Até
23 de abril de 2016, quando se completam 400 anos da morte do poeta e
dramaturgo britânico William Shakespeare – apontado quase unanimemente
como o maior escritor da língua inglesa –, boa parte de suas peças
terão sido reencenadas no Brasil como parte do inédito Projeto 39,
programa que começa no início de 2013 com a estreia de Ricardo III
e pretende encenar os 39 textos do dramaturgo ao longo de dez anos.
“Shakespeare é sinônimo de teatro e está sempre presente. Ele tem uma
evidência muito grande no mundo inteiro, mas está sendo agora ainda
mais sublinhado”, garante Alexandre Brazil, responsável pelo projeto
junto com Erike Busoni.
Para
a montagem dos espetáculos, estima-se o envolvimento de mais de 5 mil
profissionais, entre atores, diretores e equipes técnicas por trás da
coxia. Além de Ricardo III,
com direção de Marco Antônio Rodrigues e atuação de Leonardo Brício –
neste mês será realizada, em São Paulo, uma leitura aberta ao público
–, já estão programadas as peças Romeu e Julieta, com direção de Vladimir Capella, e Troilo & Créssida, com a assinatura de André Garolli. Cacá Rosset assumirá o comando de As alegres comadres de Windsor e Aderbal Freire-Filho, de Timon de Atenas.
A
professora da Universidade Federal do Paraná, Liana Leão,
especializada em Shakespeare, é uma das maiores entusiastas da
iniciativa de Alexandre Brazil. Afinal, segundo ela, há textos que
nunca foram encenados por aqui, como Cimbeline, Rei da Britania,
de 1611. “Os elementos do universo de Shakespeare dialogam entre si.
Então, no momento em que você descobre uma peça tardia, como Antônio e Cleópatra (1607), obtém uma nova visão para uma tragédia lírica de juventude, como Romeu e Julieta”, diz.
A
especialista ainda ressalta que, em um futuro breve, todas essas
montagens estarão disponíveis no site Global Shakespeare’s MIT,
importante instituto de tecnologia do mundo sediado em Massachusetts,
nos EUA, do qual ela é a editora brasileira. No portal, já é possível
encontrar montagens de países como China, Índia e Itália.
GLOBE NO BRASIL
Para
os aficionados de Shakespeare, uma grande novidade da qual Liana Leão
faz parte é a fundação, na cidade de Rio Acima (a 64 Km de Belo
Horizonte), do Complexo Cultural – Brazilian’s Globe Shakespeare, versão
nacional do famoso Globe Theatre, de Londres. Previsto para funcionar a
partir de 2015 em um terreno de 20 mil m², ele será a primeira unidade
internacional do tradicional teatro construído em 1599, destruído por
um incêndio em 1613, reconstruído em 1614, fechado em 1642 e
reinaugurado em 1997. “Nós começamos esse processo de trazer o teatro
do Shakespeare para o Brasil em 2009, justamente por descobrirmos aqui
muitos apaixonados pela obra dele, em função da complexidade e da
universalidade que possui. A partir daí, houve várias idas e vindas de
Londres para entender o processo de construção do teatro e como ele
pode ser um ícone também fora da Inglaterra”, analisa Mauro Maya,
presidente do Instituto Gandarela e produtor executivo da mineira Arte
Brasil, empresa que idealizou o projeto.
Além
do espaço físico, outra vantagem é um intenso intercâmbio que existirá
entre os dois países. Ou seja, as montagens apresentadas na Inglaterra
virão ao Brasil e as brasileiras irão para lá. “Haverá a nossa forma
de falar, desde os clowns do Nordeste até o Romeu e Julieta do Teatro Galpão, com direção do Gabriel Villela, e Noite de rei,
do Vale do Jequitinhonha, com direção e coordenação da Imara Reis. Nós
temos a questão da celebração, mas pretendemos abrir o leque para
Ariano Suassuna, Guimarães Rosa, Machado de Assis e Carlos Drummond de
Andrade”, explica.
Com o intercâmbio, a montagem Romeu e Julieta,
do mineiro Teatro Galpão, deixará de ser a única a conseguir ser
encenada duas vezes na Inglaterra, até agora um feito inédito que
aconteceu em maio último. “Foi uma experiência formidável. Da primeira
vez, em 2000, estivemos duas semanas em cartaz no teatro [Globe
Theatre], dentro de um programa em que eles convidavam grupos que
traziam novas leituras da obra de Shakespeare. Agora, participamos das
Olimpíadas Culturais do Globe, com todas as peças sendo representadas
por mais de 30 grupos e línguas dos cinco continentes”, comemora
Eduardo Moreira, fundador do grupo. O mérito é reconhecido também por
Liana Leão: “O trabalho com Romeu e Julieta
é espetacular, porque é Shakespeare e, ao mesmo tempo, Brasil”.
Dirigida por Villela, a peça foi ensaiada durante dez dias na praça
central de uma pequena vila mineira de trabalhadores rurais, chamada
Morro Vermelho, com o objetivo de levar ao tablado o espírito do teatro
de rua brasileiro. “Shakespeare vai ser sempre montado, algumas
épocas mais, outras menos”, conclui Eduardo Moreira. “Sua obra é tão
instigante e profunda que pode ser lida e será lida de forma diferente
segundo a época e a cultura de cada montagem. É uma obra que abarca,
como nenhuma outra, a vastidão do humano.”
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