AGENDA CULTURAL

10.7.14

Papas se enfrentam no Maracanã


Hélio Consolaro*

Nessa Copa do Mundo (2014), a seleção brasileira de futebol nos proporcionou grandes emoções. Contra o Chile, quase nos matou de tanta tensão com a disputa sendo levada para os pênaltis; contra a Alemanha, deixou-nos com vergonha.

A Copa continuou acontecendo em nosso país, sem a nossa participação nos jogos. Que sensação estranha. Nem em 1950 houve isso, porque perdemos na final enfrentando o Uruguai, lá no Maracanã. Se o esporte é uma simulação da guerra, perdemo-la, nossos soldados amarelaram.

Perder nunca é agradável, mas faz parte do jogo. Na terça-feira de 8/7/2014, esse croniqueiro só assistiu ao primeiro tempo da partida entre Brasil e Alemanha, não suportei ver o massacre. Não fui diferente dos torcedores que abandonaram o Mineirão, gosto de futebol em si, mas a paixão superou a neutralidade.

Quando um time leva uma goleada de repente, como ocorreu com a seleção brasileira, se parece com aqueles momentos de nossa vida em que a casa cai. Tudo parecia maravilhoso, não percebíamos que o cupim estava corroendo tudo, deixando apenas a casca da madeira para manter as aparências.

Há donos rosnando para o seu cachorro da raça pastor alemão, outros, tratando-o com mais respeito. O bicho é bravo! Na decisão de domingo, serei obrigado a torcer pela Argentina, afinal, é a seleção de um país latino-americano.

Os papas Bento 16 (alemão) e Francisco (argentino) estarão de lado opostos. Perfilarei ao lado do Chiquinho sorridente. Já pensou se os dois resolverem descer no Maracanã em seus helicópteros?  Será o Chico Bento.

O Brasil perdeu em campo, mas ganhou fora dele, mostrando nossa capacidade de organização. Nosso povo foi hospitaleiro, estádios muito bem construídos, aeroportos funcionando. Além disso, nossa polícia desbaratou a máfia da Fifa, coisa que a Scotland Yard não havia conseguido, apesar de ter tentado. Já estamos exportando modelo de administração pública.

Construímos 12 coliseus em pouco tempo. A mídia pessimista, comandando a oposição política, previa que o Brasil ia se sair bem em campo e deixar uma péssima imagem na organização da copa. A revista Veja, quando o então presidente Lula conseguiu trazer a sede da Copa do Mundo para o Brasil, soltou na capa que os estádios só estariam prontos em 2038. Não ia ter Copa.  

Bem na fita ficou o Neymar, saiu como herói. O cartão amarelo ao Thiago Silva dado pelo juiz no jogo entre Brasil e Colômbia foi providencial para o jogador, porque cumpriu suspensão no jogo com os alemães. Certamente, o seu anjo da guarda interferiu para que ocorresse isso.

Por isso, caro leitor, não se queixe e nem blasfeme quando algo ruim lhe aconteça, como aquilo que houve com Neymar: trincar uma vértebra. “Pô! Estou fora da Copa! Que desgraça!”

Há males que vêm para o bem. O atleta não jogou, isentou-se da culpa da derrota vergonhosa e consolidou a figura de herói. “Se tivesse jogado, seria diferente?”

Então, caro leitor, não sei se fiz comentários mais criativos do que os jornalistas esportivos, mas a vida continua. Até 2018, na Rússia. Espero que estejamos vivos para experimentar novas emoções.


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP

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