AGENDA CULTURAL

25.12.12

Velhinha ansiosa




Hélio Consolaro*

Essa questão da idade é muito engraçado. Gatoso é gato idoso. Panela velha é a coroa gostosa, que ainda faz comida boa. Vinho bom fica melhor quando envelhece; vinho ruim, azeda, vira vinagre. E assim há uma relação enorme de comparações e metáforas.

Um falecido amigo, mais velho do que eu, entrou em depressão quando um garoto na rua lhe perguntou:

- Vô, onde fica o Supermercado Pão de Açúcar?

Ser chamado de vô pelos netos, tudo bem. Agora, por qualquer pirralho é porque não engana mais ninguém. Já não é mais um tiozão, passou a veião mesmo.

Tenho duas preciosidades para contar-lhes, caros leitores, sobre velho, velhinha, etc. A minha secretária abriu a porta de meu gabinete de repente, achando que eu não estava lá, foi perguntando:

- O “veio” chegou!

Nem preciso dizer que o “veio” era eu e como foi sua cara de espanto. Incontinenti fechou a porta. E eu fiquei rindo.

Para não passar batido, dar um pito, se fazer de ofendido, abri a porta e disse a ela e aos demais funcionários presentes, que já sabiam do fora. Aliás, em cinco minutos, a notícia chegar ao gabinete do prefeito, que fica do outro lado da cidade.

- É desse jeito que me tratam na minha ausência?

Risos contidos, gagueira da secretária. Gargalhadas. Eles sabem que sou brincalhão e não perco a paciência por bobagens, mas o fora havia sido espetacular: chamar o chefe de “veio” pelas costas.

Outro caso. Conversei com o jornal “O Liberal”, de Araçatuba, para que alguns confrades e confreiras da Academia Araçatubense de Letras escrevessem nesta coluna, Academus. E uma das colaboradoras é ansiosa, quando não sai a crônica dela, me passa e-mail, perguntando o motivo.

Escrevi ao editor chefe: “A Maria Luzia quer saber se não vai sair a crônica dela, se houve algum impedimento. A velhinha está ansiosa.” E ele respondeu para ela usando a mesma remessa. Isso significa que ela ficou sabendo que a chamara de “velhinha ansiosa”.

Toda bem humorada como sempre, Maria Luzia deu as explicações ao Antônio Crispim e assinou: “Velhinha Ansiosa”. Crispim e eu rimos muito pelo telefone, mas ficou a lição: cuidado ao repicar e-mail... Imagino o que ela disse a meu respeito na frente do computador.  Ainda bem que é uma lady, evangélica, não deve ter usado palavrões.

Todos querem viver muito, mas ficar velhos, jamais. E serem chamados como tal, nunca.       

*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP

Um comentário:

Heitor Gomes disse...

Chamar o chefe de "véio", é uma ignomínia. (Não sei o que é, mas acho lindo). Ela deveria ser transferida para a sosp, tapar os restinhos de buracos que ainda sobrevivem. Amém!!