Hélio Consolaro*
Posso dizer que eu estava
lá como espectador, no meio daquela plateia compacta do teatro da UNIP, em
Araçatuba, no dia 23 de agosto de 2012, para assistir “Viver sem tempos mortos”,
com a octogenária Fernanda Montenegro. No mesmo dia em que Nélson Rodrigues
completaria 100 anos se estivesse vivo.
Tive a oportunidade de trazer
a artista a Araçatuba, como secretário municipal de Cultura, quando a
Secretaria Estadual de Cultura ofereceu o espetáculo, mas havia uma
contrapartida por parte da Prefeitura. E o prefeito Cido Sério (PT) me disse:
“Para viabilizar a vinda da Fernanda faremos qualquer esforço”.
Assim a Associação
Paulista dos Amigos da Arte – APA – via Marcos Porto - e Alexandre Melinsky –
diretor de Cultura da SMC – começaram a acertar os detalhes.
“Viver sem tempos mortos”
é uma coletânea de trechos de cartas, correspondências de Simone de Beauvoir (1908-1986), francesa
filósofa e ensaísta, que defendeu o existencialismo e o feminismo no século 20,
tendo ao seu lado Jean-Paul Sartre, seu companheiro por toda vida amorosa e
intelectual.
Se ela gravasse o espetáculo em áudio apenas, ou DVD, talvez eu não perdesse
algumas palavras com minha acuidade auditiva sexagenária de espectador sentado
na última fileira do teatro. Foi um monólogo de texto decorado com expressão corporal
única, sem gestos. E a interpretação oral foi divina. O texto era o espetáculo;
Simone de Beauvoir, a protagonista. Bastavam as palavras.
Fernanda Montenegro roubou
a cena. Muita gente queria vê-la, arrastou uma multidão para a frente da UNIP.
Discordavam até das ideias libertárias de Simone de Beauvouir, mas não é sempre
que se tem oportunidade de respirar o mesmo ar de atriz tão bem posta na cultura
brasileira. Se o texto tivesse a voz de outra
atriz, provavelmente não houvesse nem a metade daquele público, mesmo que fosse
uma artista de televisão.
Era força da artista se manifestando. A vida
de Fernanda Montenegro é maior que o texto. A atual dama do teatro brasileiro
merece a nossa admiração. Em nosso anonimato, sendo um grão de areia, nos
transformamos numa só duna de muitas palmas naquele teatro com 550 poltronas
ocupadas.
Nas políticas culturais,
valem muito as parcerias. Assim, a Secretaria Estadual de Cultura (o parceiro
maior), com a ajuda da Secretaria Municipal de Cultura e da UNIP, pudemos ter
de volta os grandes espetáculos em Araçatuba.
*Hélio Consolaro é
professor, jornalista e escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura
de Araçatuba.
Um comentário:
Parabéns, querido, por essa parceria, por esse momento único na cultura e arte do município. Fernanda e Simone, que coisa magistral!!!
Sou louca por ambas, em suas especificidades. Hoje tenho outra visão de Simone, menos mística, mitológica, mais realista talvez.
Mulheres de coragem que não abriram mão dos riscos de serem elas mesmas.
Abração pra você, Secretário!
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