AGENDA CULTURAL

24.5.14

A mãe - Lydia Davis; Marcha forçada, Miklós Radnóti

A menina escreveu uma história. "Mas quão melhor seria se você escrevesse um romance", disse a mãe. A menina construiu uma casa de bonecas. "Mas quão melhor seria se fosse uma casa de verdade", disse a mãe.  A menina fez um travesseirinho para o pai. "Mas quão mais útil seria uma colcha", disse a mãe. A menina cavou um pequeno buraco no jardim. "Mas quão melhor seria se você cavasse um buraco grande", disse a mãe. A menina cavou um buraco grande e entrou nele para dormir. "Mas quão melhor seira se você dormisse para sempre", disse a mãe.

Tradução: Francesca Angiolillo
Publicado pela Folha de São Paulo, Ilustríssima, 04/05/2014

Lydia Davis é conhecida por escritos brevíssimos como este.

Reproduzi o miniconto neste blog porque gostei muito dele.

Marcha forçada
Miklós Radnóti (1909-1944)
Tradução de Paulo Schiller

  • Louco quem da terra morto se levanta e de novo se arrasta,
  • e com a dor do nômade movimenta tornozelos e joelhos,
  • e ainda assim se põe a caminho, como se alçado por asas,
  • e as valas o chamam em vão, não tem coragem de ficar,
  • e se você perguntar, por que não? talvez ele responda
  • que a mulher espera por ele e uma morte mais bonita, mais sábia.
  • Embora o crédulo esteja louco, porque lá sobre os lares
  • há muito apenas voam cinzas
  • a parede da casa desabou, o pé de ameixa se partiu,
  • e de medo é tormentosa a noite da terra natal.
  • Oh, se eu pudesse acreditar: que não é apenas no coração que eu levo
  • tudo que ainda vale a pena, e que existe uma casa à qual voltar;
  • se ainda existisse! e como em outros tempos na antiga varanda fresca
  • zumbisse a colmeia da paz, enquanto resfriava a geleia de ameixa,
  • e o silêncio do final de verão se banhasse ao sol nos jardins sonolentos,
  • em meio à folhagem frutas pendessem nuas,
  • e Fanni me esperaria loira diante da cerca vermelha
  • e lentamente escreveria sombra a lenta manhã, -
  • mas talvez ainda possa acontecer! A Lua está tão redonda!
  • Não prossiga, amigo, grite comigo! e vou me levantar!
BOR, 1944, 15 DE SETEMBRO 

Os marcadores marcam o início de cada verso.

SOBRE O TEXTO

MARCHA FORÇADA - poema de Miklós Radnóti

Miklós e Fanni
Durante a segunda grande guerra o poeta húngaro Miklós Radnóti (1909-44) foi detido no campo de concentração de Bor, localizado na atual Sérvia. Já perto do fim da guerra, quando os nazistas tiveram que fugir, Radnóti foi enviado em marcha forçada de volta para a Hungria. Mas não chegou ao seu país. Foi executado, como outros tantos, no caminho.
Fanni Gyarmati (1912-2014)

Quando seu corpo foi retirado de uma vala comum e exumado encontraram no bolso de seu casaco um caderno de notas. Os textos ali escritos foram publicados, mais tarde, por sua viúva, Fanni Gyarmati (1912-2014). Este é um desses poemas.

Reproduzido da Folha de São Paulo, 12/05/2014,  caderno Ilustríssima.

Esse poema nos apresenta a desgraça da guerra na vida de uma pessoa. Miklós teve força de espírito, diante de tanta  falta de compromisso com a vida e amargura, para compor um texto com tanta literatura.

Lydia 

3 comentários:

HAMILTON BRITO... disse...

Gostou? Uai, então não entendi nada.

HAMILTON BRITO... disse...

Agora sim. Ficou claro

HAMILTON BRITO... disse...

Agora entendi e tbém gostei