AGENDA CULTURAL

20.6.12

O DIA EM QUE REVISITEI O INTEC

Valdevino Bittencourt
 
Era meados dos anos 70.         A gente vivia sob o regime de exceção. Naquela época, o cruzamento da Princesa com Marechal era apenas uma esquina. Ainda não havia por aqui shopping nem os fast-foods. Os jornais falavam de Emílio e de Geisel. Falavam dos anos de chumbo.
          Era Rita Lee ainda uma Mutante, mas já ensaiava o Fruto Proibido. E os Novos Baianos não haviam cruzado a Ipiranga com a Avenida São João, porque Caetano ainda se divertia com seus Doces Bárbaros, na mais completa tradução.
         Mas ja havia o INTEC, pra turma se reunir. Protestavam, discutiam e reinventavam o mundo. Era uma espécie de quartel general da esquerda.
        Alguns, “baseados” e inspirados no incrível Exército de Brancaleone, achavam que podiam mudar o mundo. Era pura fumaça, ou fumaça pura! Hahahahahaha...
        No sábado, dia 9, convidado para a reinauguração do Castro Alves, me senti transportado no tempo.
        Chego e dou de cara com Franco Baruselli, o italiano mais brasileiro que conheço. Vejo ao lado o Oséias e, num outro canto, Márcio Rampin e Olivieri. E Nelson Camargo, que ganhou cabelos branco, reafirmando a mudança de um senhor diretor teatral.
        Ou já seria um diretor senhor?
        Reinaldinho Penteado, agora o Dr. Reinaldo, cuidava de registrar tudo em suas lentes, pois ele bem sabe que a história não se repete em todos os seus detalhes.
        Eu vi os músicos Cesar Menezes, Márcio Kada, Pepa, Querô, Alcides Mazzine, Mauro Rico, Help, José Renato, Osvaldo Martins e Makô, se revezando no palco com musicas de boa qualidade e dando revestimento a uma crônica assinada por Helio Consolaro.
        Meus olhos se negaram ver que tudo estava mudado.
        Preferiram as imagens de três décadas fixadas pela retina. Tudo me parecia como antes. Magno Martins, com seu indefectível boné, ainda é o mesmo menino de voz aveludada. Eu vi Paulo Roberto, Tito Damazo e revi tantos outros...
        Cido Sério também estava lá. Esse não tem mais a vasta cabeleira “black power”, que deu lugar a um moderno corte. Também trocou a surrada calça boca-de-sino por um terno de grife e abandonou a bolsa de barbante e o chinelão no mais tradicional estilo hippie, que simbolizava o movimento de contracultura nos anos 60/70.
        Magno Martins subiu ao palco e cantou com o público Mãe Natureza, nos trazendo à lembrança tantos festivais.
        Sob aplausos e quero bis...quero bis.... A cortina se fechou.
        O teatro Castro Alves estava reinaugurado.
        Já era madrugada de domingo. Ahhhh! se o Ok Bar ainda estivesse ali, com o melhor paulista do Brasil.
         Fui pra casa assobiando Coca-Cola Blue, imaginando que um dia a ponte aérea poderia ter mesmo caído sobre o Rio de Janeiro, como cantou Magno.

Um comentário:

O Poeta das Multidões disse...

Restaurar o teatro Castro Alves, foi realmente maravilhoso. Reportei-me momentos inesquecíveis da minha juventude. Todos os amores que me abandonaram e também todos os chifres que levei. E segundo o filosofo e "ateu pentecostal" Ventura Picasso, O primeiro chifre é que nem o primeiro sutiã. Jamais se esquece. Heitor Gomes.