Carnaval família

 Foto: Folha da Região

Carnaval de Araçatuba -p 2012

Hélio Consolaro*

 

A cada ano, as festas vão nos ensinando mais sobre a vida: Natal, Carnaval, Páscoa. Não podemos ter a sensação de repetição só porque estamos mais idosos, nisso mora o desafio da renovação, de viver a cada momento como único, não apenas mais um dia.

Neste fim de semana, viveremos o carnaval. Por mais que as igrejas tentam eleger apenas o sagrado como forma correta de viver, o profano brota entre as gretas do chão impermeabilizado. Assim é o carnaval: natureza humana.

Hoje, há igrejas fazendo carnaval. Carnaval com Cristo, Carnaval da Fé, é a interação entre o sagrado e o profano. Não há estrutura que resista. Como canta Zeca Baleiro: “Mundo inteiro vai pirar/ Com o heavy metal do Senhor/ Heavy metal do Senhor/ Do Senhor! Do Senhor!”    

Quem viveu tempos passados, acorrentados pelo falso moralismo, por sermões retrógados de padres atemorizando seus fiéis, sabe que o carnaval era a válvula de escape, era o bordel invadindo ruas e salões. Todas as mulheres passavam a ser da vida.

“Quem se transfigurar de capeta e passar da meia-noite da terça-feira, terá a fantasia grudada no corpo e nunca mais se livrará dela.”  Essa frase demonstra mais ou menos como eram as homilias feitas aos gritos nas igrejas.

Hoje, Deus e capeta andam participando das leis do mercado. “No inferno, toca cover/ Das canções celestiais”. Enquanto isso: “De repente os santos falam/ Toca Deus um som maneiro/ E Deus fala / ‘Aguenta vou rolar/

Um som pesado’" (Zeca Baleiro).

O carnaval não tem mais o caráter devasso de antigamente. Já temos até o “carnaval família”, em que pais e mães levam as crianças para ver o destile, porque a televisão mostra coisas mais picantes.

Não é que a devassidão tomou conta de nossas vidas, a vida é que se tornou mais natural, menos repressora, as pessoas têm a liberdade de mostrar o que são todos os dias, sem precisar de máscaras tão rígidas.

O carnaval entrudo acabou. A bagunça geral era uma forma de extravasar. Em Araçatuba, ainda sobrou o desfile de escolas de samba. Compareça, vá até o recinto de exposições Clibas de Almeida Prado no domingo e na segunda-feira, às 20h. Leve seus filhos para verem um pouco da memória de nosso carnaval. Será bem mais tranquilo do que um ginásio de esportes lotado, um  estádio de futebol. Visitantes de outras cidades serão bem recebidos.

O céu é o telhado, não haverá portas trancadas,  sinalizadores e nem fumaça. Só não posso garantir segurança total porque não sou Deus, nem o seu contraditório, o diabo.      

*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor. Atualmente é secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP

Heavy Metal Do Senhor

O cara mais underground
Que eu conheço é o diabo
Que no inferno toca cover
Das canções celestiais
Com sua banda formada
Só por anjos decaídos
A platéia pega fogo
Quando rolam os festivais...
Enquanto isso Deus brinca
De gangorra no playground
Do céu com santos
Que já foram homens de pecado
De repente os santos falam
"Toca Deus um som maneiro"
E Deus fala
"Agüenta vou rolar
Um som pesado"
A banda cover do diabo
Acho que já tá por fora
O mercado tá de olho
É no som que Deus criou
Com trombetas distorcidas
E harpas envenenadas
Mundo inteiro vai pirar
Com o heavy metal do Senhor...
O cara mais underground
Que eu conheço é o diabo
Que no inferno toca cover
Das canções celestiais
Com sua banda formada
Só por anjos decaídos
A platéia pega fogo
Quando rolam os festivais...
Enquanto isso Deus brinca
De gangorra no playground
Do céu com santos
Que já foram homens de pecado
De repente os santos falam
"Toca Deus um som maneiro"
E Deus fala
"Agüenta vou rolar
Um som pesado"
A banda cover do diabo
Acho que já tá por fora
O mercado tá de olho
É no som que Deus criou
Com trombetas distorcidas
E harpas envenenadas
Mundo inteiro vai pirar
Com o heavy metal do Senhor
Mundo inteiro vai pirar
Com o heavy metal do Senhor
Mundo inteiro vai pirar
Com o heavy metal do Senhor
Heavy metal do Senhor
Do Senhor! Do Senhor!

Composição: Zeca Baleiro