Hélio Consolaro*
Não sei, caro leitor, se você passou por essas experiências
que vou contar. Em caso afirmativo, com certeza, vai concordar com este
cronista.
Há três coisas na vida cuja troca é dolorosa,são quase um
recomeço de vida. Deixam-me com os nervos à flor da pele.
Trocar o computador por exemplo. Hoje, está um pouco mais
simples com o aplicativo de arquivo nas nuvens, mas assim mesmo ainda é uma
tarefa difícil.
Com vários aplicativos instalados, pagos, por exemplo, a
troca de máquina causa transtornos. Às vezes, tolero a lerdeza da máquina
porque não quero passar por apuros de experiências anteriores. A troca de
celular está no mesmo nível de dificuldades. Se o usuário não teve cuidados no
registro de sua agenda, também terá sérias dores de cabeça.
Registrar os endereços nas nuvens ajuda, evita a perda de
números de telefones de gente importante em sua vida, nos seus negócios.
A outra troca estafante é a de carro. Transferência de
seguro, legalização de propriedade, colocar os acessórios indispensáveis à sua
vida de motorista, licenciamento, pagamento de impostos. Meu carro pode ser
velho, mas não dispenso alarme, trava eletrônica, suspensão remota dos vidros,
aparelho de som. Comecei com um fusca, mas paulatinamente fui me acostumando
com as mordomias.
Atualmente, ar condicionado no carro é uma necessidade. Não
precisa correr muito, nem ser representante de minha posição na sociedade:
quero carro útil, prático, com certo conforto. Afinal, sou um sexagenário, está
na hora de gozar de alguns confortos.
A próxima troca complicada, não sei se o caro leitor passou
por isso, é trocar de mulher. Não vou abordar a troca de homem, porque sou
hétero. Vamos supor que os dois são dois descamisados, separam-se apenas os
tarecos. Isso é meu, não é, você está me roubando. Qualquer coisinha é motivo
de baixaria.
Há complicação burocrática na separação de filhos. A briga
acaba no fórum, porque se houvesse maturidade, talvez nem haveria separação. O
bem vira bens. Até o livro de Neruda, como canta Vinícius de Morais, entra na
dança. Tudo machuca.
Trocar, mudar, caro leitor, sempre gera incômodos,
estranhamentos, mas precisamos fazê-los. Avançar em nossas posições, trocar de
mentalidade, aliados e adversários novos. Já até me disseram, uma forma de
consolo, que se adaptar às mudanças é sinal de inteligência. Viver
apaixonadamente.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor.
Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
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