AGENDA CULTURAL

17.1.13

Restaurante com cozinheiros cegos na Argentina

Marcia Carmo
De Buenos Aires para a BBC Brasil
Atualizado em  17 de janeiro, 2013 - 15:49 (Brasília) 17:49 GMT 
 
Ônibus pode receber até 25 convidados e circula por escolas, empresas e órgãos públicos
Um restaurante móvel totalmente escuro e servido exclusivamente por funcionários cegos pretende conscientizar os argentinos sobre a realidade enfrentada pelos deficientes visuais.
 
O grupo de dez cozinheiros e garçons tem percorrido escolas, empresas e organismos públicos no ônibus transformado em restaurante ambulante por iniciativa de uma organização não-governamental voltada para a inclusão social.
Os integrantes do projeto chamado "Gallito Ciego" ("Galinho Cego", na tradução literal) têm entre 25 e 50 anos de idade e deficiência visual desde o nascimento ou adquirida por doenças como diabete.
A fundadora da ONG Audela, criadora do projeto, a filósofa argentina Monica Espina, contou que os cozinheiros estudaram até quatro anos no Instituto Argentino de Gastronomia (IAG), onde aprenderam a fazer uma série de pratos, incluindo salgados, como pizzas e carnes, e sobremesas.
"O objetivo da iniciativa é gerar conscientização de que pessoas cegas também podem ser autônomas e realizar diferentes atividades profissionais", disse Espina à BBC Brasil. "No ônibus, eles cortam as verduras, cozinham, colocam a mesa, servem os clientes e lavam os objetos usados."
Ela conta que há espaço para até 25 convidados no ônibus, que integra os trabalhos da ONG na localidade de Acassuso, no município de San Isidro, na província de Buenos Aires.
A comida é servida no escuro para que pessoas com visão tenham a mesma experiência dos que não vêem, como contou uma das cozinheiras.
O ônibus do Gallito Ciego começou a circular em outubro do ano passado e desde então esteve em 17 locais, incluindo uma empresa que os contratou na cidade de San Pedro, a quase 200 quilômetros de Buenos Aires, e em uma festa de um aniversario na capital argentina.
"Nosso projeto é viajar por todo o país, gerando consciência para a questão", afirma Espina. "Por isso, pensamos neste ônibus bem equipado." Os cozinheiros recebem pagamento por hora de trabalho e contam com apoio do pessoal da ONG, como o motorista.

Escolas

Depois de comer no escuro, quem visita o ônibus pode assistir a palestras fazer perguntas


Espina conta que nas escolas por onde passaram os cozinheiros ouvem dos alunos perguntas sobre "como é ser cego" e "o que sonham", por exemplo.
Karina Chediek, de 39 anos, que perdeu a visão aos 23 anos devido a complicações com a diabete, e María Susana Luna, de 25 anos, que perdeu a visão pouco depois do nascimento, disseram à BBC Brasil que a experiência as "motivou" a sair para trabalhar.
"Eu era dona de casa e, a partir deste projeto, fiquei ainda mais entusiasmada com a vida", diz Karina. "Podemos conscientizar as pessoas de que, apesar de sermos cegos, podemos fazer qualquer coisa, como outra pessoa com visão."
Ela é mãe de um menino de nove anos e diz que a única vez que se emocionou no Gallito Ciego foi quando uma mãe perguntou o que seria a primeira coisa que ela gostaria de ver, se fosse possível voltar a enxergar.
"Eu disse: meu filho. Foi um momento emocionante. Sou diabética desde os 2 anos de idade e tive visão até os 23 anos. Quando meu filho nasceu, eu já era cega", conta.
Karina afirma que os estudantes costumam fazer perguntas também sobre seus sonhos. "Eles querem saber se sonho como uma pessoa que tem visão."
"Eu sonho sim, mas com as imagens dos tempos em que enxergava", acrescenta. "E brinco dizendo que, nas minhas imagens, ninguém fica velho, porque são dos tempos em que eu via, há 17 anos."
No ônibus, depois de comer no escuro, os cozinheiros fazem palestras e os clientes podem fazer perguntas.

Feijoada

Cozinheiros estudaram até quatro anos em instituto argentino para aprender uma série de pratos


María Susana Luna diz que a experiência no Gallito Ciego a levou a querer ser chef de cozinha.
"Eu canto, toco violão, baixo e bateria", afirma. "Mas descobri que gosto muito de cozinhar e principalmente comidas de outros países, como a feijoada brasileira, que aprendi com uma amiga que é de Porto Alegre e mora aqui na Argentina."
Grávida de dois meses, ela conta que ficou cega pouco após ter nascido prematuramente em um tratamento com oxigênio que afetou sua visão.
“A experiência (no Gallito Ciego) me abriu portas a novas experiências", diz María Susana. "Não só porque me despertou o desejo de querer ser chef, mas também de poder conscientizar as pessoas de que, apesar da cegueira, podemos trabalhar (como os demais)."

Ela afirma que os clientes costumam repetir uma mesma pergunta. "Sempre me perguntam a mesma coisa: se sou feliz. E eu digo que sim, que sou feliz e vivo a vida com otimismo e muita alegria."
 

4 comentários:

Anônimo disse...

Interessante da reportagem e/ou notícia é que tanto no Brasil,quanto nos países ermanos, os portadores de deficiência visual são considerados e analisados por suas atividades mais simples, v. g. como "fazem filhos", como plantam árvores outros vegetais, como cozinham ou como preparam seu próprio achocolatado, como se essas atividades, fossem o supra sumo das tarefas do homem que vê. Porque não noticiam sobre pessoas deficientes da visão que em outras atividades,se destacam no Magistério, na lida de computadores, inclusive na elaboração de programas, na eletrônica ou em outras funções mais que demonstram seu potencial de aproveitaMENTO no mercado de trabalho. De fato, para os que vêm com os olhos físicos é mais fácil noticiar coisas simples, até porque dar ciência de fatos mais relevantes, talvez lhes trouxessem mais concorrentes no mercado laborativo hoje tão disputado, onde portadores de deficiência visual poderiam sem dúvida disputar com os chamados normais o campo de trabalho que por vezes se apresenta tão complicado. Vejam que o quanto disseantes sobre pessoas do tipo se destacarem em atividades múltiplas foi apenas para exemplificar, muito mais havendo para contar. Tenho um amigo que - na cidade de Ibirá, conquanto sem visão, mas por seu esforço é técnico em refrigeração. l, naquela cidade é autorizado Brastemp - extensão do SABS de Catanduva.Lá em ibirá, sua capacidade técnica é sobejamente reconhecida pela população..

Anônimo disse...

Interessante da reportagem e/ou notícia é que tanto no Brasil,quanto nos países ermanos, os portadores de deficiência visual são considerados e analisados por suas atividades mais simples, v. g. como "fazem filhos", como plantam árvores outros vegetais, como cozinham ou como preparam seu próprio achocolatado, como se essas atividades, fossem o supra sumo das tarefas do homem que vê. Porque não noticiam sobre pessoas deficientes da visão que em outras atividades,se destacam no Magistério, na lida de computadores, inclusive na elaboração de programas, na eletrônica ou em outras funções mais que demonstram seu potencial de aproveitaMENTO no mercado de trabalho. De fato, para os que vêm com os olhos físicos é mais fácil noticiar coisas simples, até porque dar ciência de fatos mais relevantes, talvez lhes trouxessem mais concorrentes no mercado laborativo hoje tão disputado, onde portadores de deficiência visual poderiam sem dúvida disputar com os chamados normais o campo de trabalho que por vezes se apresenta tão complicado. Vejam que o quanto disseantes sobre pessoas do tipo se destacarem em atividades múltiplas foi apenas para exemplificar, muito mais havendo para contar. Tenho um amigo que - na cidade de Ibirá, conquanto sem visão, mas por seu esforço é técnico em refrigeração. l, naquela cidade é autorizado Brastemp - extensão do SABS de Catanduva.Lá em ibirá, sua capacidade técnica é sobejamente reconhecida pela população..

Heitor Gomes disse...

Tudo que for feito para fazer com que o deficiente tenha uma vida normal e produtiva é bem vindo. As pessoas normais desconhecem os tipos de dificuldades e limitações que um portador de deficiência tem. Uma paraplégica gravida comentou no programa do Jo Soares que lhe perguntaram como ela fez para engravidar, e de chofre respondeu que foi trepando. O mais importante é fazer um trabalho para aumentar a auto estima do deficiente, pois muitas vezes ele é criado como um ser inferior que necessita da caridade alheia. Se o deficiente se conscientizar que pode ser uma pessoa tão social e produtiva como os considerados normais, sua vida será de plena realização. Admiro o trabalho das ongs e dos governos federais e estaduais no sentido de incluir os deficientes na sociedade. Eu conheço muitos deficientes físicos que conseguiram realizações maravilhosas naquilo que se propuseram a fazer. O restaurante faz com que as pessoas normais possam interagir com as diferenças. Abraços!

Anônimo disse...

Depois do quanto disse o heitorzinho, já percebo que ninguém entendeu nada do quanto eu disse acima - acho que nem o blogueiro - meu ilustre amigo Hélio. O que eu quis dizer é que o portador de deficiência ou necessidade especial não deve ser medido por atividades mínimas que exercitam - caso da paraplégica em entrevista no programa da Globo. claro que ela teria de responder como fez, face à cretinice da pergunta. O que eu disse é que os portadores de necessidades especiais - com relevo para os deficientes da visão, devem ser considerados por outras atividades mais complexas - como, aliás, qualquer outra pessoa tida e havida por "normal". Se não bastou o caso do meu amigo de ibirá, vejam Professores, funcionários e/ou servidores estaduais e mesmo federais que - conquanto não enxergando (apenas com os olhos físicos, têm percepções outras que os colocam em pé de igualdade, claro que depois de transportos os limites normais decorrentes da própria necessidade especial. Mas, nada disso tem muita importãncia, até porque a vida é uma luta constante e cada um - de per si, deve buscar suas metas, contando naturalmente com as oportunidades que lhe venham a ser oferecidas ou disponibilizadas.