AGENDA CULTURAL

15.11.21

Forma bem crítica de contar a Proclamação da República


Hélio Consolaro*
Publicada em 15/11/2018


Nesta quinta-feira, o Brasil comemora a Proclamação da República, que se contrapõe à monarquia, uma forma de governo baseada na hereditariedade. O poder era tomado e prosseguido por herança, por isso havia as dinastias.  

A república é uma forma de governo com base no liberalismo, na representação popular. No Brasil, tal regime de governo se deu devido ao fim da escravidão, que enfraqueceu a monarquia. Os republicanos eram tão inexpressivos que colocaram um monarquista como primeiro presidente: Marechal Deodoro da Fonseca.

Há um termo que está em moda na política atual: “devemos ser mais republicanos” ao tratar a coisa pública. Trata-se de um pleonasmo diante da origem da palavra república. Ser governo é não perseguir adversários; respeitar a oposição, por exemplo, é ser republicano. Quando se perde a eleição, telefonar para cumprimentar o vencedor é ter um comportamento republicano.  

Existe também a república: habitação coletiva de estudante, que tem origem na Idade Média. Eu jurava que o nome “república” nesse sentido era ironia de monarquista. República de estudante é um lugar bagunçado, como no regime republicano... Democracia para alguns trogloditas ainda é sinônimo de bagunça.
 

Graciliano Ramos no seu livro “Alexandre e outros heróis” apresenta “Uma pequena história da república”. Escrita em 1940 para participar de um concurso literário da revista “Diretrizes”. Seria a história da república brasileira para crianças. Trata-se de um resumo irônico da história do Brasil entre os anos de 1889 (a proclamação da República) até 1930 (ascensão de Vargas ao poder). Ele não enobrece os fatos evocados. “Sua visão é exata, fiel, desencantada e cáustica”, classifica alguns historiadores.


Leia este trecho, caro leitor, para ter uma noção de como Graciliano Ramos narra a história da Proclamação da República: “Os homens maduros de hoje eram meninos. O Sr. Getúlio Vargas, no Sul, montava em cabos de vassoura. [...] Nesse tempo, o chefe do governo, o Sr. Pedro II, Imperador, dispunha de longas barbas brancas respeitáveis e nas horas de ócio estudava hebraico, língua difícil, inútil à administração e à política. Todos os
homens notáveis e idosos eram barbudos, conforme se vê em qualquer história do Brasil de perguntas e respostas”.


 

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*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Araçatuba-SP 

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