Edição começa no dia 29 de agosto no Rio de Janeiro. Escritor, ilustrador e cartunista tem mais de 150 publicações e vendeu mais de 8 milhões de exemplares. Ao lado de Maurício de Souza, ele vai lançar um projeto online de estimulo à leitura
Alana Gandra Repórter da Agência Brasil Rio de Janeiro - 26 de agosto de 2013
Com mais de 150 publicações que venderam um total superior a 8 milhões de exemplares, o escritor, ilustrador e cartunista Ziraldo Alves Pinto é o grande homenageado da edição deste ano da 16ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro. Nascido em Caratinga (MG), no dia 24 de outubro de 1932, o filho da costureira Zizinha e do guarda-livros Geraldo, dos quais herdou o nome, teve seu primeiro desenho - um tatu, feito aos 6 anos de idade - publicado na seção infantil do Jornal de Minas, para felicidade dos pais.
Mais conhecido por suas obras voltadas ao público infantil, Ziraldo não se cansa de mencionar o carinho que recebe dos fãs de várias gerações em cada sessão de autógrafos, nas várias bienais das quais tem participado. Só nas dez últimas edições das bienais do Rio e de São Paulo, suas sessões de autógrafos receberam cerca de 1.500 pessoas cada. “A resposta é muito gratificante. É uma festa. O público para quem eu destino o meu trabalho é muito carinhoso comigo. E para quem gosta de carinho e tem essa carência gigantesca que eu tenho, isso é muito bom”.
Mas, para quem pensa que o público infantil sempre foi seu alvo, Ziraldo revela que escrever para crianças não foi uma escolha. “Foi um acidente. Mas é bom, porque dura”. Segundo Ziraldo, “qualquer cara de 50 anos para baixo me abraça” e, quando o assunto é tempo decorrido, ele fala da saudade que tem da Turma do Pererê e do Menino Maluquinho, personagens criadas por ele há muitos anos.
Só o Menino Maluquinho já virou peça, filme e, inclusive, uma ópera, dirigida por Karen Acioly, com música de Ernani Aguiar. Das crianças atendidas pela organização não governamental União Cristâ Feminina (UCF), de Campinas (SP), que desenvolve o Projeto Ziraldo, ele ganhou uma marionete que reproduz em miniatura o próprio Ziraldo e com o qual se diverte em seu estúdio, situado na Lagoa, bairro da zona sul do Rio. Ziraldo lamenta apenas que o seu “sósia” não seja “mais moreninho” como ele.
Sua primeira obra dedicada ao público infantil foi Flicts, publicada em 1969, que está completando este ano 44 anos de lançamento. O livro conta a história de uma cor rara, chamada Flicts, que sai pelo mundo procurando encontrar um amigo ou alguém que o aceite, pois se sente fraco e feio, sem a força do vermelho ou a paz que o azul transmite. O texto poético mostra às crianças que todas as cores transmitem sentimentos e emoções e que, mesmo diferente das demais, Flicts acabará encontrando o seu lugar no mundo.
Na 16ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, Ziraldo estará lançando, pela Editora Melhoramentos, cinco livros, dos quais ou é autor integral, coautor ou homenageado. O Menino que Veio de Vênus, por exemplo, é o sexto livro de uma coleção de dez obras em que ele conta a história dos meninos dos planetas. O compromisso assumido é “lançar um livro novo a cada ano”, disse, sorrindo.
Outra novidade é a publicação Os Haicais do Menino Maluquinho, em que ele usa haikais, que são poemas japoneses de três linhas que valorizam a concisão e a objetividade, para expressar observações do seu mais famoso personagem, que é o Menino Maluquinho, sobre temas diversos, como a natureza, a família, os amigos. “É uma forma perfeita para retratar a poética. É um suspiro”, comentou.
Com a escritora Anna Muylaert, Ziraldo ilustrou dois livros que serão apresentados na Bienal do Rio 2013. Em Adivinha Que Dia é Hoje, com textos adaptados por Anna, da série exibida na TV Brasil, Ziraldo retrata o Menino Maluquinho com 5 anos e 10 anos de idade, além da fase adulta. Tudo gira em torno do dia do aniversário do garoto. Já em O Menino que Tinha uma Panela na Cabeça, a dupla formada por Anna Muylaert e Ziraldo procura contar como o garoto se tornou o conhecido Menino Maluquinho. Para saber se atingiram seu propósito, só lendo o livro.
No álbum de capa dura Os Homens Tristes, dedicado aos adultos, os colaboradores mais chegados de Ziraldo, que são o pintor Paulo Vieira e o roteirista Gustavo Luiz Ferreira, reuniram anotações e desenhos do cartunista, feitos ao longo de 60 anos de trabalho. A publicação tem prefácio do poeta Ferreira Gullar.
No Pavilhão Verde do Riocentro, em Jacarepaguá, zona oeste da cidade, onde ocorrerá a Bienal do Rio, a filha do escritor, a cenógrafa Daniela Thomas, montou o Planeta Ziraldo, onde o público poderá interagir com o cartunista e ilustrador e tentar um autógrafo. Duas histórias em quadrinhos do autor serão lançadas também durante a Bienal pela Editora Globo, tendo como tema central as aventuras do Menino Maluquinho. São elas Maluquinho de Família e Maluquinho Pega na Mentira.
Os próximos projetos, adiantou Ziraldo, são terminar a série Meninos dos Planetas e “ocupar o espaço virtual com 64 anos de produção”. Ele já está começando a passar o conteúdo de suas publicações para as novas plataformas de linguagem que surgiram com as inovações tecnológicas. Em parceria com o também ilustrador e escritor infantil Maurício de Souza, ele ilustrou o livro O Reizinho do Castelo Perdido, que narra a história de um rei que, induzido por alguns súditos, acaba construindo um castelo no alto da colina e, com isso, se afasta do seu povo e das necessidades que ele apresenta.
Edição: Lana Cristina
Maurício de Souza e Ziraldo vão se unir em projeto online de estímulo à leitura
Maurício de Souza e Ziraldo, dois dos escritores e ilustradores de maior alcance com o público infantil, querem usar a internet para ampliar o número de leitores no país, por meio do método Kumon de aprendizagem. Esse método de ensino foi criado na década de 1950, no Japão, pelo professor de matemática Toru Kumon, e estimula o aluno a gostar de aprender e a se sentir seguro no processo de aprendizagem.
Ziraldo disse, em entrevista à Agência Brasil, que é preciso fazer algo diferente para que a leitura seja um hábito nacional. “Eu acho que se a gente não tomar providências para fazer um movimento agressivo para transformar o Brasil em um país de leitores, a gente vai ficar nesse rame-rame a vida inteira, botando todo ano uma legião de analfabetos no mercado”, disse o escritor e ilustrador que será homenageado na 16ª Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro, que será aberta no próximo dia 29.
Para ele, o ser humano só fica pronto depois que sabe ler, escrever e contar (a história que leu). “Não adianta ter os cinco sentidos e ser analfabeto”, argumentou. Ziraldo que acredita que ler dá autonomia às pessoas.
A ideia de lançar um método Kumon de leitura começou a ser alinhavada entre os dois ilustradores e consiste em usar suas personagens principais - a Mônica, de Maurício de Souza, e o Menino Maluquinho, de Ziraldo – em um programa de televisão educativo.
“Nós vamos inventar um jeito de usar o sistemaonline para poder fazer o brasileiro gostar de ler. É um experimento. Temos que juntar os dois caras que lidam com a criança no Brasil há mais tempo. O Maurício já sabe mexer com a televisão e eu vou explorar a competência dele”.
Para o criador do Menino Maluquinho, a escola brasileira não sabe ensinar as crianças a gostar de ler porque, em geral, as próprias professoras não foram habituadas a ler quando crianças. Ziraldo, no entanto, destaca que a educação no Brasil não chega a ser um problema. Por isso, o objetivo dele e do criador da Turma da Mônica, com o projeto do estilo Kumon, é colaborar para a formação de mais leitores no país. “Se o cara não lê, não escreve e não conta, ele não pode ser educado. Não tem condição”.
Edição: Lana Cristina
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