Hélio Consolaro*
Meus pais sempre me
perguntavam, minha mãe ainda me pergunta, sobre a vida, gostavam de filosofar, pois
sou o primogênito, o primeiro a avançar
nos estudos na casa. Até parecia um
prova, uma sabatina, para verificar o avanço do filho nos estudos.
E eu, no alto do pedestal da
pouca idade, respondia com certeza e convicção a tudo que eles me perguntavam. Amarrávamos
discussões homéricas, chegando à grosseria do excesso de racionalismo. As
dúvidas de meu pai foram sepultadas com ele.
Outro dia, minha mãe com 88 anos e eu com 66, mãe e filho na
terceira idade, conversávamos. Ela, caturra, morando viúva numa casa, ainda com
interrogações sobre a vida.
Recriminou minhas
extravagâncias, como sempre fez, para que eu vivesse muito, sendo que ela há
pouco reclamava que não estava aguentando tantos anos nas costas, achando que
Deus havia se esquecido dela.
E eu reticente nas respostas,
às vezes, respondendo com um resmungo. Sem o prazer antigo dos questionamentos.
Até que ela observou:
-Você não me responde mais
bonito como antigamente, filho!
-É a idade, mãe, a vida vai
ensinando... A gente descobre que a verdade não mora num lado só.
- Pois
é, eu não aprendi tudo... Continuo com muitas dúvidas.
As dúvidas dela são por
querer saber mais, ávida de respostas, apesar da provecta idade. As minhas são de um cético, de um São Tomé.
As minhas certezas foram
carregadas pela enxurrada do tempo, a viagem das águas não responde a tudo, mas não se esquece de nada. Deixa os que se
consideram sábios esfolados, céticos.
*Hélio Consolaro é professor,
jornalista e escritor. Secretário
municipal de Cultura de Araçatuba-SP
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