Faleceu no dia 17/08/2016
Professora Adelaide Dalla Martha e seu aluno Hélio Consolaro |
Hélio Consolaro*
Na manhã de quinta-feira, peguei meu pangaré motorizado,
convidei o Foquinha com um táblete para fotografar o encontro e fomos visitar uma pessoa muito querida: Dona
Adelaide. Ela foi minha professora do antigo 2.º ano primário, nos idos de
1958, no 4.º Grupo Escolar Francisca de Arruda Fernandes, bairro Santana,
Araçatuba.
O leitor de outras cidades pode me questionar dizendo que só
escrevo sobre Araçatuba. Normal, muito normal, porque foi nela que conheci o
mundo e passei a ser gente. Meus pais são araçatubenses também, então, a minha
aldeia é o cenário de minhas narrativas. Sou capiau de legítima linhagem.
Dona Adelaide Dalla Martha me disse, durante a conversa,
várias vezes a mesma frase:
- Que saudade daquele tempo, menino.
Era o encontro da ex-professora, com 93 anos, com o ex-aluno
de 65. A saudade era muita, porque os tempos eram outros, tínhamos ao nosso
lado os amigos, as pessoas queridas. E ela vivinha, esperando que Deus encontre
a sua ficha lá céu, mas ele displicente, diz:
- Deixe a Adelaide, ela está muito bem!
Para mostrar que seu ex-aluno se meteu a escrever,
deixei-lhe dois de meus livros que serão dados a sua bisneta querida. Dona
Adelaide me falou que eu podia, acreditei, dei alguns passos a mais.
Eu me lembro mais dela, porque a professora lida com muitos
alunos. Eu era apenas um garoto tabaréu, que andava 10 km por dia na caminhada escolar
de uma estrada de terra do bairro Cafezópolis, a atual rua Aviação e seu
prolongamento até o rio Tietê.
Não havia transporte escolar, educação não era um direito de
todos, pobre não tinha a proteção do poder público. O único protetor era Deus.
- A senhora se lembra que ia à escola de charrete para
lecionar?
A filha Vívian, que nos fazia companhia na sala e
participava da conversa, se lembrava de que sua maior alegria era ir de
charrete até a escola, acompanhando a sua mãe.
Dona Castorina, a que batia o sino da escola para a alegria
e a tristeza; Dona Doquinha, a servente. Professor Darcy Fontanelli, sempre de terno,
era o diretor da escola. Dr. Célio Deodato foi o meu primeiro dentista, por ele
conheci que os dentes precisavam ser cuidados. Dona Lucila Ortiz, Maria Antônia
Guerreiro, Eurides Esgalha, Delphina, outras professoras.
Assim, enumeramos os funcionários da escola nesse encontro matinal e friorento. Ela se lembrou de que havia lecionado por cinco anos em Lavínia, no início do seu magistério, década de 40.
Assim, enumeramos os funcionários da escola nesse encontro matinal e friorento. Ela se lembrou de que havia lecionado por cinco anos em Lavínia, no início do seu magistério, década de 40.
Quando Dona Adelaide se aposentou, contou Vívian, ela chorou
por um ano com saudade da escola e dos alunos. Isso há 38 anos. É ainda uma
mestra.
A minha visita foi uma forma de dizer a Dona Adelaide “muito
obrigado” por ter participado de minha educação, me ensinado as primeiras letras.
Uma forma de dizer “eu te amo, professora”.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor.
Secretário municipal de Cultura de Araçatuba
3 comentários:
Que crônica linda, Consa. Parabéns pela homenagem à sua ex-professora. Uma aula de gratidão e solidariedade...
Comentário mandado por e-mail:
Boa tarde, Hélio,
Peço desculpas por não entrar em contato antes,
mas ficamos muito felizes com a singela homenagem que
voce fez para minha mãe, não imagina como ela ficou feliz
e emocionada ao ler a crônica.
Me pediu para te dizer que adorou e agradecer muito pelo seu carinho.
Muito obrigada e que Deus te abençoe sempre.
Abraços,
Vivian e Adelaide Dalla Martha
Olha consolaro vamos trabalhar para Araçatuba melhorar estamos todos juntos com voce não deixa psdb pdt ganhar
Postar um comentário