Foto do jornal Folha da Região
Alcides Mazzini, em seu apartamento em Araçatuba, onde morava com a família |
Hélio Consolaro*
Conheci o Alcides Mazzini (ultimamente, Cid Mazzini) há
muito tempo, dos tempos da juventude, das bandas musicais da década de 60, mas
sempre foi um conhecimento meio distante. Ele era um astro e eu um zé ninguém.
Se no céu houver os dias da semana, já está comandando um
programa radiofônico chamado “Viva o sábado!”, dizendo que Araçatuba é a melhor cidade do mundo.
Nesta crônica não quero mentir, fazer do Mazzini após a
morte um perfil irreconhecível, conforme costuma ser os panegíricos em que a
família percebe bem que orador está mentindo: o falecido não era tudo aquilo.
Homenagear alguém sem loas é um desafio.
Alcides Mazzini fez parte do conjunto Corda e Voz
Alcides Mazzini fez parte do conjunto Corda e Voz
Também não desejo denegrir o morto, vou mesmo jogar luz em
seu lado bom que mais me chamava atenção na sua pessoa. Mazzini era responsável,
um cidadão exemplar, nunca deixou sua família desamparada.
Com o tempo, fomos nos aproximando, até sermos amigos mais
próximos, em conversas mais reservadas sobre a cultura de Araçatuba. Não é
desdouro, nem ele rejeitaria esta classificação, ou melhor, se orgulharia disto:
Cid Mazzini era um homem conservador que só tinha olhos para o retrovisor.
Não estou usando o adjetivo “conservador” no sentido
político, mas como postura de vida. O passado sempre fora melhor, o presente
nunca prestava, o futuro eram seus sonhos, o seu mundo ideal. Tive oportunidade
de conviver com ele em parcos momentos, na diretoria da Associação Cultural Amigos da Memória Histórica de Araçatuba. Tinha
propostas, sabia trabalhar coletivamente.
“Boa música” era aquela de que gostava, cuja seleção apresentava
no programa “Viva o Sábado!” da rádio Cultura. Se não gostava de tal gênero,
não era de dizer isso ao vivo, no microfone. Tecia seus comentários em rodas de
amigos e em artigos de jornal.
Música para Araçatuba, de Alcides Mazzini
Todos temos defeitos. Tenho o costume de dizer que gosto dos
meus, porque é por eles que me diferencio dos outros. Assim também era Mazzini.
Araçatuba sabia conviver com ele, entendê-lo, aproveitar-se de seu caráter de
sempre “ser algodão entre cristais”, de olhos pregados no retrovisor.
Outro dia eu disse que me recuso a mudar de Araçatuba,
porque os araçatubenses me entendem, conhecem minhas loucuras e dá uma
utilidade a elas. Graças à obsessão pelo passado do Mazzini é que o município
terá parte da memória preservada.
Como a Secretaria municipal de Cultura terá o “Ateliê
municipal Mildred Pacitti Rocha”, também teremos o “Museu do Som, Imagem e Comunicação Alcides Mazzini”, onde
ele guardou peças antigas do rádio araçatubense.
Daqueles objetos antigos de que tinha tanto apego, ficaram
todos aqui. Fique tranquilo, saberemos cuidar bem deles.
*Hélio Consolaro é professor,
jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP.
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