Imagem de um cientista após sete horas
tentando decifrar os cinco primeiros versos de Tempo Rei.
ESPERANTO – Em cerimônia impenetrável em que todos se confundiram já no
“Bom dia”, o intelectual, literato e grande mestre do português
indecifrável Candido Mendes entregou a Ordem do Mistério Enigmático, no
grau Charada Abstrusa, a Gilberto Gil, “em homenagem estreme e
impermista a suas setenta metáforas pulcras”.
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GILBERTO GIL E A RÉGUA E COMPASSO DA REVISTA PIAUÍ
Raul Longo
Recebo pela caixa postal eletrônica alguns links, entre eles um que me chamou a atenção: Gilberto Gil completa 70 metáforas incompreensíveisNa pressa da leitura não encontrei o nome do autor que só percebi ao copiar a página para reproduzi-la aqui, abaixo de meu comentário sobre o que ali se escreve a respeito da poesia do consagrado compositor.
Na abertura do “Blog do Consa” que leva à versão eletrônica da Revista “Piauí” se indica que a reprodução dos textos do autor só é permitida se creditada a autoria. Nada mais justo, até porque o colaborador do “Consa” e da “Piauí” foi o próprio remetente à minha caixa postal: Hélio Consolaro.
Ele mesmo é o autor do que copiei adiante da minha resposta ao envio, inadvertidamente me reportando sobre alguém de quem não tivesse informação de quem fosse.
Cumprida a indicação da autoria da matéria e explicada minha falha no comentar o comentário divulgado pela “Piauí”, aí vão ambas para apreciação geral:
Hélio, não tive paciência para ler tudo, mas me interessou a matéria sobre as metáforas do Gilberto Gil.
Impressionante
o comentarista em seu eruditismo filosófico, mas tão incapaz de superar
o martelo concretista. Ao que faz notar que para ele a poesia parou em
“Havia uma pedra no meio do caminho, no meio do caminho havia uma
pedra...”, etc. e tal, que, para o próprio Drummond, foi exercício
passageiro. Afinal não só o poeta tinha criatividade e inteligência para
muito além, como nossa própria cultura, brasileira, oferece espaços e
campos bem mais amplos do que os cinzentos concretos da paulistana
Piauí.
Talvez
o articulista exulte com o resgate do nome do estado nordestino numa
publicação da mais rica cidade do sudeste do país, mas, perceptivelmente
não faz ideia alguma da cultura nordestina, daí tanto se espantar com a
bem humorada licenciosidade em metáforas e aliterações, tão comum entre
aquela cultura por heranças e miscigenações afro-indígenas.
O
próprio Gil há muito já tentou esclarecer que o poeta – não apenas
ele, Gil, mas abrangendo universalmente a prática do compor poético –
“pode estar querendo dizer o incontível”. Assim mesmo, apesar do Teseu
da Piauí desfiar os novelos acadêmicos de Ariadne, se perdeu no
labirinto simples, quase infantil, de uma brincadeira do Gil. Terá lhe
faltado, na infância, uma carinhosa babá para ensiná-lo a “dandá neném” ?
Tristes
esses paulistas que vasculham nos sombrios porões da Europa o que não
conseguem perceber dos vastos e iluminados pomares de nossos quintais. E
pensar que foi um paulista quem contou da árvore Volomã que o
comentarista não conseguiu decifrar no abacateiro do poeta baiano.
Natural.
Afinal o abacateiro é nativo da América Central, Macunaíma é da
Venezuela e o Mário de Andrade, um brasileiro. As prateleiras das
bibliotecas onde o acadêmico foi buscar suas ironias distantes da
sinceridade do sarcasmo de certas metáforas típicas de nossa cultura,
são europeias. Talvez confeccionadas com madeiras do nosso continente,
provavelmente até de jacarandá da Bahia, mas, evidentemente, árvores
mortas.
E também Se evidencia uma má colocação minha, pois me refiro a “nossa
cultura” enquanto o autor esclarece não se incluir ao pronome, embora,
as metáforas de Gil sejam, já há muitas décadas, reconhecidas
internacionalmente, inclusive na Europa das origens acadêmicas do
colunista da “Piauí”.
Ou
seja, o realmente intrigante neste articulista é que se não consegue
conceber no estalido do berimbau e nos movimentos da capoeira a “volta
ao mundo” a que se refere a frase do verso do Gil e em Caetano Veloso
reinterpretando o mesmo circular tecer do labirinto cósmico se distingue
como “pés na Bahia e mãos na África e mãos na Terra e pés no Céu”; por
que o estonteado camará se perde de seus rumos?
Se
lhe é impossível alcançar o tecer da manhã pelos cantos dos galos de
João Cabral de Melo Neto, por que diabos escreve e publica numa revista
com o nome de “Piauí”?
Em
homenagem a esta tão estoica determinação construirei aqui, agora,
nesse instante (ou será que já foi feita por outro e só a reproduzo?),
uma metáfora que, espero, seja do agrado e acessível à acadêmica
compreensão deste crítico:
“A pedra
é uma pedra,
é uma pedra,
é uma pedra,
é uma pedra,
é uma pedra... (repete-se indefinidamente)
Um comentário:
A 'revista Piauí Herald' é um site humorístico. É piada, chiste, não é matéria real. É Ficção.
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