginásio, antigo I.E.,
conheci um professor de Inglês, catarinense, Hermínio Zonta, que depois virou
advogado. E ele falava tanto do Palmeiras em sala de aula que me tornei
torcedor alviverde. Para o mesmo caminho, como irmão mais velho, levei meus
irmãos Beto e Luisinho. Gegê, logo abaixo de mim, se entusiasmou por Pelé e se
tornou santista. Era a ditadura do primogênito. Para o desgosto dos filhos,
nosso pai, depois de velho, resolveu torcer para o Corinthians.
Antigamente, quando o
mundo era menos democrático, ter um filho que torcia para um time que não fosse
o do pai, era uma afronta. Era motivo para surras. Ninguém se atrevia.
Bem diferente de hoje. As
reuniões familiares são muito tolerantes, há ex-sogra, enteados, meio irmãos,
ex de um lado, ex do outro, muitos avós. Nessa falta de verticalidade, não é possível
mais obrigar que o filho ou filha torça para o time do pai. A ferramenta máxima
de um pai ausente é fazer chantagem, mas nem isso pega mais.
Na Prefeitura de
Araçatuba, ocorre um fenômeno interessante. O prefeito e o vice são santistas.
Essa coincidência já é estranha. E na assessoria, os santistas se multiplicam.
Não sei se os assessores
são vira-casacas, querem agradar o chefe. Ou ser santista foi um item importante
no momento da escolha. Nepotismo é quando o político nomeia os sobrinhos, os
parentes; e quando a escolha é feita pelo time que torce? Que nome recebe?
Num exercício de ambiguidade
linguística, o prefeito Cido Sério afirma cheio de si pelos corredores: “Meu time está dando certo!”
*Hélio Consolaro é
professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura
de Araçatuba.
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