Hélio Consolaro*
A experiência de cada um revela a dificuldade de elogiar das
pessoas. Elogiar, para muitos constitui um momento extremamente desconfortável
e que exige um grande esforço para vencer a barreira que separa o elogio da
crítica destrutiva. Numa democracia, criticar é menos comprometedor, bem mais
fácil.
Alguns psicólogos chegam a dizer que o elogio é uma forma
agradável de servidão, porque estimula a pessoa a continuar fazendo as coisas
do mesmo jeito. Se uma professora elogia seu aluno, ele vai continuar com o
mesmo comportamento que foi objeto do elogio. Ele vai sempre fazer o melhor
para receber o elogio.
O elogio facilmente feito, principalmente no campo político,
chega às raias do puxa-saquismo. Prefeito, governador e presidente se contentam
com o silêncio da oposição, nunca conta com os elogios dos contrários, porque
quem se cala consente. Oposição silenciosa, governo bem-sucedido.
Embora haja uma tensão natural entre imprensa e poder
público, o jornalismo brasileiro exagerou nisso, transformou-a em guerra, levando
o ex-presidente Lula a dizer que ”imprensa não é partido político”. Basta ver o
que aconteceu com a Copa do Mundo.
Estou escrevendo isso por dois motivos. O primeiro foi o comentário
da colunista Célia Villela que elogiou o estado de conservação da avenida
Brasília de Araçatuba, mas em seguida acrescentou “mas é obrigação”. Quer elogiar
a prefeitura, mas teve a vergonha de fazê-lo.
O editorialista da Folha Região também teve a vergonha de
elogiar, quando Araçatuba recebeu o “Selo de Cidade Livre do Analfabetismo” do
Ministério da Educação por ter atingido o índice de 96,4% de alfabetizados.
Honraria entregue apenas a 45 cidades do Estado de São Paulo, totalizando 206
prefeituras do Brasil. O título do editorial era “Zerar o analfabetismo, uma
obrigação”.
Já estive do outro lado, sendo um dos cronistas mais
irônicos com o mundo político, mas nunca tive vergonha de elogiar. Sempre
escrevi, por exemplo, que José Serra foi um ótimo ministro da Saúde ao criar o
medicamento “genérico”, enfrentando a indústria farmacêutica, como também foi
ótimo Alexandre Padilha na criação do programa ”Mais Médicos”. Duas atitudes
corajosas.
Por mais que nosso olhar sobre alguém, sobre uma
administração, seja negativo, sempre encontramos coisas boas que merecem
elogios. E elogiar quando for necessário dá credibilidade às possíveis críticas.
Não podemos ser portadores mórbidos da crítica, nem do
elogio fácil. Quando não se quer elogiar, ou não pode fazê-lo, é melhor se
calar do que deixar expressa a vergonha de elogiar como ficou demonstrado nos
dois exemplos. A presença da conjunção adversativa (mas, porém, contudo, todavia) ou sua elipse deixa transparecer que o jornalista
está de rabo preso com a oposição.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.
Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP.
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