Hélio
Consolaro* - publicado no jornal O LIBERAL, Araçatuba, 15/09/2012
Estamos
vivendo um processo eleitoral, e com ele vem algumas experiências
interessantes. Na década de 70, me interessei pela política geral, gostava das
questões nacionais e internacionais, adorava as colunas de Newton Carlos,
considerava as locais muito pequenas para o meu idealismo obtuso.
Na
década de 80, entrei de cabeça na política local, mas ainda ficava nos grandes
temas. Em 1982, me elegi vereador pelo PMDB, o meu único veículo era uma
mobilete, mas não tinha preguiça de trabalhar. Quando apareci entre os cinco
mais votados, causei surpresa geral. Não tinha dinheiro para pintar meu nome em
muro ou em carro. Hoje, não faria mais aquela loucura, uma questão de faixa
etária.
Assumi
em 1983, sem nunca ter assistido a uma sessão da Câmara Municipal de Araçatuba,
nem sabia como funcionava o parlamento: aquelas questões internas, a
burocracia, a compatibilidade entre as leis. Floriano de Arruda Brasil, no
Direito; Nilo Ikeda, na prática; foram os meus professores.
Já
no PT, fui candidato a prefeito em 1988. Quando o partido só permitia coligação
com o PCdoB, Muro de Berlim estava de pé, não havia programa de TV na eleição
municipal de Araçatuba e petista destroçava criancinha. O único carro de
campanha era o meu fusca. Assim mesmo, obtive 11.501 votos, deixando João Rezek
para trás, em 4.º lugar. Foi o meu consolo. Cido Sério era candidato a
vereador, ficou sendo suplente de Luís Antônio Boatto.
Enquanto
era vereador, aprendi a valorizar a política local, as bandeiras municipalistas.
Estando lá, eu também fiquei obtuso, achava que a Câmara Municipal era o centro
do mundo, e, na verdade, a grande parte da população não está nem aí com as
discussões que por lá passam. Também aprendi que a militância política envenena
nossa visão, só enxergamos uma parte do todo.
Se
o PT ainda é um partido encardido, naquela época era 100 vezes mais. Era um só
coração. Tudo era no sacrifício. Hoje, cruzo com carros plotados de candidatos
a vereador da coligação “Araçatuba é tudo de bom”, cujo candidato a prefeito é
Cido Sério (PT) e não sei quem é, sendo eu secretário do governo atual.
O
partido descobriu com José Dirceu (o arquiteto do novo PT, na época ele era
presidente nacional do partido) que os petistas não conseguiriam governar sozinhos,
chapa pura, precisava das alianças já no período eleitoral. Pelo mesmo motivo,
Dirceu é amado pelos petistas e odiado por certos setores da sociedade. Ele
tirou o partido do gueto.
Então,
caro leitor, política é uma questão difusa. Nuvens no céu, como já a
classificaram. Companheiro hoje, adversário amanhã, onde a verdade é
essencialmente relativa e os interesses (nem sempre escusos) falam mais alto.
Se você não tiver essa visão aberta, absorvente, não conhecer a si mesmo nem os
outros, não chegue perto, vai sair frustrado e dizer aquele chavão de que
política é safadeza. Fique no seu lar, no seu jardim. Não tente apagar o fogo
da floresta, porque vai se queimar.
*Hélio
Consolaro é professor, jornalista e escritor. Atualmente é secretário municipal
de Cultura de Araçatuba-SP
2 comentários:
Ipsis litteris....assim diria Cesar a este texto.
Adorei o comentário do Brito. Que sapiência! Ele deve ter lido seu texto umas 20 vezes, para comentar de forma tão espectacular. Amém.
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