AGENDA CULTURAL

2.12.12

Duo Drums: de Araçatuba para o mundo

28/08/2012

Por André Carvalho

Grupos de bateria e percussão tem se proliferado pelo Brasil, dando vazão a um ritmo que nos é muito próprio. O Duo Drums, formado pelos bateristas
Daniel Freitas e Cristiano Silva, traz consigo uma veia de composição, que privilegia a peça escrita, mas sem perder o gosto pela improvisação, indispensável na música contemporânea.

Daniel e Cristiano são naturais de Araçatuba, no interior paulista. Araçatubenses orgulhosos, aliás. Apesar de a experiência e o trabalho os ter levado longe, estão sempre perto de suas raízes. Em 1998 eles se conheceram e começaram a estudar juntos. Logo surgiram peças e apresentações. Mas os trabalhos os levaram por caminhos diferentes. Em 2012 os dois se reencontraram e colocaram o projeto de novo em prática, além de muitos outros trabalhos.


Falem sobre o projeto Duo Drums. Como ele foi idealizado?

Daniel Freitas:
Conheci o Cristiano Silva em 1998 num workshop e nos tornamos grandes amigos. Duas semanas depois já estávamos combinando de estudar bateria juntos. Inicialmente foi para estudos técnicos e pesquisas rítmicas, porém começamos a desenvolver algumas ideias para duas baterias e logo surgiu um convite para fazermos uma apresentação na cidade de Franca (SP) através de um amigo, dono de uma escola de música daquela cidade. Então começamos a idealizar as peças. Depois o Duo Drums foi interrompido por causa de outros projetos pessoais (eu com a minha banda instrumental Fast Fusion e o Cristiano, que foi para Europa). Agora, em 2012, o projeto foi retomado e estamos colocando em prática todas essas experiências e pesquisas, agregando também a sonoridade da percussão, mas principalmente a percussão de madeira (cajons, cajongas, bongô cajons, etc.). Neste retorno idealizamos a gravação de um videoclipe intitulado “Battle Drums”, com roteiro e tudo mais, e o local escolhido para a filmagem foram as dependências do aeroclube de Birigui (SP).
 

E como é o processo criativo do duo?
Cristiano Silva:
A finalidade está em utilizar os sons dos tambores da bateria e da percussão para produzir peças experimentais, com espaços para livres expressões e improvisações. No processo de composição pensamos como música, o Daniel escreve as peças na partitura, sem tocar o instrumento, apenas pensando nos sons, e me envia por e-mail ou xerox, ou seja, ele traz pronto a estrutura geral com o tema, partes de improvisação e convenções, entre outras coisas, e as minhas partes (tudo que não é tema) ficam abertas para que eu construa minhas próprias ideias ou utilize da improvisação para preencher os espaços. Em seguida marcamos o ensaio e colocamos em prática o que está no papel. Na maioria das peças há muitos espaços para improvisações, porém outras são totalmente escritas, inclusive os solos. O vídeo “Battle Drums” evidencia isso: ninguém acredita, mas tudo que está lá foi escrito e decorado, tocamos nota por nota, sem improvisações.
As composições do Duo Drums exploram a polirritmia, a ambidestreza, ritmos diversos, sonoridades amplas de cada instrumento, tema, estrutura musical complexa e diversificada e também alguns malabarismos (stick tricks), proporcionando um aspecto visual bem interessante [risos]. Também utilizamos play-alongs de composições autorais para execução de algumas peças.

Vocês começaram o projeto como um campo de experiência e pesquisa. Como o trabalho do Duo Drums ajudou no trabalho de professores de bateria?

Daniel:
Estudar e pesquisar juntos otimiza muito o tempo. Cada um estuda coisas diferentes e então compartilhamos um com o outro sempre que nos juntamos para tocar, ensaiar ou estudar. Somos professores de bateria e percussão, lecionamos em escolas e também no Projeto Guri, e o fato de compormos peças para percussão ajudou muito em nosso trabalho com aulas coletivas. Levamos para a sala de aula essa experiência de compor peças e cameratas. Aliás, um dos tópicos de nossas oficinas está justamente em apresentar ideias de como compor para instrumentos de percussão.
 
Vocês também tocam com o grupo 12Mãos. Falem sobre esse projeto.

Daniel:
Como gosto muito de compor para percussão tive a ideia de formar um grupo, porém com uma formação não muito comum no Brasil: um grupo de percussão experimental de cajoneiros e instrumentos de madeira, que são instrumentos típicos da cultura peruana. Para isso, recebemos o apoio de um grande amigo, o Victor Menezes, proprietário da maior fábrica de cajóns do Brasil (a FSA Cajóns), que nos auxilia e ajuda com a fabricação e fornecimento de instrumentos personalizados e experimentais. O Victor tem acreditado em cada projeto que apresentamos desde os instrumentos até o patrocínio para a produção dos vídeos e viagens. Em 2009 reuni um grupo de amigos e grandes músicos da nossa região (todos educadores) e assim nasceu o 12Mãos, com o intuito também de produzir peças experimentais, adaptações de ritmos brasileiros ao cajón, assim como mesclar seus sons com os instrumentos típicos da cultura brasileira. É uma proposta pioneira no Brasil, pois utilizamos os sons dos cajóns para compor peças em formato de camerata. Algum tempo após a criação do grupo lançamos nosso primeiro vídeo, que hoje tem mais de 110 mil acessos em todo o mundo e, em apenas três anos de existência, estamos colhendo muitos frutos. Alcançamos reconhecimento internacional, estamos participando de diversas mídias (televisão, jornais, rádios), realizando oficinas, workshows e apresentações diversas, sendo que o mais legal disso tudo é que, após a criação do grupo 12Mãos, outras pessoas estão sendo incentivadas ou se influenciando e criando grupos similares, o que é muito bom, pois a partir de uma ideia outras surgem e, com propostas diversificadas. De tudo isso, o diferencial mesmo, e que proporcionou toda essa visibilidade e sucesso do 12mãos, é a produção de videoclipes para as peças. São produzidas com roteiro e temática, o que é uma proposta pioneiro. Quantos videoclipes de cameratas de cajons ou grupos de percussão você encontra no youtube ? Encontram-se vídeos, porém videoclipes não.
 

O grupo 12 Mãos tocou no Festival Internacional de Cajóns em Lima (Peru). Como foi esta experiência?

Cristiano:
O grupo gravou três vídeos com reconhecimento e crítica positiva, o que nos rendeu um convite para se apresentar no V Festival Internacional del Cajóns Peruano, em Lima, no Peru, a convite de Rafael Santa Cruz (embaixador dos cajóns no mundo), patrocinados pela Embaixada do Brasil no Peru e com ajuda da Secretaria de Cultura de Araçatuba. Além de realizarmos oficinas e shows no Peru, participamos também da cajoneada, que consistiu na quebra de um recorde mundial, com 1.476 cajoneiros tocando ao mesmo tempo na Plaza de Armas de Lima, que será publicado no Guinnes Book de 2013. Também tivemos a oportunidade de conhecer e tocarmos com grandes nomes e mestres do cajón, percussionistas de nível mundial como Alex Acuña, Dante Choclito, Giggio Parodi, Casa Nova, Rafael Santa Cruz e Pancho, entre outros, além de conhecer as belezas e pontos turísticos do país. Toda nossa trajetória está registrada no youtube em diversos canais peruanos e brasileiros, basta o pessoal acessar.

Grupo 12Mãos: Degradação das Ferrovias

Daniel, você é músico profissional há 17 anos. Fale um pouco da construção da sua carreira.

Daniel:
Comecei a estudar música aos sete anos de idade, inicialmente piano erudito, depois guitarra e aos nove anos conheci a bateria e nunca mais larguei. Sempre tive muito foco e objetivo no que faço, além de ser uma pessoa muito persistente e apaixonada pela cultura local da minha terra, Araçatuba. Na carreira musical procurei diversificar e desenvolver várias coisas: uma formação educacional voltada para a didática, projetos musicais de cunho artístico-culturais e até música de entretenimento. Porém sempre dei prioridade em realizar meus próprios projetos e de tocar minhas próprias composições, fazer aquilo que gostaria de fazer, com o máximo de dedicação e planejamento. Acredito que, pensando e agindo assim, você colhe os frutos de alguma forma. Recebi diversas premiações e críticas positivas com meus projetos nas mídias especializadas, tenho seis CDs gravados com projetos pessoais (a banda instrumental Fast Fusion, a banda Radio84 e a banda de rock progressivo Projeto Eternal) e quatro videoclipes, em três deles atuei como músico, compositor e roteirista (Fast Fusion, 12Mãos, Projeto Eternal e Duo Drums). Realizei muita coisa e ainda estou escrevendo minha história. Também gravei bastante para artistas da região, já passaram pela minha sala de aula mais de 600 alunos. Tenho um ateliê de música em parceria com meu irmão há mais de 15 anos, escrevi um método para ministrar meus cursos de bateria e percussão (que também é utilizado por outros professores e educadores), fui eleito Presidente da Associação dos Músicos (um trabalho que exige um conhecimento de legislações e leis municipais, estaduais e federais) em que desenvolvi diversos projetos de interesse público, como o Museu e Memorial da Música de Araçatuba, resgatando os 103 anos de história musical do município e que hoje conta com um acervo de mais de 700 peças que cobrem de 1901 à década de 80. Participei de diversas mídias com meus projetos musicais, além de grandes eventos e festivais. Também ministrei e organizei muitos workshops, oficinas e masterclasses de bateria e percussão com grandes nomes da música brasileira. Idealizei e escrevi roteiros dos videoclipes dos grupos 12Mãos, Duo Drums e Fast Fusion. A produção de videoclipes é algo que tenho gostado muito de fazer, é uma arte completa que envolve música, vídeo, sonoplastia, teatro e fotografia, e nosso grande parceiro nessas produções, filmagens e edição final é o Rodrigo Sabino. Hoje estou me graduando em Educação Musical pela UNIMES e ainda pretendo fazer outra faculdade, talvez de história. E sou patrocinado por baterias Marinos e FSA Cajóns, ambas empresas de minha cidade.
Uma Dica: se você é músico, procure fazer outra coisa ou curso que não seja na área musical (línguas, fotografia, história, filosofia, direito, etc.). Isso agregará mais conhecimento e experiência de vida, ampliando sua visão de mundo e de ser humano, o que pode ser muito bem aproveitada na profissão de músico.



Cristiano, você também tem uma longa carreira profissional, inclusive com experiências internacionais. Fale sobre sua carreira.

Cristiano:
Iniciei meus estudos no conservatório Santa Cecília, onde me formei e também lecionei bateria durante três anos. Em seguida fui estudar no Conservatório Dramático Musical Carlos de Campos, em Tatuí (SP), e sempre estive presente em diversos workshops, cursos e aulas de bateria com renomados bateristas. Como músico, sou grato à vida pela oportunidade de ter rodado muito com pouca idade. Participei de festivais nacionais de bateria como o Cascavel Jazz Festival (obtendo o segundo lugar em 2001) e Concurso Nacional Batuka!, ficando entre os cinco finalistas em 2002. Como free lancer, participei de shows e gravações tanto no Brasil como no exterior. Excursionei por vários estados brasileiros e por Itália, França, Suíça, Espanha e Mônaco, acompanhando artistas, interpretes e bandas, como Earth,Wind & Fire, UB40, Brian Kennedy, Melky Jones, Rosa Maria, Ágape Instrumental ,Chris Duran, Paulo de Tarso, Kleber Lucas, Soraya Morais, Adhemar de Campos, David Richards,  Paulo Braga, Roberto Gnatalli. Participei com destaque na Orquestra Sinfônica de Londrina (PR), Big Band Nova Aliança e Banda Trilhas. Com esta banda dividi o palco com renomadas duplas sertanejas e artistas (Guilherme e Santiago, Mauricio Manieri, Cezar e Paulinho, Pique Novo, Zé Henrique e Gabriel). Como músico de estúdio gravei muita coisa, jingles, trilhas sonoras, CDs, DVDs e também desenvolvi um trabalho voltado para a didática: escrevi o método Independência na Condução, e ministrei oficinas, workshops. Tenho um trabalho voltado para a música instrumental e participei de eventos como a Mostra Instrumental de Tatuí, com o Quinteto Instrumental Ágape (com o qual gravei um CD), atuo na Orquestra Bruno Zago (orquestra centenária, tombada como patrimônio da cidade de Araçatuba). Também da parceria com o Freitas organizei diversos workshops na cidade de Araçatuba, com grandes bateristas. Atualmente sou estudante do Curso Superior de Educação Musical da UNIMES (Universidade Metropolitana de Santos), proprietário do estúdio de Gravação CS, e patrocinado de baterias Gretch, pratos Soultone, pedais Axis, FSA Cajóns, educador musical do Projeto Guri, integrante dos grupos 12Mãos e Quarteto Livre de Música, e continuo atuando como free lancer para diversas bandas e artistas.



E quais são os planos para o segundo semestre de 2012?

Cristiano:
Nossa agenda para o segundo semestre está assim: faremos dois Shows pelo SESI de Birigui e um pelo SESI de Araçatuba. Faremos dois workshows pelas Oficinas Culturais Silvio Russo, um workshow em Franca pela Escola Drum Studio, dos renomados bateristas e percussionistas Alex Reis e Daniel Ribeiro, além de duas apresentações na ExpoMusic.

Daniel:
Além da gravação de mais um videoclipe para o Duo Drums, e workshows para a FSA.

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