Hélio Consolaro*
Também não sei como viver,
não me peça conselhos, garota. Apenas sei que a vida precisa ser vivida, não
importa se bem ou mal, à vista ou no cartão de crédito.
Às vezes, nós nos
perguntamos “por que isso aconteceu comigo”, como se fôssemos a mais fina das
criaturas. O problema de cada um está no
ego (essa divisão didática do cérebro), se achando muito importante. Se somos
seres humanos, “tudo pode acontecer comigo”. O bem e o mal fazem parte da
trajetória de cada um.
Nunca gostei, garota, de
rezas decoradas, repetidas. Nem o budismo com suas mantras me convenceu da
validade disso. A única oração que acho válida é esta: “Faça a sua vontade, Criador”. Tem aqui a submissão de sua criatura.
Não sou fatalista, pois
cada um, às cegas, pode construir parte de seu futuro,
mas aos poucos, conforme a idade avança, descubro que não somos tão diferentes
de outros seres vivos do planeta. Se eles são programados, irracionais, nós
também o somos, com alguns laivos de liberdade conquistada pelo cérebro.
Todos fazem parte da mesma
matriz, uma espécie está na outra e os humanos se arvoram em se dizer o topo da
evolução. Nas ações individuais e nas coletivas, somos sempre pretensiosos.
Então, garota, você não
será a primeira e nem a última a viver tais problemas. É que o cérebro tomou de
assalto o nosso corpo, por isso sofre junto com ele. Não há uma conversa entre
as partes, o cérebro manda e pronto.
Por isso, garota,
precisamos ser tinhoso com ele, como se fosse possível dialogar com o
carcereiro, não cair nas ciladas que arma para cada prisioneiro. Transforme o céu
cérebro em seu amigo. Se ele vier com a tristeza, ofereça alegria; se oferece o
abismo, pule no lago e tome um banho inesquecível. Faça como os poetas, embebede-o.
Há gente que já se
especializou em enganador de cérebro: padres, pastores, psicólogos, autores de
livros de autoajuda. Até inventaram remédios para que o cérebro deixe de ser
tão déspota.
Garota, estou aqui tentando
enganar o seu cérebro, um mau leitor. Diga a ele que só comete autoengano ao
ler as informações passadas por suas antenas (visão, audição, olfato, paladar, tato).
O cérebro é muito pretensioso.
Sei que é difícil para
você, garota, separar alma, cérebro, energia, tudo parece uma coisa só.
Desconfie de sua maça cinzenta, marota, cheia de armadilhas. Seja maior que
ele, por aí começa o caminho da saída de seus problemas. Acabei dando-lhe
conselhos. Este meu cérebro...
*Hélio Consolaro é
professor, jornalista, escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP.
Um comentário:
È, POIS É, HELIÃO, vc disse aí nao se amarrar em rezas repetidas; mas tudo na vida é repetição. E o que escreveu ai´está impregnado do Budismo de NITIREM (1222DC),QUE SOUBE ENCONTRAR NOS ENSINOS ORAIS DE SAKYAMUNI(700AC),estes passados de boca a boca,pelos seus discípulos,e escrito por alguns. Se você pesquisar sobre a filosofia de vida de Nitiren, vai enrriquecer,seu próximos artigos neste assunto . Abçs DêDê
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