AGENDA CULTURAL

25.7.12

Não aplaude ninguém


Hélio Consolaro*

Elogiar é uma virtude, mas também pode ser um vício. Há pessoas que só elogiam o mundo (o outro), quem não as conhecem acham-nas simpáticas nos primeiros contatos. Outras são portadoras do viés crítico: nada presta, não ficou bom, ninguém acerta. Descobertas, são logo tratadas de azedas.

O elogio precisa ser bem elaborado para que não seja caracterizado imediatamente de puxa-saquismo, apesar de sê-lo em qualquer circunstância. Quem elogia quer escravizar o outro, numa linguagem mais sofisticada: cooptar. O elogiador gostou da ação do outro, tirou vantagem dela, e quer que ela faça a mesma coisa sempre, então, elogia-o. O elogio é um alimento oferecido pelo chefe.

Estamos adentrando uma campanha eleitoral. Os candidatos no relacionamento pessoal só terão elogios a seus eleitores, pois precisam ser simpáticos para ganhar o voto do outro. Ganhando, depois, quem vai puxar o saco dos políticos para ter benefícios são os outros. A situação se inverte.

- Como você está bem! – candidato ao eleitor.

- Doutor, o senhor é sensacional – eleitor ao político no poder.

Um alerta: o puxa-saquismo se manifesta abertamente no mundo político, mas ele não é exclusivo dele. Lembre-se daquela propaganda: “Bonita camisa, Fernandinho...” No mundo empresarial, na escola, na família, enfim, onde há uma relação de poder, elogiar é uma arma.
Como já escrevi noutras oportunidades, li o livro “Você é o máximo”, de Richard Stengel, nele o autor fala que transferimos o puxa-saquismo para as orações, as rezas. Se elogiar funciona bem entre nós, não vai ser diferente com Deus. Afinal, dizemos que Ele é nossa imagem e semelhança...

O aplauso de uma plateia é um puxa-saquismo coletivo. Algum grupo começa, os outros aderem. Assim, os políticos escala sua claque. Quando o orador altera a sua voz, está solicitando aplausos. O bom orador é aquela que estabelece uma empatia com a plateia, criando um clima de identidade e palmas. Nem tudo é arranjado.
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 Conheço uma mulher que não aplaude ninguém. Recusa-se a massagear o ego de uma amiga, por exemplo. Não se levanta no final de uma apresentação artística, como forma de aplauso mais efusiva. Ela fica sentada. Fiquei espantado quando constatei isso, porque elogiar também é prestigiar o outro. Quem nunca o faz, se considera o bom, é uma pessoa egocêntrica.

Não sei, caro leitor, se percebeu quão é difícil estabelecer o equilíbrio. Lembre-se: em qualquer relacionamento, fazemos política. As nossas inocentes crianças são exímias nisso. Às vezes, há ações que são elogiadas por um grupo e criticadas por outro. Aos poucos, vai se definindo de que lado você está.

Ficar sem lado é muito difícil, é levar porrada dos dois lados. A omissão é confortável até certo ponto, pois quando precisa de ajuda, ninguém socorre o omisso. Não é amigo de ninguém.

A mulher que não aplaude ninguém não deve ser feliz.   

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP

Um comentário:

Heitor Gomes disse...

Devemos elogiar quando achamos que a pessoa, o espetáculo, ou o que quer que seja mereça ser elogiado. Elogio sem sinceridade é falta de personalidade. A não ser quando o elogio tem segundas intenções. Abraços. Heitor Gomes.