AGENDA CULTURAL

15.2.15

Certeza e convicção



Hélio Consolaro*

Meus pais sempre me perguntavam, minha mãe ainda me pergunta, sobre a vida, gostavam de filosofar, pois sou o primogênito, o  primeiro a avançar nos estudos na casa.  Até parecia um prova, uma sabatina, para verificar o avanço do filho nos estudos.

E eu, no alto do pedestal da pouca idade, respondia com certeza e convicção a tudo que eles me perguntavam. Amarrávamos discussões homéricas, chegando à grosseria do excesso de racionalismo. As dúvidas de meu pai foram sepultadas com ele.

Outro dia, minha  mãe com 88 anos e eu com 66, mãe e filho na terceira idade, conversávamos. Ela, caturra, morando viúva numa casa, ainda com interrogações sobre a vida.  

Recriminou minhas extravagâncias, como sempre fez, para que eu vivesse muito, sendo que ela há pouco reclamava que não estava aguentando tantos anos nas costas, achando que Deus havia se esquecido dela.

E eu reticente nas respostas, às vezes, respondendo com um resmungo. Sem o prazer antigo dos questionamentos. Até que ela observou:

-Você não me responde mais bonito como antigamente, filho!

-É a idade, mãe, a vida vai ensinando... A gente descobre que a verdade não mora num lado só.

- Pois é, eu não aprendi tudo... Continuo com muitas dúvidas.

As dúvidas dela são por querer saber mais, ávida de respostas, apesar da provecta idade.  As minhas são de um cético, de um São Tomé.

As minhas certezas foram carregadas pela enxurrada do tempo, a viagem das águas não responde a tudo,  mas não se esquece de nada. Deixa os que se consideram  sábios esfolados, céticos.
  


*Hélio Consolaro é professor, jornalista e escritor. Secretário  municipal de Cultura de Araçatuba-SP

Nenhum comentário: