Hélio
Consolaro*
Elogiar
é uma virtude, mas também pode ser um vício. Há pessoas que só elogiam o mundo
(o outro), quem não as conhecem acham-nas simpáticas nos primeiros contatos.
Outras são portadoras do viés crítico: nada presta, não ficou bom, ninguém
acerta. Descobertas, são logo tratadas de azedas.
O
elogio precisa ser bem elaborado para que não seja caracterizado imediatamente
de puxa-saquismo, apesar de sê-lo em qualquer circunstância. Quem elogia quer
escravizar o outro, numa linguagem mais sofisticada: cooptar. O elogiador
gostou da ação do outro, tirou vantagem dela, e quer que ela faça a mesma coisa
sempre, então, elogia-o. O elogio é um alimento oferecido pelo chefe.
Estamos
adentrando uma campanha eleitoral. Os candidatos no relacionamento pessoal só
terão elogios a seus eleitores, pois precisam ser simpáticos para ganhar o voto
do outro. Ganhando, depois, quem vai puxar o saco dos políticos para ter
benefícios são os outros. A situação se inverte.
-
Como você está bem! – candidato ao eleitor.
-
Doutor, o senhor é sensacional – eleitor ao político no poder.
Um
alerta: o puxa-saquismo se manifesta abertamente no mundo político, mas ele não
é exclusivo dele. Lembre-se daquela propaganda: “Bonita camisa, Fernandinho...”
No mundo empresarial, na escola, na família, enfim, onde há uma relação de
poder, elogiar é uma arma.
Como
já escrevi noutras oportunidades, li o livro “Você é o máximo”, de Richard
Stengel, nele o autor fala que transferimos o puxa-saquismo para as orações, as
rezas. Se elogiar funciona bem entre nós, não vai ser diferente com Deus.
Afinal, dizemos que Ele é nossa imagem e semelhança...
O
aplauso de uma plateia é um puxa-saquismo coletivo. Algum grupo começa, os
outros aderem. Assim, os políticos escala sua claque. Quando o orador altera a
sua voz, está solicitando aplausos. O bom orador é aquela que estabelece uma
empatia com a plateia, criando um clima de identidade e palmas. Nem tudo é arranjado.
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Conheço
uma mulher que não aplaude ninguém. Recusa-se a massagear o ego de uma amiga, por exemplo. Não se levanta no final de uma apresentação
artística, como forma de aplauso mais efusiva. Ela fica sentada. Fiquei
espantado quando constatei isso, porque elogiar também é prestigiar o outro.
Quem nunca o faz, se considera o bom, é uma pessoa egocêntrica.
Não
sei, caro leitor, se percebeu quão é difícil estabelecer o equilíbrio.
Lembre-se: em qualquer relacionamento, fazemos política. As nossas inocentes
crianças são exímias nisso. Às vezes, há ações que são elogiadas por um grupo e
criticadas por outro. Aos poucos, vai se definindo de que lado você está.
Ficar
sem lado é muito difícil, é levar porrada dos dois lados. A omissão é
confortável até certo ponto, pois quando precisa de ajuda, ninguém socorre o
omisso. Não é amigo de ninguém.
A
mulher que não aplaude ninguém não deve ser feliz.
*Hélio
Consolaro é professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal
de Cultura de Araçatuba-SP
Um comentário:
Devemos elogiar quando achamos que a pessoa, o espetáculo, ou o que quer que seja mereça ser elogiado. Elogio sem sinceridade é falta de personalidade. A não ser quando o elogio tem segundas intenções. Abraços. Heitor Gomes.
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