Hélio Consolaro*
A avó chegou indignada contou
ao avô que a filha deles havia feito com o neto: “O Mauricinho está apaixonado
por uma Patricinha da classe. A mãe, nossa filha, em vez de cortar isso pela
raiz, providenciou uma rosa e ajudou a escrever o cartão que seriam entregues antes
de as crianças entrarem em sala de aula. Isso é coisa para uma mãe ensinar?”
O avô ouviu e permaneceu
quieto. E a avó, ofegante, continuou a história: “A nossa filha deixou o nosso
neto na escola e ficou espiando como iria acontecer a entrega. E o previsto aconteceu. A menina pegou a flor com o bilhete, jogou no chão e pisoteou os
dois sem piedade.”
A avó espiou o marido com o rabo do
olho, esperando alguma manifestação do avô. E ele continuou mudo e calado,
sabendo que alguma coisa ia sobrar-lhe daquela conversa. Continuou sem nenhuma
expressão facial de julgamento do fato. E ela continuou a história: “Mauricinho,
humilhado perante os colegas, correu ao banheiro da escola e chorou muito”. E
ao chegar em casa, comentou com a mãe: “Mãe (e chorou novamente), agora, só vou
me apaixonar, quando eu tiver 30 anos!”
Diante do silêncio do avô,
continuou: “Uma história linda”. E lascou uma perguntou de chofre: “Que você
achou do comportamento de nossa filha? Onde se viu ensinar aquele bebê a
namorar!” O avô, diante de tanta insistência, respondeu com evasiva: “Sei lá,
não tenho opinião sobre tudo. Hoje se ensina tudo”. Por causa disso, o casal avoengo
ficou uma semana sem conversar.
O avô correu ao banheiro e
chorou muito.
*Hélio Consolaro é
professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de
Araçatuba-SP
Um comentário:
nossa que texto lindo ameei.
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