Um conselho reunido |
Hélio Consolaro*
Criou-se uma falsa polêmica em Brasília em torno dos
conselhos na administração federal, como se eles não já funcionassem nas
esferas municipais e estaduais em todo o Brasil. Como afirma o deputado Henrique Fontana (PT): “Não podemos
criar um falso conflito entre a democracia representativa e a direta, uma vez
que uma não anula a outra, ambas se complementam, se fortalecem”.
Além disso, a Carta Magna de 1988 afirma: “Todo o poder
emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente,
nos termos desta Constituição”. Os conselhos fazem parte da democracia direta.
Em 13 de junho de 2013, quando grande multidão foi para a
rua, a população manifestou a vontade de querer participar mais dos caminhos
políticos da nação. A presença dos conselhos é um canal efetivo de
participação, de democracia direta. Em Araçatuba, por exemplo, temos até a Casa
dos Conselhos, onde eles se reúnem. Alguns são consultivos, outros
deliberativos e há também os gestores.
Como indica a Prefeitura de Votorantim em seu site: os
conselhos na administração pública, destituídos de personalidade jurídica,
constituem um mediador entre população e o governo, com intuito de formular
políticas públicas, que irão atender necessidades sociais. Eles são instrumentos
da democracia participativa, pois desloca o poder de formular as políticas públicas
para os conselhos. Um dos papéis dos conselhos é o de trazer para dentro do governo,
de forma regulada, problemas latentes na sociedade.
Duplo desafio, o gerencial e o político: as análises sobre
os conselhos têm demonstrado que a institucionalização destas
instâncias de debate e formulação de políticas públicas inaugurou as novas
formas de gestão nunca antes experimentadas. São processos relativamente recentes,
introduzindo inovações e impactos diversos.
Os conselhos são mecanismos de interlocução
permanente entre governo e sociedade civil, que vêm ampliando e aperfeiçoando
sua atuação, auxiliando a administração no planejamento, orientação,
fiscalização e julgamento nas questões relativas a cada área temática.
Na construção dessa relação, há um duplo desafio: a dimensão
política (composição dos conselhos e representatividade) e a dimensão gerencial
(bom entendimento da administração pública, ou seja, conhecer processos,
competências, dinâmica para tomada de decisão e para implementação de políticas
públicas, de forma a construir um ambiente propício para negociações).
Câmara de Deputados rejeita o decreto presidencial nº 8.243/14,presidenta Dilma Rousseff, que simplesmente organiza as instâncias de participação social que já existem no âmbito do Governo Federal. |
Gestão Democrática e
Participativa: Bernardo Kliksberg, diretor da Iniciativa Interamericana de
Capital Social, Ética e Desenvolvimento do BID e assessor especial da ONU,
UNESCO, UNICEF e OPS, define quais devem ser os princípios de uma gestão democrática
e participativa:
Caráter público:
conter os interesses de todos, abarcar o arco completo das dimensões da vida
comum e da organização coletiva, ser transparente nas decisões, no oferecimento
das informações, na alocação de recursos, possibilitar o controle social, de
forma efetiva, por parte de todos os segmentos da sociedade;
Caráter democrático:
abertura de meios e instrumentos para que haja acesso às informações,
fortalecimento das organizações de representação popular, participação adequada
nas decisões e no poder em todas as instâncias e níveis, respeito ao
pluralismo;
Caráter ético: que estimula laços fortes entre a
administração e seu público, que estimule os valores democráticos, que assegure
responsabilidades, que estabeleça regras para o comprometimento individual, que
oriente a gestão pela relevância social e pelos critérios da equidade;
Caráter de
eficiência: que assegure a realização e valorização dos concursos, que
garanta a competência com avaliações periódicas, que estimule um novo relacionamento
entre políticos e técnicos e que tenha compromisso com o desenvolvimento
econômico, político e cultural.
Neste momento pós-eleitoral, foi um erro a Câmara Federal rejeitar decreto presidencial nº 8.243/14, que simplesmente organiza as instâncias de participação social que já existem no âmbito do Governo Federal. está cheio de gente magoada com a derrota em
todos os partidos. Esperemos que os senadores sejam mais ajuizados.
*Hélio Consolaro é professor, jornalista, escritor.
Secretário municipal de Cultura de Araçatuba-SP
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