Hélio Consolaro*
Nessa Copa do Mundo (2014), a seleção brasileira de futebol
nos proporcionou grandes emoções. Contra o Chile, quase nos matou de tanta
tensão com a disputa sendo levada para os pênaltis; contra a Alemanha,
deixou-nos com vergonha.
A Copa continuou acontecendo em nosso país, sem a nossa
participação nos jogos. Que sensação estranha. Nem em 1950 houve isso, porque
perdemos na final enfrentando o Uruguai, lá no Maracanã. Se o esporte é uma
simulação da guerra, perdemo-la, nossos soldados amarelaram.
Perder nunca é agradável, mas faz parte do jogo. Na
terça-feira de 8/7/2014, esse croniqueiro só assistiu ao primeiro tempo da partida
entre Brasil e Alemanha, não suportei ver o massacre. Não fui diferente dos
torcedores que abandonaram o Mineirão, gosto de futebol em si, mas a paixão
superou a neutralidade.
Quando um time leva uma goleada de repente, como ocorreu com
a seleção brasileira, se parece com aqueles momentos de nossa vida em que a
casa cai. Tudo parecia maravilhoso, não percebíamos que o cupim estava
corroendo tudo, deixando apenas a casca da madeira para manter as aparências.
Há donos rosnando para o seu cachorro da raça pastor alemão,
outros, tratando-o com mais respeito. O bicho é bravo! Na decisão de domingo,
serei obrigado a torcer pela Argentina, afinal, é a seleção de um país
latino-americano.
Os papas Bento 16 (alemão) e Francisco (argentino) estarão
de lado opostos. Perfilarei ao lado do Chiquinho sorridente. Já pensou se os
dois resolverem descer no Maracanã em seus helicópteros? Será o Chico Bento.
O Brasil perdeu em campo, mas ganhou fora dele, mostrando
nossa capacidade de organização. Nosso povo foi hospitaleiro, estádios muito
bem construídos, aeroportos funcionando. Além disso, nossa polícia desbaratou a
máfia da Fifa, coisa que a Scotland Yard não havia conseguido, apesar de ter
tentado. Já estamos exportando modelo de administração pública.
Construímos 12 coliseus em pouco tempo. A mídia pessimista,
comandando a oposição política, previa que o Brasil ia se sair bem em campo e
deixar uma péssima imagem na organização da copa. A revista Veja, quando o
então presidente Lula conseguiu trazer a sede da Copa do Mundo para o Brasil,
soltou na capa que os estádios só estariam prontos em 2038. Não ia ter Copa.
Bem na fita ficou o Neymar, saiu como herói. O cartão
amarelo ao Thiago Silva dado pelo juiz no jogo entre Brasil e Colômbia foi
providencial para o jogador, porque cumpriu suspensão no jogo com os alemães. Certamente,
o seu anjo da guarda interferiu para que ocorresse isso.
Por isso, caro leitor, não se queixe e nem blasfeme quando
algo ruim lhe aconteça, como aquilo que houve com Neymar: trincar uma vértebra.
“Pô! Estou fora da Copa! Que desgraça!”
Há males que vêm para o bem. O atleta não jogou, isentou-se
da culpa da derrota vergonhosa e consolidou a figura de herói. “Se tivesse
jogado, seria diferente?”
Então, caro leitor, não sei se fiz comentários mais
criativos do que os jornalistas esportivos, mas a vida continua. Até 2018, na
Rússia. Espero que estejamos vivos para experimentar novas emoções.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.
Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
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