AGENDA CULTURAL

17.12.12

Vizinhos indesejados

Editorial - 15/12/2012 - jornal "o liberal", araçatuba

VIZINHOS INDESEJADOS

Há várias iniciativas e empreendimentos que rapidamente se transformam em inimigo público número um. Por ação de algumas pessoas, tais empreendimentos chegam a ser inviabilizados. No passado, a reação contra a instalação de motel era muito grande. No Estado de São Paulo, há cidades que aprovaram leis proibindo a construção de motéis na área urbana. A relação de iniciativas que causa reação imediata da população é muito grande, mas é possível citar as principais, que ninguém quer ter como vizinho ou mesmo em sua cidade.
Entre as principais podem ser citadas: presídio, usina nuclear, cemitério, aterro sanitário, usina hidrelétrica, motel e etc. Hoje a construção de usina hidrelétrica gera muitas discussões, conflitos e mortes. Em Araçatuba, por exemplo, há iniciativas que impedem a construção de presídios, a instalação de usina nuclear e faz restrição ao aterro sanitário (ou central de resíduos sólidos). Há, também, muita dificuldade em encontrar terreno para construção de novo cemitério. Os locais encontrados até agora enfrentaram resistência dos vizinhos.
Com razão, há iniciativas que ninguém quer ter por perto. Porém, tudo isso faz parte da vida em sociedade. As pessoas que são contra a construção de usinas não abrem mão do conforto que a eletricidade lhes proporciona.  Ora, são contra a geração em sua cidade mas não querem reduzir o consumo. Assim, devem gerar, mas longe de mim. Puro egoísmo. Da mesma forma os presídios. Todo mundo afirma que lugar de bandido é na cadeia. Mas como prender se não querem a construção de presídios em sua cidade. Assim, Araçatuba “exporta” diariamente detentos para Penápolis e outras cidades. Ninguém de lá reclama. É melhor ter bandido na cadeia do que solto. Portanto, é preciso repensar esta política de coisa ruim apenas na cidade das outras pessoas.
Agora se fala na construção de central de resíduo sólido. Araçatuba manda para outras cidades muito lixo. Fazem dinheiro com isso. Ao contrário do que diz alguns, a cidade não precisa ser conhecida como “capital do lixo”, mas como “Capital das boas práticas urbanas”. Questão de visão. Não é justo consumir energia de outras cidades, exportar presos e não participar para uma vida melhor na região. Cobra-se contrapartida.


Considero o editorial a parte mais opinativa de um jornal, representando o pensamento da empresa proprietária do órgão ou da equipe dirigente. Quase sempre é a opinião do editor chefe ou do editorialista de plantão, mas todos os jornais têm uma diretriz: o permitido e o proibido. Nessa faixa, há um bom espaço para manobras do edtorialista.

O editorial nunca pode ser panfletário, deve ser o manifesto da lisura, com palavras bem pensadas. Como dizia Carlos Drummond, ele é escrito com terno e gravata, cheio de formalidades.

Ele é lido por políticos, jornalistas e leitores de cidadania mais forte. Por ser um texto temático, o leitor médio passa ao largo do editorial, ignorado por ele. Um editorial bem-feito é modelo de dissertação para estudantes.

fui editorialista por quase uma década, quando não havia internet para se pesquisar um tema, mas escrever o editorial não é tarefa fácil ainda hoje, é o exercício do equilíbrio.

Reproduzo um exemplo de editorial, publicado pelo jornal "O Liberal", de 15/12/2012, intitulado "Vizinhos indesejados" sobre a construção da central de resíduo sólido em Araçatuba, tema que está na pauta do dia.

Com certeza, da lavra de Antônio Crispim, editor chefe. Ele contextualizou o problema e soube questionar certas pessoas que querem proibir tudo, sem analisar as implicações dessa atitude, como se Araçatuba fosse um condomínio particular delas.      

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