O que é agente literário?
http://www.agenteliterario.com.br
Agentes literários são profissionais que representam autores junto às editoras. De acordo com o perfil da obra, eles procuram determinadas linhas editoriais paa aumentar o potencial de publicação do livro.
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Agentes literários são profissionais que representam autores junto às editoras. De acordo com o perfil da obra, eles procuram determinadas linhas editoriais paa aumentar o potencial de publicação do livro.
Daniel Japiassu - O Estado de S. Paulo - 09/07/2012
A carioca Luciana Villas-Boas gosta de um desafio. Depois de 17 anos "certinha, assalariada e vivendo num lugar só", resolveu mudar de vida. Objetivo? Transformar o mercado editorial brasileiro - que, segundo ela, ainda trata melhor os autores estrangeiros e precisa ganhar terreno lá fora.
A carioca Luciana Villas-Boas gosta de um desafio. Depois de 17 anos "certinha, assalariada e vivendo num lugar só", resolveu mudar de vida. Objetivo? Transformar o mercado editorial brasileiro - que, segundo ela, ainda trata melhor os autores estrangeiros e precisa ganhar terreno lá fora.
No começo deste ano, Luciana encarou mais um desafio: criou a
Villas-Boas & Moss Literary Agency & Consultancy. "A toda hora
preciso explicar o que faz um agente literário, prova de como estamos
atrasados." Na carteira, 26 autores (23 brasileiros) e listas de algumas
das maiores editoras internacionais. E, claro, muita vontade de
trabalhar.
Workaholic assumida, ela tem três casas - no Rio, em Atlanta e em
Nova York. Por isso, está sempre em movimento. Mãe de Miguel e Maria
Isabel (leitores vorazes) e passando mais tempo fora do País do que por
aqui, Luciana conversou com a coluna entre um compromisso e outro, pelo
telefone de seu endereço carioca.
Entre as principais queixas, a de que nada foi feito nos últimos anos
pela educação brasileira, complicando a vida de quem, como ela, vive
dos livros e da cultura. Como boa historiadora, Luciana ainda tem
esperança. A seguir, trechos da entrevista.
Como foi que você se viu no mundo dos livros?
Livro é um vício inacreditável. O Roberto Feith (da Objetiva) é um
exemplo perfeito. Era jornalista e largou tudo para ser livreiro. Meu
último cargo no JB foi editora do caderno Ideias. Eu conversava muito
com os editores, que eram minhas fontes. Um dia, o Sérgio Machado me
falou: "Se você quiser mudar de lado do balcão, me avisa". Eu recebi uma
proposta de outro editor e fui me despedir de todo mundo. Aí, o Sérgio
me cobrou - eu não tinha levado a sério. Ele fez uma proposta muito boa e
acabei indo para a Record.
Como foi esse desafio?
Desde o começo, era diretora editorial, mas a empresa era muito
menor. O desafio era reposicionar a Record, melhorar o catálogo de
livros e aproximá-la um pouco mais da imprensa.
Em que momento você começou a pensar em sair?
Fazia uns cinco anos que eu pensava na agência. O trabalho na Record
começava a ficar volumoso demais, eu sentia que a minha interlocução com
os autores brasileiros estava ficando afetada, eu não tinha tempo. E a
minha vida pessoal também ficou comprometida. Passei a pensar em ter uma
vida mais prazerosa.
Perder o acervo de Jorge Amado e Carlos Drummond de Andrade para a Companhia das Letras foi decisivo?
De jeito nenhum. Isso foi um delírio de parte da imprensa. Essas
coisas acontecem o tempo todo. Não houve ligação entre esse episódio e
minha decisão.
Atualmente, como está sua carteira de clientes?
Represento 26 autores - 23 brasileiros e três estrangeiros. E
trabalho com qualquer editora. O Miguel Sanches Neto, por exemplo. Fiz o
contrato de um livro para a Companhia das Letras e intermediei uma
encomenda de um trabalho dele para a Intrínseca. Ao todo, foram uns 30
contratos desde o começo da agência.
À frente da agência, que desafio você se impõe agora?
Gostaria de dar alguma contribuição, mesmo que pequena, para
normalizar o Brasil em sua relação com a literatura. Somos o único país
em que a ficção local, produzida por romancistas e contistas
brasileiros, tem espaço ínfimo no conjunto da economia literária. Não
vamos falar em países europeus, como França, Alemanha, Itália e Espanha.
Mesmo no México e na Argentina, a produção local tem mais peso na
livraria do que no Brasil. É esquizofrênico.
Acredita na redescoberta da literatura brasileira?
Sempre que possível, quero ser agente dessa redescoberta e dessa
normalização. Não "a" agente, mas "um" agente, um fator que contribua
para mudar o quadro que descrevi. Sempre que prospectar um grande livro e
representá-lo junto aos editores, vou cobrar tratamento editorial
equivalente ao que é dado às obras estrangeiras. Fazendo isso, estarei
cumprindo esse papel.
Livro é mesmo caro aqui?
Não acho que preço seja fundamental, é uma outra problemática. O
profissional liberal que tem dinheiro para comprar um best-seller
internacional não compra de um autor brasileiro. É um preconceito que
talvez até se justifique.
Por quê?
Porque os editores, talvez influenciados pelos departamentos de
Letras das universidades, passaram a publicar, principalmente, autores
brasileiros extremamente "difíceis". Ao mesmo tempo, pegue o Philip
Roth, Complô Contra a América. Eu achei bom, mas, se fosse publicado no
Brasil, não dariam bola. Porque não se trata de um livro de grandes
experimentações linguísticas. Aqui, a tendência da crítica seria não
levá-lo muito em conta.
O governo pode ajudar?
O grande desafio da indústria editorial brasileira é político: que o
governo assuma o compromisso com a educação universal. O nosso mercado
continua pequeno em relação à dimensão do País. Melhorou nos últimos
anos, pela distribuição de renda, mas ainda é muito pouco. Uma coisa
interessante: muitos pais têm disposição para comprar livros para seus
filhos. Até pais que não leem.
O que fazer para aumentar os índices brasileiros de leitura?
No Brasil, a boa literatura tem tiragem média ínfima. O livro de um
bom autor sai com 2 mil exemplares. Nos EUA, a média é 15 mil. Não digo
que teríamos de empatar, mas se a boa ficção chegasse a 7 ou 8 mil...
Para isso, é preciso melhorar a escola, criar mais leitores.
Que tipo de poder as agências têm em relação ao governo?
Nenhum. Essa é uma luta do cidadão. Eu brinco, dizendo que, quando
sou otimista, vejo a entrada das editoras estrangeiras no mercado
nacional como a chance de criar um novo grupo de pressão pela melhora do
nosso sistema educacional - que criaria uma nova demanda por livros e
outros produtos culturais de qualidade. Espero que a entrada dessas
editoras ajude a profissionalizar o mercado, melhorar as relações com os
autores. O problema é que não se faz nada em relação à educação no
Brasil. É inacreditável! As promessas não cumpridas pelo estado durante
todo o século 20... É um descaso de chorar.
Alguns livros vendem milhões, como Ágape, do padre Marcelo Rossi. Isso é bom?
É uma pergunta difícil. A motivação para comprar o livro do padre não
é a melhor, mas isso agita a indústria. Para o conjunto dos leitores,
não acho bom.
Que brasileiros têm mais chance de sucesso lá fora? Paulo Coelho...
Não, vamos tirar Paulo Coelho dessa lista...
Francisco Azevedo, por exemplo. Fechei sete contratos para ele, um
nos EUA. Outros autores são Ronaldo Wrobel, Edney Silvestre e Rafael
Cardoso. Aliás, quer um exemplo de que a crise econômica não tem vez
contra a boa literatura? Os dois últimos contratos foram fechados na
Espanha: Entre as Mulheres, de Rafael Cardoso, será publicado em
espanhol pela editora Siruela, e O Arroz de Palma, de Francisco Azevedo,
sairá em catalão pela La Columna, do grupo Planeta. Editoras sólidas,
com dinheiro para investir em marketing. A literatura brasileira poderá
sofrer um upgrade se esses exemplos se disseminarem.
Ano que vem tem Feira de Frankfurt, cujo país homenageado é o Brasil. Isso ajuda?
Não necessariamente. Tenho quatro autores vendidos para editoras
alemãs. Claro que o fato de o Brasil ser homenageado chamou a atenção.
Mas não garante que outros países se interessem.
No momento em que o Brasil é visto de outra forma no exterior, obras históricas tendem a pegar carona na ficção?
Talvez, mas é bem mais difícil. Eu vou tentar, é um desafio. A
não-ficção, no Brasil, sofre um preconceito que deve ser superado.
Um Nobel de Literatura faria diferença?
Com certeza. O próprio Saramago, português, fez muita diferença para o
mercado. Um prêmio como esse faria o Brasil ser visto de outra forma.
Outro desafio no país é o livro digital. O que fazer?
Hoje é impossível vender um livro sem que a editora exija direitos
digitais. O que se discute é o direito autoral. Mas o mercado é pequeno.
Nos EUA, a porcentagem para o autor é maior, as vendas digitais são
grandes. Lá, a questão é outra: a renegociação dos direitos sobre o
exemplar baixado. Uma coisa é certa: o mercado de readers vai se
consolidar. Mas não matará o livro de papel!
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