AGENDA CULTURAL

23.6.12

Trabalhos escolares copiados da internet


Ryon Braga* 


A cruzada contra o plágio e a cópia de trabalhos da internet tem movimentado intensamente professores, escolas e faculdades em todo o mundo.


A Universidade de Oxford, na Inglaterra, obriga seus alunos a assinarem, na matrícula, um documento que permite a tomada de medidas drásticas, como a expulsão, se o aluno for pego plagiando em algum trabalho.

No Brasil já existe até um site na internet "em defesa da integridade acadêmica"- o Plágio.Net, que chega até a emitir um "certificado antiplágio".

Compreender a questão da responsabilidade e da ética (ou falta de) envolvida no plágio é consenso de todos os educadores. O que não é consenso é a compreensão das causas do problema.

Transferir integralmente a culpa para o estudante é um erro que vem sendo cometido sistematicamente por educadores de todo o mundo.

Em momento algum podemos deixar de considerar o erro cometido pelo estudante ao copiar um trabalho e assinar como seu, nem tampouco eximi-lo da responsabilidade de tal ato.

O que pretendo mostrar é que o professor é corresponsável pelo plágio de seu aluno e merece igualmente ser punido por tal ato.

Se um estudante recebe uma nota zero quando seu professor descobre que o trabalho que foi entregue é copiado da internet, este professor também deve ser objeto de uma nota zero por ter sido incapaz de formular uma proposta de trabalho que impedisse a cópia literal.

Por exemplo: se um professor da disciplina de teoria geral da administração pede a seus alunos que escrevam um texto sobre o Taylorismo e percebe que parte de seus alunos simplesmente copiou o texto do primeiro site sobre o assunto que encontraram na internet, este professor merece mais a nota zero do que os alunos que plagiaram.

Ele poderia ter facilmente evitado o plágio e não o fez. Poderia ter pedido aos alunos que descrevessem os princípios Tayloristas utilizados na Farmácia do Zé, o na Padaria do Manoel, ou ainda qualquer outra contextualização que exigisse que o aluno compreendesse o significado do Taylorismo e tivesse que descrevê-lo, de forma aplicada, em um contexto real, praticamente impossível de ser copiado de qualquer lugar na Internet.

Se evitar o plágio por parte dos estudantes é tarefa fácil para o professor, porque então isso não acontece na prática e, ao contrário, vemos uma verdadeira guerra punitiva aos plagiadores?

A resposta a esta questão não é tão simples, mas ousaria dizer que a base do problema reside na falta de preparo dos docentes para uma nova realidade de ensino/aprendizagem que a tecnologia proporciona.

O acesso universal à informação exige um novo tipo de professor. Exige alguém preparado para compartilhar, orientar, construir junto e até aprender com seus alunos. O magister dixit e a autoridade de cátedra será enterrada junto com a última geração de docentes que se formou antes do advento da internet.

Além do despreparo dos docentes bem-intencionados, que podem mudar se quiserem, há o problema dos docentes não tão bem-intencionados (ainda que sejam minoria), que fazem da guerra contra o plágio uma plataforma pessoal de autopromoção.


*Ryon Braga é presidente da Hoper Educação


OBSERVAÇÕES DO BLOGUEIRO
Concordo com o articulista. Antigamente, o demônio da escola era a televisão. Em vez de integrá-la, formando um telespectador crítico, era mais fácil demonizá-la. Agora, o grande mal apontado por educadores conservadores é a internet.  
Na minha época de aluno no curso ginasial, há quase 50 anos, quando o professor não contextualizava a proposta do trabalho escolar, copiávamos trabalhos das enciclopédias. Como eram poucas as fontes, o professor pegava os copiados com mais facilidades, os zeros vinham com mais facilidade. 
Como escrevu Ryon Braga, a solução não dar zero, mas fazer uma proposta de trabalho escolar contextualizada, aplicada à realidade do aluno.


2 comentários:

Michele disse...

Lá vem mais uma vez um crítico colocar a culpa nos professores... Claro né, somos sempre nós os despreparados, os que não têm boa formação ou incapazes de lidar com os alunos do século XXI. Parafraseando nosso jogador Ronaldo, talvez "nossas costas sejam mesmo bem largas para receber toda culpa".
Peço licença para fazer este comentário, pois julgo-me no direito de fazê-lo, afinal tenho propriedade em dizer que sou uma professora de Língua Portuguesa de 25 anos, atualizada, com ótima formação, trabalho com o uso das novas tecnologias em sala de aula e sou cheia de ideologias para que as aulas ministradas por mim sejam as mais diferenciadas possíveis. Passo horas e horas buscando coisas novas, textos diferentes, propostas atrativas e procuro inserir o contexto real nas aulas e vice versa, tentando fazer de meus alunos cidadãos mais críticos nestes mundo tão alienado. Estou sempre lendo e procurando alternativas para sanar as dificuldades de trabalho encontradas na escola pública, haja visto meu interesse em ler este texto. Infelizmente quem critica os professores não está dentro das salas de aula destas escolas todos os dias. Não vê a violência enfrentada por professores e alunos, o nível de "desconhecimento" que eles têm porque cada vez mais nossos jovens usam como muleta essas ferramentas que nós julgamos tão inovadoras para a educação. Quem critica um professor não sabe o quanto é doloroso ouvir os alunos dizerem (sobre qualquer assunto que você leve para a aula) que é chato, que sou brega ou ultrapassado ao ouvir uma música de Chico Buarque ou Adriana Calcanhoto, por exemplo.
Enfim, é muito triste, ao tentar ler um texto como este, que, em minha humilde esperança, seria para ajudar os professores a encontrar uma forma de esclarecer aos alunos o problema de se plagiar um trabalho alheio, e de repente defrontar-se novamente com um comentário infeliz de que a culpa é nossa por não saber elaborar bons trabalhos.

ESTACÃO BRASIL (UP GRADE) disse...

Hélio

Uma das soluções mais imediatas seria a necessidade de cobrança por parte dos professores da chamada BIBLIOGRAFIA - ao final do texto do trabalho - item obrigatório e regido por normas bem específicas, seja na consulta em livros, periódicos, ou na WEB. Assim, se reconheceria facilmente a fonte bibliográfica e o eventual plágio - o popular copia e cola. Acontece que muitos professores também ignoram quais são estas regras...Em segundo lugar, você tem toda razão quanto à questões contextualizadas. E em terceiro , deveria se exigir mais na análise e compreensão do próprio aluno sobre tal ou qual tema. Observo que, infelizmente, a maioria do estudantes universitários, para deixar de lado o restante dos alunos de outros níveis escolares, NÃO CONSEGUE CONSTRUIR UM TEXTO COERENTE E LÓGICO OU TÊM ENORME DIFICULDADE DE EXPRIMIR-SE TEXTUALMENTE. Isto de alguma forma reflete a capacidade de pensamento de cada um deles. E quanto a isto, nenhum professor pode fazer milagres...