Hélio
Consolaro*
Sempre
digo que neste verão bravo do Oeste Paulista, cerveja gelada e ar condicionado
são gêneros de primeira necessidade. Em Araçatuba, por exemplo, já encontrei o
capeta subindo a av. Brasília, saindo da cidade, com sua trouxa nas costas,
esbaforido, dizendo:
-
Vou embora para o inferno, lá está mais fresco!
O
inferno é quente porque foi inventado por povos que temiam vulcões e terremotos,
como na Sicília; se tivesse sido inventado na Noruega, por exemplo, o inferno
seria gelado, pura neve. O congelador, por exemplo, queimaria como o inferno. Isso
é um exemplo claro de como o clima influencia nas religiões e de que o homem é
fruto de suas circunstâncias.
Lendo
o livro “Elogio ao Ócio” de Bertrand Russell, no artigo “Educação e disciplina”,
ele afirma que o entusiasmo e a alegria de viver são necessidades fisiológicas,
já que cerveja e ar condicionado são gêneros de primeira necessidade. Concordo
com o filósofo, pois viver em depressão anula a vida.
As
drogas são válvulas de escape para os portadores de transtorno, por isso
afirmam que o alcoolismo é uma doença. Dar sermões, surrar o jovem e outras
medidas violentas não resolvem, pessoas depressivas precisam de tratamento, de
amor.
Há
exagero do outro lado. Hoje, ser feliz parece uma obrigação, o depressivo é
desprezado. Lógico que ninguém gosta de ficar na fossa por muito tempo. Com
certeza, o depressivo acaba indo para o suicídio porque nem ele se aguenta.
Se
todo depressivo tomasse antipressivos, não teríamos obras de arte. Aliás, a
humanidade deve muito aos tristes, porque o seu acervo artístico surgiu de
momentos agônicos desses artistas.
O
poeta Vinícius de Morais em seu poemeto: “A um passarinho” deixa isto bem claro:
quem está alegre, não vai escrever poesia:
“Para
que vieste / Na minha janela / Meter o nariz? / Se foi por um verso / Não sou
mais poeta / Ando tão feliz!/ Se é para uma prosa / Não sou Anchieta / Nem
venho de Assis /
Deixe-te
de histórias / Some-te daqui”.
Contrariando
a corrente, Carlos Drummond de Andrade gostava de levantar o astral de seus
leitores, fez poemas como esta: Receita de ano novo (trechos).
“Para você ganhar belíssimo Ano Novo/ cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,/ Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido / (mal vivido talvez ou sem sentido)/ para você ganhar um ano/ não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,/ mas novo nas sementinhas do vir-a-ser; novo [...]/ Não precisa/ fazer lista de boas intenções/ para arquivá-las na gaveta./ Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome,/ você, meu caro, tem de merecê-lo,/ tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,/ mas tente,/ experimente, consciente. / É dentro de você que o Ano Novo/ cochila e espera desde sempre.”
Na
festa de ano-novo, não afogue as mágoas num copo de bebida, beba a alegria num
copo de cerveja bem gelada, matando a sede com entusiasmo. E cante: “Emoções eu
bebi”, sem dar vexame.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Atualmente é secretário de Cultura em Araçatuba.
5 comentários:
" se chorei ou se sorri, o importanter é " o tantão que bebiiiiii8 ( no bebio estica o i com um dó de peito)
Amigo-professor, que o ano novo sorria para o senhor e fasmília
Eu bebi, bebo e beberei emoções sempre, largando toda a racionalidade de lado. esta é a lei, viver,viver, sem vergonha de ser feliz, sonhar e sonhar a ventura de um eterno aprendiz, não sei se o trecho da letra está certo.
mas viver emoçoes, e viver a cada minuto de nossas vidas, é o que mais interessa nesta nossa passagem já que ela é rápida como um raio em um temporal.Emoções, vamos brindá-las neste fim e inicio de ano com uma taça de champanhe! e viva 2013!!!
marianice
O que faz uma pessoa feliz é o sonho. Vemos constantemente casos de pessoas que nasceram em berços de ouro e cometeram autocídio. A busca pelo dinheiro oriundo de fontes inoperantes, fez o jovem chafurdar na mediocridade. O jovem não tem mais sonho. Hoje ele entra na universidade para fazer concurso e ser funcionário publico. Esse é o sonho de realização do jovem, o que é uma pena. Quanto mais profuso seu estipendio, sem a respectiva produtividade,mais exitoso e considerado. Então ele bebe mesmo, bebe e come para suprir toda frustração. O escritor Paulo Coelho retrata muito bem isto no livro "O Alquimista". Amém!
Essa crônica era para estar também no "O Estadão", na "Folha de São Paulo",ew em tantos outros importantes veículos da mídia, tal a magia de sua garimpagem literária se reportando a escritores de talentos. Valeu! Meu sincero abraço!
Gabriel.Bié.
Depois ele acredita nisso e estamos fodidos. Vamos maneirar no incentivo. Primeiro o Lúcio, agora o Bié. Amém!Amém!
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