AGENDA CULTURAL

22.1.14

Os falsos e os reais problemas da economia

Luís Nassif
Ontem, o hit do Facebook foi uma entrevista da presidente do Magazine Luiza, Luiza Trajano, ao programa Manhattan Connection.
Não se trata de um programa propriamente jornalístico. Embora tenha alguns jornalistas experientes na bancada, não se exija dele o aprofundamento de outros programas da Globonews.
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Dois integrantes do programa, sem experiência com economia, insistiam em convencer Luiza de que o varejo estaria ou entraria em crise em breve.
O crédito estaria chegando ao limite, a inadimplência aumentando e haveria uma bolha de consumo prestes a explodir. Repetiram o que ouvem de supostos analistas nas páginas dos jornais e nas transmissões de rádio e TV.
A empresário foi objetiva. Está-se vivendo a era de ouro do varejo, com a explosão do consumo da classe C que aconteceu apenas nos últimos anos. Existem dezenas de milhões de pessoas vivendo com os  pais e querendo adquirir suas casas através do Minha Casa Minha Vida. E todas são futuras consumidoras de eletroeletrônicos, móveis etc. É mínimo o percentual de lares brasileiros com TV plana e outros eletrodomésticos. E a inadimplência no varejo é a menor em muito tempo.
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A rigor, mostraria apenas uma discussão entre palpiteiros e alguém do ramo.
Mas é significativo como eco dos bordões utilizados por parte da mídia.
Ao apontar falsos problemas, de um lado criam-se expectativas negativas que afetam a economia como um todo – especialmente as verbas publicitárias para o própria mídia, em um caso clássico de tiro no pé. De outro lado, tiram o foco da discussão dos problemas reais.
Dia desses, o ex-presidente do Banco Central Chico Lopes relatava conversas com empresários. Estava tudo ruim, perdido, sem perspectivas. Mas continuavam investindo porque, no caso deles, a indústria já estava com a capacidade instalada completa.
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Definitivamente, o problema da economia não é o varejo. É o desequilíbrio entre o poder de consumo do brasileiro e a falta de dinamismo da produção.
Quando esse desequilíbrio se amplia, é impossível manter o mesmo ritmo de crescimento. Aumentam as importações, os gastos com turismo externo, e o déficit nas contas externas. A redução na entrada de dólares pressiona as cotações e muitos investidores externos adiam seus investimentos, esperando a correção do câmbio.
Mais cedo ou mais tarde, esse desequilíbrio bate no mercado de trabalho.
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O país carrega quase 20 anos de políticas cambiais irresponsáveis, que desmontaram parte do parque industrial brasileiro. Apreciou-se o real e não se deu a contrapartida de melhoria do ambiente econômico.
Nos últimos dois anos, permitiu-se uma relativa recuperação do câmbio.
Como a economia não é ciência exata, parte dos analistas julga que a economia ainda não recebeu
todos os influxos dessa desvalorização cambial. E pode melhorar sem novos ajustes.
Outro grupo aposta para um futuro qualquer nova rodada de desvalorização, permitindo devolver alguma competitividade ao parque industrial para enfrentar a invasão chinesa.
São problemas reais, que não necessitam da contribuição de falsos problemas.

Olhar estrangeiro do NYT vê Brasil melhor que EUA

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Qual é a economia que corre melhor, a dos EUA cujo PIB acelera mas cria poucos empregos ou a do Brasil que abre vagas de trabalho acima da média global e aumenta a classe média, apesar de números macroeconômicos piores?; resposta do jornalista Joe Nocera para a pergunta que ele mesmo levantou favorece modelo brasileiro; em férias no Rio de Janeiro, o colunista do jornal The New York Times notou poder aquisitivo e distribuição de renda; de volta, ouviu economistas brasileiros mas não se convenceu do pessimismo deles; "O exemplo do Brasil dá origem a uma pergunta que não fazemos suficientemente neste país", registrou; "Qual é o ponto do crescimento econômico, se ninguém tem um emprego?"; elogio à política econômica verde-amarela começa pela dúvida: "O Brasil tem a resposta?"

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